Poltrona Cabine: Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá/Cesar Augusto Mota

É inegável o papel social e influência que o cinema exerce na vida das pessoas, seja pela transmissão de mensagens, valores e a contagem de histórias como sinônimo de legado e espelho de uma nação. O documentário “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá”, de Sueli Maxakali, retrata a jornada de reencontro da cineasta com seu pai, Luiz Kaiowá, de quem foi separada ainda pequena no período da Ditadura Militar.

A obra se inicia com a narração de Sueli, de forma sóbria, apresentando cada membro de sua família. Ao falar do pai, relatou um episódio melancólico e que deixou cicatrizes, como o forçado afastamento dele por soldados para Teófilo Otoni, interior de Minas Gerais, permanecendo por lá por quarenta anos. Ele só se reencontrou com a família graças ao trabalho persistente da cineasta por meio do cinema, para relembrar uma parte triste de nosso país e a constante luta dos povos, principalmente os indígenas, por trabalho, moradia e liberdade.

A abordagem sensível que o filme pede aliada à naturalidade das palavras e dos gestos faz o espectador sentir afeto pelos personagens e se encaixar no contexto e no lugar deles diante de lembranças tão terríveis. Se não há muitas interações entre os protagonistas, o ambiente e as palavras ditam a história, que se desenrola em um ritmo cadenciado, dando tempo para o público acompanhar e sentir tudo o que a comunidade indígena Kaiowá sentiu e passou durante quatro décadas.

O uso de poucos recursos para filmar e as tomadas com pouca visibilidade imprimem uma certa simplicidade ao filme e autenticidade às histórias contadas pelos indígenas Kaiowá. Assim como ocorreu com “Ainda Estou Aqui”, o documentário de Sueli Maxakali não só relembra a página mais triste e sangrenta de nossa história como o legado deixado pelos ovos indígenas e a necessidade de deixá-lo vivo para futuras gerações.

Uma importante experiência pela qual o público brasileiro precisa passar, alguns que viveram durante a ditadura para relembrar os momentos de tortura e repressão e quem não viveu para ficar por dentro de um período importante de nossa história. “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” é sinônimo de emoção, imersão e autenticidade, a diretora foi capaz de mostrar que é possível contar uma história com precisão e honestidade, mesmo com poucos recursos. O filme é distribuído pela Embaúba Filmes e estreia em 10 de julho nos cinemas brasileiros.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: A Lenda de Ochi/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: A Lenda de Ochi/Cesar Augusto Mota

Estamos habituados a ver reboots e adaptações nos últimos anos, com estes em menor escala. Apesar disso, não é menos importante uma história com inspiração em outras de sucesso, com uma nova roupagem e elementos modernos da atual época, e isso ocorre com “A Lenda de Ochi”, nova produção da A24. Mas será que essa fórmula deu resultado ou foi capaz apenas de fisgar públicos de décadas passadas?

Em uma vila remota na ilha de Carpathia, Yuri, uma garota tímida de uma fazenda, foi criada para temer uma espécie animal denominada Ochi. Porém, quando Yuri descobre um bebê Ochi ferido e abandonado, ela parte em uma aventura para levá-lo para casa. Além do desafio de encontrar o caminho, Yuri terá de se deparar e superar diversos obstáculos e criaturas, deixando sua trajetória. ainda mais emocionante.

Quem acompanha a aventura do início ao fim se lembra de obras como “ET” e “História sem Fim”, com muitos efeitos visuais que remetem ao lúdico, personagens carismáticos e uma autêntica jornada do herói. A família de Yuri inicialmente é desunida, mas consegue ser bem reconstruída, reforçando a importância do amor e da cumplicidade. Ensinamentos sobre amor e paixão também são explorados, com muita delicadeza e sutileza.

Em dados momentos, o filme assume uma aura sombria e perturbadora, com cenas fortes regadas com mutilação e sangue, e a trilha sonora induzindo o espectador à ansiedade. Rituais com animais também são representados, e somente quem tem estômago consegue suportar essas cenas, mas esse desconforto não dura muito tempo. Há uma perfeita transição para situações menos perigosas até o desfecho positivo, mesmo que algumas sequências tenham sido previsíveis e com soluções rápidas.

Apesar do equilíbrio entre a bela estética visual com sensibilidade emocional dos personagens, o roteiro bateu demais nas referências e não houve a construção de uma identidade da obra ou se seria um blockbuster ou uma produção independente. Alguns espectadores poderiam se encantar com a representação visual, outros exigir um roteiro mais robusto e uma história mais consistente.

“A Lenda de Ochi” é uma bela fábula, com bons ingredientes, mas com problemas de combinação. Caso haja uma sequência, há chance de as arestas serem aparadas e a obra alçar os voos que os produtores e o público tanto esperam.

Cotação: 3/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Detetive Chinatown-O Mistério de 1900/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Detetive Chinatown-O Mistério de 1900/Cesar Augusto Mota

Filmes chineses vêm fazendo sucesso no Brasil, principalmente no que concerne a enredos que englobam máfia e imigrantes. A Franquia “Detetive Chinatown”, distribuída pela Sato Company no país, chegará ao seu terceiro capítulo, intitulado “Detetive Chinatown: O Mistério de 1900”, e em vez de se passar em cidades contemporâneas como Bangkok, Nova York e Tóquio, o novo filme mergulhará no passado, na cidade de São Francisco, em 1900.

A narrativa se inicia com o assassinato da filha de um congressista americano, forte opositor dos imigrantes asiáticos. O principal suspeito é o filho de uma influente figura local de Chinatown, Bai Xuanling (Chow Yun-Fat). Para salvar o filho e evitar uma enorme onda de violência contra toda a comunidade chinesa, Bai recorre à inteligência e rápido raciocínio de Qin Fu e à fúria controlada de Ah Gui, este com sede de vingança. Unidos, os dois buscam desvendar o crime que ameaça por Chinatown em ruínas.

