Sabemos que as aparências enganam e que um rosto bonito pode ser capaz de esconder uma face tenebrosa, desprezível e mórbida. Foi assim com Ted Bundy, um famoso serial killer que assombrou os Estados Unidos nos anos 70, mais precisamente entre 1974 e 1978, envolvido no assassinato de pouco mais de trinta estudantes. ‘Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal’ (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile), de Joe Berlinger (“Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy”) é uma cinebiografia que traz Zac Efron na pele do assassino e sob uma perspectiva diferente, de uma narrativa de uma pessoa que já foi próxima do criminoso.
Inspirado no livro “The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy”, de Elizabeth Kendall, a obra nos mostra a trajetória de Theodore Robert Cowell (Efron), estudante de Direito e advogado promissor, desde seu envolvimento inicial com Elizabeth Kendall (Lily Collins) e sua filha, os sucessivos crimes de sequestro e agressão em Utah, e homicídios qualificados cometidos no Colorado, Flórida e outros Estados, a cobertura midiática de seu julgamento e sua sentença. Um homem que dividiu opiniões, para alguns visto como frio e calculista, e para outros como tranquilo e envolvente.
A proposta de narrativa apresenta ao espectador é, sem dúvida, diferente e imersiva em comparação ao documentário recém-lançado na Netflix, ‘Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy’. Enquanto neste são dadas vozes a pessoas que conheceram Bundy e são feitas uma série de entrevistas, na cinebiografia vemos diversos momentos sendo replicados e com preocupação máxima ao que aconteceu na realidade, além da atenção dada ao trabalho realizado pela imprensa e o Poder Judiciário na apreciação das provas e na atenção com as investigações. Na visão do protagonista, ele foi meramente escolhido pela polícia e nada tinha a ver com os crimes, e foi pego como um mero bode expiatório. Segundo ele, ‘a polícia torcia para que ele fosse o criminoso apontado no retrato falado e as provas coletadas’. E a audiência gerada em torno de seu envolvimento com os crimes foi tamanha que gerou uma espécie de prejulgamento e condenação antecipada, o que ocorre também em muitos casos por aqui.
Além do caso Bundy, Elizabeth Kendall também ganha espaço, o drama vivido por ela desde a prisão de seu amado, uma espécie de prisão da qual sente fazer parte e sua luta diária para se libertar e não conseguir, tendo em vista o forte vínculo criado com Bundy. Um importante segredo é revelado no desfecho, que vai desencadear um evento importante antes da sentença de Bundy. Esse é outro trunfo da trama, não só se ater a fatos reais, mas também focalizar pessoas diretamente ligadas ao serial killer e seus dramas psicológicos.
No tocante a atuações, Efron (O Rei do Show) é implacável e consegue não só causar arrepios, mas prender a atenção do espectador. Com seu semblante fechado e persuasivo, não só consegue ter o filme na mão como também persuadir o júri em seu julgamento e enfrentar todas as autoridades, transformando tudo em um autêntico espetáculo, com direito a câmeras de televisão e ampla cobertura nacional. Lily Collins (Tolkien) retratou bem com sua personagem o lado da dor do sofrimento, não só pelo desespero em ver Bundy preso, mas também em se colocar no lugar das vítimas e sentir o que passaram, e o sentimento de impotência com cada homicídio.
Apesar de poucas cenas de violência e sangue na produção, ‘Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal é um filme chocante, envolvente e regado de muito suspense. Apesar da morbidez do caso Bundy e dos crimes atrozes, o espectador se sente motivado a acompanhar a narrativa e seus desdobramentos, bem como a cobertura dada ao julgamento e o trabalho da acusação e da defesa. Uma produção de muito valor.
Cotação: 3,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
