Maratona Oscar: Elementos/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Elementos/Cesar Augusto Mota

Você certamente já ouviu que os opostos se atraem, não é mesmo? E que uma boa comédia romântica deve ter protagonistas com personalidades distintas, famílias que não se gostam e o surgimento do amor em uma situação tida como improvável, certo? A Disney, em parceria com a Pixar, juntou todos esses ingredientes e produziu a animação ‘Elementos’, indicada ao Oscar na categoria de melhor animação. Ela é apontada como uma releitura de ‘Romer e Julieta’, clássico de William Shakespeare, voltada para o público infantil e adulto, mas será que funciona?

Conhecemos a jovem Faísca, que se muda com seus pais, Brasa e Fagulha, após uma tragédia em sua vila, para a cidade Elementos, composta pelos quatro elementos da natureza: ar, terra, fogo e ar. Após um acidente, Faísca conhece Gota, um inspetor de alimentos, e ambos se tornam amigos rapidamente. Com o passar do tempo, eles se apaixonam, mas por serem de espécies diferentes, Faísca precisa esconder o relacionamento, pois sabe que o pai dela não aceitaria alguém tão diferente.

Temas como amor platônico, pressão dos pais sobre os filhos, liberdade de escolha e respeito à diversidade dão o tom da trama, com tudo muito bem abordado e, de quebra, com abordagem sobre as dificuldades que imigrantes enfrentam ao chegarem em grandes metrópoles. O amor fala bem alto e a animação mostra que, apesar das diferenças, Faísca e Gota podem completar um ao outro. Ela, de personalidade forte e resistente a expor seus sentimentos, já ele é bastante sonhador e emotivo.

A representação visual é o ponto forte da animação, com os quatro elementos bem nítidos e com técnicas que realçam seus traços, trazendo mais realismo e fazendo o público crer que tudo que está sendo ilustrado na tela é de verdade. A cidade Elementos é uma grande metrópole, com grandes prédios, com muitas cores vivas e ilustração de um espaço em expansão. Quem vê fica encantado e acredita que irá fazer uma grande viagem ao passar pelos quatro elementos da natureza.

‘Elementos’ é uma obra com uma bonita história, linda visualmente e que certamente vai aquecer e derreter seu coração. Vale a pena.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Io Capitano/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Io Capitano/Cesar Augusto Mota

Apresentar um tema de forte contexto histórico e social com o auxílio da ilustração de uma jornada épica recheada de calvário e sem abusar do sensacionalismo é um verdadeiro desafio para qualquer realizador, mas pode funcionar se forem empregados os elementos adequados. O cineasta italiano Matteo Garrone utiliza essa premissa em seu mais novo filme, ‘Io Capitano’ (Eu, Capitão), premiado com o Leão de Prata no Festival de Veneza e indicado ao Oscar na categoria melhor filme internacional.

Acompanhamos a vida sofrida do jovem Seydou (Seydou Sarr), 16 anos, que divide espaço com a mãe e os irmãos em uma casa em ruínas localizada em Dakar, no Senegal. Disposto a ajudar sua família a mudar de vida, ele resolve partir para a Europa juntamente de seu primo Moussa (Moustapha Fall), mas sem avisar ninguém e após a benção de um líder religioso. Essa jornada se inicia em Dakar, passa pela Líbia e o objetivo é chegar à Itália via Mar Mediterrâneo.

A crise migratória africana que leva deslocados internacionais para o sul da União Europeia é utilizada como pano de fundo na narrativa, mostrando muito desespero e dor dos emigrantes, que enfrentam tortura, trabalhos forçados e até mesmo a prisão em busca do sonho de vida na Europa, retratada como terra prometida. Elementos místicos também ganham espaço, como fé, esperança e ícones que representam a religião do Senegal. Mas o ingrediente principal e que cativa o espectador está no protagonista, Seydou, que precisa passar por várias provações em busca de seu sonho.

O jovem senegalês começa a jornada de maneira tímida, mas com o incentivo de Moussa ele amadurece diante da tela e toma as rédeas da situação arriscada na qual ambos se colocaram, de conseguirem chegar à Sicília, na Itália, em meio ao desespero e à violência. Após passarem pelo deserto de Dakar e chegarem à Líbia, Seydou passa a ser responsável não só por ele e seu primo, mas por dezenas de pessoas, dentre eles mulheres e crianças, ao assumir o comando de um barco, mesmo sem saber nadar e desprovido de experiência.