A mistura de comédia com ação e mistério foi o principal fator de sucesso de “Detetive Chinatown”, desde seu primeiro filme, em 2015, tendo até uma série de televisão, em 2020. Uma trama cheia de surpresas e intrigas e as interações feitas por personagens carismáticos também reforçam o êxito da saga, que procura beber da mesma fonte e alcançar o mesmo resultado em 2025.

Racismo e xenofobia são temas trabalhados com bastante força, com abordagem sensível e doses de humor em momentos pontuais. Apesar da comicidade da narrativa, há espaço para a seriedade, e isso faz o espectador levar a obra a sério e comprar as ideias de entretenimento e reflexão. A solução de conflito é eficiente e há expectativa para novas sequências, deveras a fórmula com ação e resolução de mistérios, junto do carisma, espontaneidade e dinamismo dos asiáticos.

Uma experiência rica em emoções e muito frenesi, “Detetive Chinatown: O Mistério de 1900” chega como mais uma opção para os fãs de cinema e ávidos por ação e inovação.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Looney Tunes-O Dia Que a Terra Explodiu/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Looney Tunes-O Dia Que a Terra Explodiu/Cesar Augusto Mota

Animações sempre são sinônimo de prazer, divertimento e muitas risadas, ainda mais com personagens consagrados e carismáticos. Os ícones do universo Looney Tunes, que engloba Patolino, Gaguinho, Pernalonga, entre outros, são a bola da vez, e vêm com toques mais modernos, em gráficos 2D. “O Dia que a Terra Explodiu”, produção dirigida por Peter Browngardt, vem com o intuito de promover o retorno desses astros a suas verdadeiras e puras formas.

Constatamos uma aventura épica na qual Patolino e Gaguinho se unem à Petúnia, uma cientista de fábrica de chicletes, e acabam por se tornar os mais improváveis heróis ao tentar impedir uma invasão alienígena que pode destruir o mundo, a menos que um não destrua o outro durante todo esse processo.

Com a ausência de Pernalonga, a maior estrela de Looney Tunes, a Warner Bros aposta em dois personagens secundários, mas importantes, como heróis em uma obra de ficção científica que remete a clássicos como “Vampiros de Almas” e o “Dia que a Terra Parou”. Uma ideia ousada, mas com potencial para um retorno triunfal de personalidades que marcaram gerações.

Havia um enorme temor com essa nova proposta de animação, tendo em vista que outro projeto em 2D, “Coyote vs ACME”, fora cancelado pela Warner Bros., gerando mal-estar e desconfiança dentro da empresa e entre os fãs de Looney Tunes. Foi preciso dar uma resposta e era chance de mostrar que ainda é possível criar novas histórias e manter viva uma franquia já consolidada.  

A produção pode ser considerada um episódio de televisão estendido, e o uso constante da quebra da quarta parede foi um ingrediente a mais nessa aventura cheia de surpresas e sobressaltos. O resultado é tão grandioso que abre caminho para novas produções no futuro, e com um recurso que agradou ao público e deu novo tom aos personagens tão amados que conhecemos, o 2D.

O mercado audiovisual nos mostra ser possível resgatar obras marcantes e fazê-las conquistar novos públicos, basta criatividade e inovação, mas mantendo a essência da peça original.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Bolero-A Melodia Eterna/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Bolero-A Melodia Eterna/Cesar Augusto Mota

O processo de criação de uma obra, seja uma música, um poema ou um filme é sempre complexo, podendo até causar bloqueio criativo no compositor ou roteirista. Situações do cotidiano, íntimas ou envolvendo parentes e amigos servem como inspiração, e toda a jornada para se chegar ao resultado final pode ser fascinante. E é em todo esse contexto que “Bolero-A Melodia Eterna”, de Anne Fontaine, é concebido. Mas a obra chegou ao fim desejado?

No ano de 1928, época dos vibrantes anos loucos em Paris, a dançarina Ida Rubinstein encomenda a Maurice Ravel uma música para seu próximo espetáculo de ballet. Com uma crise de inspiração, Ravel passa a revisitar capítulos de sua vida, como os desafios de seus primeiros anos, as marcas da Grande Guerra e o amor impossível por sua musa o fizeram se dedicar a criar uma obra-prima universal, o Bolero.

Paris dos anos 1920 é perfeitamente recriada, com as pessoas dando asas às suas imaginações, seus espíritos renovados e cheios de esperança e o romantismo falando mais alto em meio aos problemas do dia a dia. O paradoxo entre dor e realização do protagonista fascina o público, tendo em vista que Ravel queria ser reconhecido por suas obras ao mesmo tempo que tentava renegar suas paixões e desejos. Uma narrativa não linear e com um grande plot twist.

Na medida em que os cenários vão avançando, há a retratação de novas etapas da concepção do bolero na visão de Ravel, permitindo que o espectador entre em um círculo cativante e prazeroso, com muito ritmo, arte e contemplação. O bolero pode ser comparado a uma taça de vinho, fica o sabor por muito tempo no corpo e na memória. Quem não costuma ver filmes de arte vai se apaixonar por essa obra, com uma narrativa contagiante, com figurinos e paisagens belíssimas e um show de interpretação de Raphael Personnaz, que deu vida ao protagonista.

Quem está em busca de um filme que entregue cultura, entretenimento e contemplação, “Bolero- A Melodia Eterna” é a escolha certa, com um gênero fascinante no passado e reconfortante nos dias atuais.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota