Embarcar em uma aventura inspirada no mais famoso dos ladrões, o que roubava dos ricos para dar aos pobres, não é uma tarefa fácil, e o que dirá levar às telonas uma história de um personagem lendário e que já foi contada várias vezes? Tivemos algumas versões de Robin Hood, a mais recente é ‘Robin Hood’, de 2010, sob a direção de Ridley Scott (Alien: Covenant), com Russel Crowe na pele do mais famoso fora da lei. E eis que surge mais uma versão, ‘Robin Hood: A Origem’ (Robin Hood), de Otto Bathurst (da série ‘Peaky Blinders’), com Taron Egerton (“Kingsman: O Círculo Dourado” como personagem principal. Será que o projeto do cineasta acerta a mão e oferece um bom produto para os cinéfilos?
Com roteiro de Joby Harold (Awake – A Vida Por Um Fio) e produção de Leonardo DiCaprio (O Regresso), a história se inicia com Robin, o lorde de Hoxley, sendo convocado para servir às Cruzadas e representar a Inglaterra em uma guerra nas Arábias. Lá, ele se depara com um verdadeiro massacre, e inclusive testemunha a tortura e morte do filho de Little John (Jamie Foxx), um guerreiro que acaba perdendo tudo , inclusive suas terras. Com o retorno à Inglaterra, Robin encontra um novo cenário, de uma cidade de Nottingam mergulhada em corrupção e debaixo de enorme opressão, comandada pelo xerife de Nottingham (Mendel Ben Mendelsohn). Disposto a se vingar e sabotar o fundo de guerra, composto pelos impostos pagos pelo povo de Nottingham, Little John resolve treinar Robin para se tornar um arqueiro ainda mais ágil e poderoso, tendo em vista que ele não se vê capaz de fazer tudo sozinho. Já o lorde de Hoxley vê uma grande chance de reencontrar a amada, Marian (Eve Hewson), que prometera esperar seu retorno da guerra, mas que depois estava nos braços de Will Scarlet (Jamie Dornan), um homem de forte prestígio e figura bem próxima da igreja.
O início da trama é um tanto desajeitado, com um ritmo lento que rapidamente se acentua com os confrontos na Arábia, mas depois se estabiliza e mostra uma história que tem tudo para ser promissora. O personagem principal e seu motivador são imponentes, demonstram todas as suas capacidades, seus objetivos são claramente definidos e rapidamente cativam a plateia. Mas a narrativa, que poderia trazer uma história interessante, esbarra na falta de profundidade do roteiro, leve e despretensioso. Não há preocupação em trazer ao espectador a humanização de um personagem, com qualidades e defeitos e tampouco abordar o roubo dos ricos para os menos favorecidos, há claramente a abo rdagem da jornada do herói, que passa por diversas privações até chegar à redenção. Robin Hood é tratado como um super-herói e o negócio dele é se envolver em mais cenas de ação em detrimento da emoção e do sentimento nobre de ajudar as pessoas.
Os personagens são cheios de estereótipos e alguns são caricatos, como o próprio Robin, um homem que não se sabe qual sua verdadeira face e o seu disfarce, no caso lorde de Hoxley ou Robin Hood, representado por Taron Egerton. Além dele, o Frei Tuck, vivido por Tim Minchin (série “Californication”), não deixa claro de que lado está, se do povo ou do xerife de Nottingham e Will Scarlet, personagem de Jamie Dornam (Cinquenta Tons de Cinza), tenta transparecer força e imponência, mas não passa de um homem facilmente manipulado, um verdadeiro banana. Pelo menos Little John, de Jamie Foxx (Django Livre) e Marian, de Eve Hewson (Ponte dos Espiões), conseguem se destacar. O primeiro com um semblante perturbador e de personalidade forte, e a segunda, uma autêntica aliada e de muita coragem e ousadia, ela é mais que uma mulher inicialmente frágil. E menção honrosa para Bem Mendelsohn (Rogue One: Uma História Star Wars), um vilão capaz de causar desconforto no público e despertar repulsa, tamanho seu perfil malévolo e de desdém na pele do xerife de Nottingham, disposto a manter sua imagem de comandante da cidade e chefe da Igreja, onipotente e intocável.
Mas o filme não conta apenas com pontos negativos, o atrativo está no excelente plano estético, com belos cenários que representaram com perfeição a arquitetura medieval, além dos interessantes adereços, como as roupas dos membros do clero, as armaduras dos cavaleiros e, principalmente, as armas utilizadas, com arcos e flechas dos mais sofisticados e espadas parecidas com as do reino Excalibur. Os efeitos CGI compensaram as constantes lutas presentes no longa, que se arrastaram do meio para o fim da história, mas o espectador é brindado com um belo espetáculo visual.
Se faltou uma história mais direta e com propósito, o público pode ver uma produção de destaque na parte técnica e com um grande elenco. O diretor Otto Bathurst tenta entregar uma obra capaz de retratar as origens e tudo o que circunda a lenda de Robin Hood, mas tenta inovar e trazer algo animador com uma fórmula já desgastada. Valeu o esforço.
Cotação: 3/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