O amadurecimento e transformação de Seydou, bem como as cenas de terror e violência são pontos altos do longa-metragem, mas sem esquecer os momentos de bondade dos seres humanos, como a ajuda mútua entre os deslocados e a apresentação de paisagens inspiradoras. O ponto negativo está em apontar a Itália como um paraíso e ao mesmo tempo uma solução para a vida das pessoas que se deslocam da África. O país exerce forte influência na crise migratória mencionada anteriormente, faltou um olhar mais crítico para a Itália e toda a comunidade europeia.

‘Io Capitano’, ao ser colocado na balança, pende para o lado positivo e vem forte no Oscar com chance de ser apontado como melhor filme internacional. Vale assistir.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: American Fiction/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: American Fiction/Cesar Augusto Mota

Abordar situações do cotidiano e ser um sucesso de crítica é um cenário desejável para todo escritor, mas e quando não há retorno comercial? O que fazer? Dever se adequar às exigências do mercado ou insistir e não abrir mão de suas convicções? Uma situação como essa será abordada em mais uma produção postulante ao prêmio de melhor filme no Oscar 2024. ‘American Fiction’, escrita e dirigida por Cord Jefferson, é considerada uma dramédia satírica e tem dado o que falar.

Inspirado no romance ‘Erasure’ (apagamento, em tradução livre), de 2001, de Percival Everett, a narrativa se concentra em Thelonius Ellison (Jeffrey Wright), o Monk, um escritor negro inconformado com a rejeição de seus últimos três livros por parte das editoras. Inconformado em como a literatura retrata as pessoas negras, como escravos, criminosos ou vítimas de violência policial, Monk resolve produzir uma sátira sobre esse mercado editorial e o racismo institucional existente, mas não esperava que sua publicação iria ser comprada por uma grande editora.

Jefferson nos apresenta a um personagem que transita pela inteligência, frustração e bom humor, com um professor e escritor disposto a defender seu ponto de vista e ao mesmo tempo ciente de que está nadando contra a maré em um mercado que se acostumou em retratar os negros em situações alarmantes. O roteiro é linear, ilustra um protagonista de arco altamente dramático, em situações de pressão contra parede, com destaque para o momento em que Monk conhece a romancista Sintara Golden (Issa Rae), cujo livro ‘’We´s Lives in Da Ghetto’ reforça os estereótipos dos negros há muito tempo retratados, sempre em posições vulneráveis. Mas Monk também encontra apoio em sua família, principalmente do irmão Cliff (Sterling K. Brown), que funciona como um excelente dinâmico do protagonista e brinda o espectador com ocasiões insanas e cômicas.

O público se revolta e compra a ideia de Monk, tendo em vista se tratar de um protagonista de alta carga intelectual, de personalidade forte e que observa o mundo com certo estranhamento e distância. E na medida em que a história se desenrola, Monk se fortalece ainda mais e percebe que não está sozinho, mas ele sabe que precisa ter cuidado com sua alta sinceridade, que pode não lhe fazer bem, com risco de conflitos com pessoas queridas e altos executivos de empresas grandes. Jeffrey Wright cumpre muito bem o papel que lhe foi dado, de fazer críticas duras e construtivas a um mercado editorial consolidado e ainda altamente preconceituoso, com um protagonista de pulso firme e que não hesitou em chutar o balde.

Cord Jefferson fez um filme oportuno, que cutuca um grande vespeiro e que traz esperanças. Ainda há muito o que se fazer contra o preconceito e o racismo, é preciso ter coragem e nunca desistir, avanços estão aos poucos acontecendo, mas é apenas o começo.

‘American Fiction’ concorre ao Oscar 2024 em cinco categorias, de melhor filme, ator, ator coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora original.

Cotação: 4,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Oppenheimer/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Oppenheimer/Cesar Augusto Mota

Utilizar todo o conhecimento adquirido da ciência não para construir uma arma, mas com o intuito de mudar o mundo. Essa premissa apresenta inicialmente o espectador a uma pessoa considerada ícone da Física Quântica e figura central de um fato histórico que abalou o mundo: a explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. ‘Oppenheimer’ é a nova obra de Christopher Nolan que já vem ganhando estatuetas nessa nova temporada de premiações e bastante cotada para o Oscar 2024.

