Poltrona Cabine: O Sol Também É Uma Estrela/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: O Sol Também É Uma Estrela/ Cesar Augusto Mota

Você tem problemas em administrar o tempo? Por que tantas coisas podem acontecer simultaneamente? Seriam coincidências? Obras do acaso? Algumas dessas perguntas poderiam ser feitas em variadas ocasiões e por pessoas que creem na ciência ou até mesmo por quem acredita que tudo pode ocorrer aleatoriamente ou por obra do destino. É justamente com esse mote que se desenvolve ‘O Sol Também é Uma Estrela’ (The Sun is Also a Star), filme de Ry Russo-Young (Antes que Eu Vá) e baseado no best-seller de Nicola Yoon que vai oferecer ao público uma interessante discussão sobre ciência e um bonito romance entre pessoas de diferentes pontos de vista.

A história acompanha Natasha Kingsley (Yara Shahidi), uma jovem jamaicana e estudante do Ensino Médio que reside nos Estados Unidos e está prestes a ir para a faculdade, mas ela está em um grande dilema. Em cerca de 12 horas, sua família pode ser deportada para o país de origem e há poucas gentes de essa situação mudar. Em paralelo, o imigrante sul-coreano Daniel Bae (Charles Melton) vive em conflito com a família, que deseja vê-lo se tornar um médico de sucesso. Por conta de um incidente, Natasha acaba conhecendo Daniel, que logo se tornam amigos e o sentimento entre eles fica ainda mais forte com o passar das horas, e essa paixão para sempre irá mudar o curso de vida dos dois, seja no tocante ao amor e na maneira como enxergam o mundo.

O enredo é simples e composto por uma história que se desenrola em um ritmo intenso e bem distribuído em seus três atos, e não há preocupação em explicar fenômenos naturais e o curso dos acontecimentos que norteiam nosso dia a dia, mesmo com citações pontuais de Carl Sagan durante a narrativa. Essas colocações, bem como algumas frases de efeito, como ‘entregue seu coração ao destino’ foram inseridas para permitir reflexões ao espectador e possíveis debates sobre ciência x destino. Natasha sonha em ser astrônoma e não acredita que o amor exista, para ela nada que possa ser visto, experimentado ou medido existe de fato, já Daniel crê que a trajetória de cada um já está traçada e que determinadas coisas ocorrem porque simplesmente ‘eram para ser’.

No que tange ao romance entre os protagonistas, Charles Melton (Riverdale) e Yara Shahidi (Grown-ish) demonstraram ter muita química em cena e deixaram transparecer muita autenticidade durante a história. Os encontros e desencontros que ocorreram entre os dois se deram com uma perfeita montagem, com fatos bem encaixados e com gancho para alguma colocação sobre ciência e também sobre amor e destino. Os dois personagens, mesmo tão diferentes e cada um com sua preocupação, acabam por conquistar o espectador por sua empatia e também pelos conflitos internos que cada um vive, apesar de não ficar muito claro inicialmente qual o objetivo de Daniel na trama. O público consegue comprar a ideia de amor sincero entre eles e torce para ambos ficarem juntos.

Se há interessantes debates e um belíssimo romance, o filme carece de aprofundamentos em temas como cidadania e naturalização, além de um arco dramático entre as famílias mais bem trabalhado. O que vemos são embates apenas dentro dos seios familiares e não há um confronto entre os pais de Natasha e Daniel, o que tornaria a trama ainda mais emocionante e com contornos mais dramáticos, tendo em vista que a história mexe com as emoções de todos em relação à vida, ao futuro e aos sentimentos. Mas o saldo é positivo e quem acompanha se convence e aprecia uma boa narrativa.

Com uma bela história de amor que gira em torno de dois jovens de propósito e também envolvidos com uma série de acontecimentos que vão mudar para sempre suas vidas, ‘O Sol Também é Uma Estrela’ mostrou que é capaz de envolver o espectador e brindá-lo com um enredo rico em informações e lhe proporcionar amplas possibilidades. Abra seu coração e mergulhe de cabeça nesse enredo, uma experiência bem grandiosa.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota