Poltrona Séries: Um Dia/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Um Dia/Cesar Augusto Mota

Adaptar um best-seller é sempre um desafio para os produtores de conteúdo, principalmente os voltados para o audiovisual. O romance ‘Um Dia’ (One Day), de David Nicholls, contou com um longa metragem lançado em 2011, protagonizado por Anne Hathaway e Jim Sturgess, mas não foi tão bem recebido pelos críticos e pelo público.  Em 2024, temos uma série homônima em formato de minissérie com Ambika Mod e Leo Woodall na pele dos protagonistas. Será que desta vez deu certo?

Durante os 14 episódios, acompanhamos a jornada de Emma Morley (Mod) e Dexter Mayhew (Woodall), que se conheceram na noite da formatura da faculdade, em 15 de julho de 1988. Ao longo dos episódios, ambos estão um ano mais velhos e retratados sempre na mesma data, vivenciando várias alegrias e decepções, tudo retratado em um período de vinte anos. Apesar dos caminhos separados, cada reencontro significa uma nova descoberta e aprendizado para ambos.

Na medida em que os episódios passam, é possível sentir as complexidades de relacionamentos e os altos e baixos da vida, e o recurso utilizado pelos produtores da série em revisitar os protagonistas no mesmo dia a cada ano possibilita isso, bem como a compreensão sobre a autodescoberta e todo o processo de amadurecimento pelos quais todos enfrentam na vida. A minissérie é recheada de emoções, reviravoltas e desafios pelos quais os personagens-centrais se deparam para vencer e serem bem-sucedidos, gerando bastante engajamento entre os espectadores, que torcem pela felicidade dos dois.

As atuações de Mod e Mayhew são convincentes e excepcionais, adicionando realismo e profundidade aos protagonistas. Há uma abordagem sensível no tocante à amizade, amor, amadurecimento e autodescoberta. Quem acompanha a história pela primeira vez e não conheceu a obra literária de Nicholls irá se emocionar e apaixonar pela narrativa, bem como terá uma experiência memorável.

‘Um Dia’ traz uma narrativa bem estruturada, personagens cativantes e importantes lições sobre amadurecimento e os desafios que a vida adulta proporciona. Vale conferir.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Um Dia/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Um Dia/ Cesar Augusto Mota

Quem acorda desde cedo para trabalhar e cuida de uma família numerosa tem dias regados a milhares de emoções, não é mesmo? E o que você acharia se essa rotina fosse reproduzida na tela grande para causar a impressão de que as ações de prolongam por dias e meses, mas na verdade tudo ocorre em apenas um dia? Um Dia’, filme húngaro de 2018 e sob a direção de Zsófia Szilágyi, apresenta essa sequência com muita sensibilidade e para causar bastante comoção a quem for assistir.

Anna (Zsófia Szamosi) é uma mãe dedicada, que divide sua rotina de trabalho como professora para cuidar dos três filhos pequenos, além das tarefas domésticas com o marido Szabolcs (Leo Füredi). O que poderia ser muito comum ao espectador e até banal se transforma em algo mais intenso e profundo na medida em que notamos um ar de ansiedade e angústia em Anna para vencer suas tarefas diárias, e esse tom perturbador graças à câmera colada à seu rosto e acompanhando sua movimentação pelos cenários.

O que dá o tom da trama, mesmo que ela não apresente tantos conflitos, é o conjunto de expressões faciais de Anna, com olhar distante e sensação de frustração e impotência, mesmo que o semblante fechado possa significar calma. Anna passa não só por um frenesi causado pela enorme quantidade de atividades, mas por uma séria crise de seu casamento e a sensação de não ter para onde correr, causando muita angústia no público, que compra seus sentimentos e as situações que enfrenta.

O mérito da diretora Zsófia Szilágyi é abordar com esmero os dilemas e as sensações vividas em um cotidiano marcado pela agilidade e ânsia por resultados imediatos, além de uma sociedade cada vez mais consumista e exigente. Valores morais, matrimoniais e os princípios educacionais são também bem abordados, com a apresentação de uma mãe carinhosa para com seus filhos, mas enérgica quando necessário, além da importância do papel do pai no seio familiar. Se no matrimônio o marido de Anna tem condutas questionáveis, ele exerce muito bem sua função de chefe de família.

Um longa sensível, comovente e que rompe o trivial. ‘Um Dia’ é um espelho do que é o papel de mãe, de ser capaz de realizar uma série de tarefas, mas sem perder o foco.

Cotação: 4/5 poltronas.

