Na vida, nem tudo são flores, ainda mais em se tratando de celebridades. Há quem enfrente um caminho tortuoso para alcançar o sucesso, mas se manter no topo é um grande desafio, com a fama tendo um preço alto a pagar. Surfando nessa onda, o diretor Brady Corbet (A Infância de um Líder) traz ao público ‘Vox Lux-O Preço da Fama’, um filme que faz uma sátira e ao mesmo tempo uma crítica social à glamourização dos pop stars, sendo muitos deles cultuados pelos fãs e tratados como deuses. Porém, em muitos casos, as aparências enganam, e o que pode parecer um conto de fadas pode significar um pesadelo ou até mesmo um beco sem saída.
A narrativa apresenta a trajetória de Celeste (Raffey Cassidy), uma adolescente que sobreviveu a um terrível massacre em sua escola em 1999 (similar ao ocorrido em Columbine, na mesma época), testemunhando a morte de dezenas de colegas seus. Após compor uma música para as vítimas com a ajuda da irmã Eleanor (Stacy Martin), Celeste chama a atenção de um produtor musical (Jude Law) e ele a lança no mundo do show business, aos 14 anos. A partir daí, o espectador passa a acompanhar a jornada de uma improvável celebridade em dois momentos, inicialmente com o apoio da irmã durante a adolescência e na fase adulta, 16 anos após, quando ambas se separam por uma traição e em decorrência de um terrível segredo que vem à tona, colocando a carreira de Celeste (Natalie Portman) em xeque.
O ritmo da trama é dinâmico, o início da carreira de Celeste, inicialmente representada por Raffey Cassidy, mostrado em todo o primeiro ato, passa instantaneamente para a segunda e conturbada fase, vivida por Natalie Portman, com Cassidy interpretando a filha Albertine. Se a primeira fase já chama a atenção por conta do começo difícil de Celeste pós-tragédia, a segunda é ainda mais chocante, não só por conta do distanciamento da irmã, seu braço-direito, mas também de seu produtor e uma relação conturbada com a filha. O lado mais sombrio da fama é perfeitamente retratado, e os planos-sequência com a câmera seguindo todos os passos da protagonista e os closes no rosto reforçam muito bem isso. E sem esquecer da fotografia, com cores frias retratando a tensão nos bastidores dos shows e o drama vivido no dia a dia, discutindo com fãs e imprensa.
Outros elementos de destaque são a trilha sonora e a narração off. Todas as músicas foram compostas especialmente para o filme pela cantora Sia, e as letras retratam muito bem a vida de Celeste e os efeitos da fama na vida do artista e dos fãs. Já a narração é de Willem Dafoe, trazendo um caráter documental para o filme. E a abordagem serve para dar um sinal de alerta, principalmente para quem cultua e acompanha celebridades, sobre os valores que o artista prega, o contexto no qual este está inserido, bem como os elementos ao redor que moldaram a percepção de mundo deles e as consequências da fama, que podem ser positivas ou negativas.
As atuações são grandiosas, Raffey Cassidy, ao viver a Celeste adolescente, serve de alicerce para a Celeste adulta. Já Natalie Portman atua de maneira soberba, com o olhar e andar esnobe, aparência desgastada e psicológico abalado, reflexo da falta de estrutura familiar e da incapacidade de administrar seu sucesso e tudo interligado a ele. Jude Law também tem desempenho magistral, na pele de um produtor que teve visão e conseguiu enxergar talento em uma jovem revelação e que fez de tudo para mantê-la nos trilhos. Law mostra presença e imponência em todas as cenas, além de uma grande parceria com Natalie Portman, que já vem de longa data.
‘Vox Lux-O Preço da Fama’ adota uma estrutura diferente da narrativa clássica e realiza importantes análises, com importantes ponderações sobre o show business, além de ilustrar curiosidades e perigos que vivem os astros. Ninguém está livre dos males sociais, nem mesmo os artistas, tidos como intocáveis e onipotentes. Vale a abordagem e também a crítica, que se faz necessária.
Cotação: 5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