Somos apresentados a J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), um cientista com importantes serviços prestados aos Estados Unidos entre os anos 30 e 50 e que liderou o projeto Manhattan, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele chegou a ser conhecido como o “pai da bomba atômica”, e seus estudos resultaram na fabricação do artefato que devastou as duas cidades japonesas citadas anteriormente.

A estrutura narrativa adotada é a de um misto de cenas do passado com o presente, a não-linear, e três atos bem estruturados, com a apresentação do personagem-central com abalos psicológicos, ambicioso e egoísta; sua realização profissional e uma conclusão que inclui uma discussão importante acerca de sua criação. Apesar da aceleração de acontecimentos no segundo ato e uma conclusão não tão satisfatória, o resultado é a de uma produção complexa e com debates que envolve ética e política, com a bomba de Oppenheimer como pano de fundo.

O roteiro de Nolan, além de se preocupar em explicar todos os fatos interligados e ilustrar personagens com variações de juízo durante a história, prima por gerar ansiedade pelos desdobramentos e a curiosidade acerca da bomba de Oppenheimer, de como ela vai ser mostrada ao público e o momento adequado. Tudo é bem amarrado e sem pontas, com belas representações visuais e alternâncias de cenas em cores e outras em preto e branco, elementos presentes em filmes históricos de Christopher Nolan. O diretor, com méritos, consegue atiçar a atenção do público para um fato histórico, sem romantizar tragédias ou a bomba atômica, proporcionando reflexão e aprendizado. E não se pode esquecer da fotografia e som presentes no filme, com tamanha precisão e realismo.

E um bom filme não pode se sustentar apenas com uma boa direção e roteiro, o elenco escalado entrega tudo o que é esperado, sobretudo o protagonista. Cillian Murphy percorre um arco altamente dramático com seu personagem, ora simpático e carismático e ora frio e repugnante, além das expressões faciais e corporais bastante convincentes. Emily Blunt também chama a atenção com sua Kitty Oppenheimer, não se tratando apenas da esposa do protagonista, mas de alguém que soube apoiar o pai da bomba atômica em dados momentos e também o confrontou em ocasiões-chave. E para fechar com chave de ouro, Robert Downey Jr dá vida a Lewis Strauss, figura muito importante na Física e, principalmente, na política. Com uma caracterização que o deixa praticamente irreconhecível, o artista mostra um personagem de personalidade forte, imponente e uma pessoa importante na carreira de Oppenheimer, seja pelo incentivo em fazer parte do Instituto de Física Quântica, como na defesa de suas ideologias.

‘Oppenheimer’ é um filme complexo, tenso e bastante dinâmico, e vem forte para o Oscar 2024 indicado em treze categorias. Não seria surpresa se levasse alguma estatueta, seja nos prêmios técnicos, como o de som e fotografia, ou nos principais. Vale conferir.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Melhor Canção Original/Anna Barros

Maratona Oscar: Melhor Canção Original/Anna Barros

Aplaude com Sofia Carson é bonita, melodiosa e realmente cativante. É do filme Tell It like a Woman e é um grande azarão.

Lift me UP é a música de Wakanda Forever na voz potente e triunfal de Rihanna e representa bem o filme. Tenta resgatar as raízes do filme e consegue. Pode brigar com a grande favorita da noite, Hold my Hand de Lady Gaga e o poderoso Top Gun Maverick.

Por sinal, Hold my Hand é o favoritaço da noite na voz de Lady Gaga e que casou perfeitamente com o clima de diversão, aventura e uma pitada de romance do filme estrelado de Tom Cruise. É quem acho que vence. O grande favorito.

RRR é um acontecimento. Um filme musical indiano diferente de tudo que você viu e a canção alegre e divertida, Naatu, Naatu exprime muito bem toda a atmosfera.

This Is a Life é tema do provável recordista de estatuetas danoite, inclusive de Melhor Filme: Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. A canção é suave, bonita e traz um contratempo a todo aquele filme de metaverso do filme.

A meu ver fica entre Rihanna e Lady Gaga. Duelo de Titãs. A conferir no dia 12 de março.