Literacine: Três livros que são melhores que os filmes/Anna Barros

Literacine: Três livros que são melhores que os filmes/Anna Barros

Retomamos hoje, dia 21 de novembro, a coluna Literacine, que tanto tempo foi capitaneada tão bravamente pela querida Arita Souza, do Dobradinha Literária.E vamos voltar em grande estilo. Listaremos três livros que superaram os filmes que deles foi inspirado.

3- O primeiro livro que é bem melhor que o filme de mesmo nome é Se Eu Ficar. A história parece algo adolescente ao falar de um amor entre uma musicista e um aspirante a astro de rock mas lida com temas muito adultos como coma, hospital, a aceitação ou não da morte, perdas e como a vida de alguém pode mudar de uma hora para a outra. O livro é enxuto e disseca toda a vida de Mia e mostra com clareza como o acidente  de carro que vitima sua família, menos ela, que sobrevive, a afeta de tal maneira que pode até impedir que ela sobreviva. A trama também explora esse limbro que alguns cientistas já provaram que possa existir quando a pessoa fica entre a vida e a morte.

Há também uma continuação que é Pata Onde Ela foi. Os livros são escritos por Gayle Forman. Se Eu Ficar nos leva à reflexão e é muito bem elaborado, prendendo a nossa atenção do início ao fim. Também fala das relações familiares e do que realmente vale a pena na vida porque ela é muito curta. O sentimento de família que envolve Mia e todos os seus parentes é cativante. Recomendo ler antes de ver o filme. O filme é aquém mas vale também.

 

2- O segundo é A Menina Que Roubava Livros. Para quem ama História, como eu, é parada mais que obrigatória. Apesar do livro ser longuíssimo e você ter que ler em doses homeopáticas para não se perder no fio condutor da história, é bem melhor que o filme de mesmo nome.

Durante a Segunda Guerra Mundial, uma jovem garota chamada Liesel Meminger sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba. Ajudada por seu pai adotivo, ela aprende a ler e partilhar livros com seus amigos, incluindo um homem judeu que vive na clandestinidade em sua casa. Enquanto não está lendo ou estudando, ela realiza algumas tarefas para a mãe e brinca com o amigo Rudy.

Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em ‘A Menina que Roubava Livros’, livro há mais de um ano na lista dos mais vendidos do ‘The New York Times’.

Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, ‘O Manual do Coveiro’. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.

E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de rouba-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.

Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora. Um dia todos irão conhece-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena.

Também recomendo ler antes de ver o filme.

1- O campeão é Um Dia em que o livro é infinitamente superior ao filme. O livro é simplesmente fantástico e um dos melhores que li na vida. A película deixa a desejar mas me marcou em vários momentos de minha vida. Toda as vezes que dava no Telecine, acontecia algo na minha vida particular. E Anne Hathway e Jim Sturgess são marcantes nos papéis de Emma e Dexter.

 

Eu devorei o livro em três dias. Foi um presente realmente muito especial. Já tinha vontade de conhecer a Escócia e me deu mais vontade ainda depois que  li o livro porque eles se conhecem na Universidade de Edinburgo na festa de formatura de ambos. É uma ode à amizade. Eu namorei um rapaz que nem era tão meu amigo assim, como Dex e Emma, mas como há traços da personalidade dele em Dexter, lembrarei para sempre com carinho do personagem e do livro.

Um Dia traz muitos questionamentos, não só sobre a amizade, mas sobre a conviência, projetos de carreira, traição e como ás vezes nos colocamos em relacionamentos que não darão em nada para não ficarmos sozinhos. Essa última situação acontece com Emma. Dexter, não. Mesmo com fama de playboy, acaba se casando com a mulher que está apaixonado, sem saber que sempre amou Emma. E quando eles finalmente se acertam, após Emma arrumar um namorado francês, o cenário é nada mais, nada menos, que Paris, que encanta a todos e é uma das cidades mais românticas do mundo.

Dexter Mayhew e Emma Morley se conheceram em 1988. Ambos sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar um no outro.

Os anos se passam e Dex e Em levam vidas isoladas – vidas muito diferentes daquelas que eles sonhavam ter. Porém, incapazes de esquecer o sentimento muito especial que os arrebatou naquela primeira noite, surge uma extraordinária relação entre os dois.

Ao longo dos vinte anos seguintes, flashes do relacionamento deles são narrados, um por ano, todos no mesmo dia: 15 de julho. Dexter e Emma enfrentam disputas e brigas, esperanças e oportunidades perdidas, risos e lágrimas. E, conforme o verdadeiro significado desse dia crucial é desvendado, eles precisam acertar contas com a essência do amor e da própria vida.

O livro é imperdível. O filme, dispensável. Mas mesmo quando releio trechos de Um Dia lebro de Anne e Jim. Não tem como não associá-los porque eles incorporam os personagens de maneira fofa e agradável.