Quem acorda desde cedo para trabalhar e cuida de uma família numerosa tem dias regados a milhares de emoções, não é mesmo? E o que você acharia se essa rotina fosse reproduzida na tela grande para causar a impressão de que as ações de prolongam por dias e meses, mas na verdade tudo ocorre em apenas um dia? Um Dia’, filme húngaro de 2018 e sob a direção de Zsófia Szilágyi, apresenta essa sequência com muita sensibilidade e para causar bastante comoção a quem for assistir.
Anna (Zsófia Szamosi) é uma mãe dedicada, que divide sua rotina de trabalho como professora para cuidar dos três filhos pequenos, além das tarefas domésticas com o marido Szabolcs (Leo Füredi). O que poderia ser muito comum ao espectador e até banal se transforma em algo mais intenso e profundo na medida em que notamos um ar de ansiedade e angústia em Anna para vencer suas tarefas diárias, e esse tom perturbador graças à câmera colada à seu rosto e acompanhando sua movimentação pelos cenários.
O que dá o tom da trama, mesmo que ela não apresente tantos conflitos, é o conjunto de expressões faciais de Anna, com olhar distante e sensação de frustração e impotência, mesmo que o semblante fechado possa significar calma. Anna passa não só por um frenesi causado pela enorme quantidade de atividades, mas por uma séria crise de seu casamento e a sensação de não ter para onde correr, causando muita angústia no público, que compra seus sentimentos e as situações que enfrenta.
O mérito da diretora Zsófia Szilágyi é abordar com esmero os dilemas e as sensações vividas em um cotidiano marcado pela agilidade e ânsia por resultados imediatos, além de uma sociedade cada vez mais consumista e exigente. Valores morais, matrimoniais e os princípios educacionais são também bem abordados, com a apresentação de uma mãe carinhosa para com seus filhos, mas enérgica quando necessário, além da importância do papel do pai no seio familiar. Se no matrimônio o marido de Anna tem condutas questionáveis, ele exerce muito bem sua função de chefe de família.
Um longa sensível, comovente e que rompe o trivial. ‘Um Dia’ é um espelho do que é o papel de mãe, de ser capaz de realizar uma série de tarefas, mas sem perder o foco.
Cotação: 4/5 poltronas.
