Poltrona Séries: The Last Dance/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: The Last Dance/ Cesar Augusto Mota

Existem atletas com carreiras tão vitoriosas que acabaram por deixar grandes legados. No futebol e na natação lembramos de Pelé e Michael Phelps, e quando falamos de basquete, o nome de Michael Jordan não poderia ser esquecido. De calouro da Universidade da Carolina do Norte a grande estrela da NBA, da franquia Chicago Bulls, Jordan foi protagonista de uma bela trajetória, com seis títulos durante quatorze anos em que vestiu o uniforme dos Bulls. Mas não se trata somente de sua carreira, a série documental “The Last Dance” (intitulada Arremesso Final, no Brasil), em uma parceria entre Netflix e ESPN, vai mostrar momentos memoráveis que mudaram para sempre a história do esporte.

Durante os dez episódios da produção, acompanhamos a temporada 1997-98, que culmina com o último título do Chicago Bulls. Uma equipe de filmagem começa a mostrar os bastidores, entrevistas coletivas, o dia a dia do time, as conversas nos vestiários entre atletas e reuniões com o treinador Phil Jackson. Mas logo de cara, o espectador é surpreendido com dois comunicados de Jerry Krause, diretor-geral do Bulls: a equipe será desmontada ao término da temporada e Jackson não seguirá na equipe. O foco está em Jordan, desde seu começo na equipe até o presente momento, o da despedida.

A narrativa não segue uma linha tênue, existem alternâncias entre o passado, o presente e depoimentos de grandes personagens, como Michael Jordan, Scottie Pippin, Dennis Rodman e Steve Kerr, grandes estrelas do Bulls. O técnico Phil Jackson e o gerente Jerr Krause também estão presentes no documentário, além de participações especiais, como a de Kobe Bryant, falecido no início do ano. Essas variações são feitas não só para o espectador relembrar momentos históricos, mas também mostrar os acontecimentos a quem não os vivenciou. O clima é de uma autêntica decisão, como se ela estivesse acontecendo no momento atual, e os noticiários da época ajudam a reforçar os sentimentos de alegria e ansiedade dos torcedores do Bulls e fãs de basquete.

Um dos ingredientes que fez essa série chamar a atenção está na maneira como foi a exploração da imagem de Jordan e tudo o que ele proporcionou à modalidade e à organização da NBA. De seus primeiros dribles, passes e arremessos, até a primeira decisão, na temporada 1990-91 contra o Detroit Pistons, Jordan mostra que realmente é a engrenagem da máquina Chicago Bulls. Ele é capa de se motivar com coisas simples ou até mesmo banais do cotidiano para um jogo importante e arrancar o melhor de si de seus companheiros, mesmo que tenha que discutir rispidamente ou até mesmo dar socos, como fez com Steve Kerr. Não é mostrado só o lado positivo da vida de Michael, manchetes sobre seu possível vício em apostas são mostradas, além do seu abalo com a morte do pai e a dificuldade para driblar a imprensa sobre sua vida particular.

O marketing utilizado em torno da imagem de Jordan, carismático com os fãs, um joador talentoso e de grande explosão nas quadras, além de patrocinado por grandes marcas, dentre elas a Nike, que lançou o tênis Air Jordan, fez os fãs de basquete perceberem que não se tratava apenas de um jogo de basquete, mas de um ídolo que nascia e que todos queriam se aproximar dele e participar de tudo aquilo que ele estava mostrando. A imagem de vencedor Jordan, além do período de conquistas do Chicago Bulls, que alcançou seis títulos, com dois tricampeonatos seguidos contribuíram para tornar o produto NBA rentável e capaz de alcançar públicos de fora dos Estados Unidos e não ser apenas genuinamente americano.

Os últimos capítulos reservam grandes surpresas e atitudes dos atletas e de Phil Jackson, após ‘a última dança’(The Last Dance, que dá título à série). O basquete norte-americano passou a ter proporções ainda maiores e se revelou como um fenômeno cultural que o esporte se tornou, principalmente nos Estados Unidos, com a torcida engajada durante os jogos, feliz com as conquistas e disposta a ficar perto de seus ídolos. Uma tradição que já existia e que se instalou de vez após um período histórico de uma equipe estelar e de um jogador fora de série, Michael Jordan, que chegou a se aposentar antes de voltar para o segundo tricampeonato. “The Last Dance’ é uma legítima carta de amor ao basquete e um tributo a um dos melhores jogadores de basquete de todos os tempos.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota