Maratona Oscar: Coringa/César Augusto Motta

Maratona Oscar: Coringa/César Augusto Motta

Em um mundo sombrio e marcado por adversidades, deve-se sempre levar alegria e risos à sociedade”. Esta frase foi dita por um famoso vilão das HQs em uma obra que já está provocando discussões, tanto positivas como negativas. Um dos filmes mais aguardados do ano e vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Coringa” (Joker), de Todd Phillips (Nasce Uma Estrela),mostra o icônico personagem do Universo DC por um outro ângulo, vivido pelo talentoso Joaquin Phoenix (Homem Irracional) que sempre se entrega de corpo e alma aos papéis que lhe são designados. O resultado foi positivo?

Arthur Fleck (Phoenix) é um aspirante a comediante que sofre de um distúrbio neurológico que o faz gargalhar de maneira descontrolada. Ele reside com Penny (Frances Conroy), sua mãe, e tenta levar a vida de uma forma saudável. Apesar de ela o desacreditar da carreira no humor, Arthur não hesita em realizar seu sonho, mas é sempre hostilizado e na medida em que o tempo passa e vai sofrendo violência física e psicológica, seu estado mental piora e ele acaba por se tornar um improvável e verdadeiro perigo para a sociedade.

Logo de início nos deparamos com um Arthur disposto a fazer as pessoas rirem e se esforçando nos shows de stand up, com monólogos e piadas com críticas ácidas a políticos e preconceitos em relação às minorias. Não é um Arthur mau, o causador do caos, mas um homem com sonhos, porém bastante perturbado. Um perfeito estudo psicológico é feito sobre o personagem central, que tenta se mostrar em estado de felicidade, mas que na realidade não goza desse sentimento. Trata-se, portanto, de alguém humilhado, oprimido e em estado de loucura.

Em seguida, notamos que Arthur mergulha de vez em um quadro irreversível quando se envolve em incidentes com policiais que estavam batendo de frente com manifestantes no centro de Gotham contra a candidatura de Thomas Wayne (Brett Cullen) à prefeitura, com mensagens hostis e protestos contra o precário sistema de saúde. De quebra, é humilhado em rede nacional por Murray Franklin (Robert De Niro), apresentador de um talk show, ao mostrar um vídeo de Arthur em seus shows de stand up e o apresentá-lo com deboche e de forma caricata. Isso tudo serviu para agravar seu psicológico e fazê-lo chutar o balde.

O Coringa retratado aqui é um retrato realista de alguém rejeitado e escrachado por uma sociedade marcada pela intolerância e preconceito, e largado às traças. A intenção do filme não foi humanizar o famoso vilão e maior rival do Batman, mas o de mostrar que existem pessoas como Arthur Fleck que sofrem violência e bullying, além de não serem amparadas pelo Estado, com políticos que fazem falsas promessas e que se mostram como salvadores da pátria. Esse é o mundo visto na visão de Arthur, de uma sociedade que o maltrata, mas ele segue por um rumo errado para tentar superar tudo o que o aflige.

E para esse filme funcionar, para essa nova versão do Coringa ser envolvente e impactante, não poderia esquecer de abordar a atuação de Joaquin Phoenix, que deu profundidade ao personagem e apresentou uma impressionante linguagem corporal para ilustrar sua angústia, estado de melancolia e raros momentos de descontração. O corpo magro e com os ossos à mostra, além de seus movimentos bruscos mostram o peso enorme que carrega e todos os seus conflitos internos, sem ficar dependente dos diálogos. A forma como interage, além dos closes feitos em seu rosto e a maneira como olha para a câmera fazem o personagem de Phoenix ter maior aproximação com o público, que vê mais o Arthur Fleck do que propriamente o Coringa.

Em tempos de violência e intolerância, ‘Coringa’ é um filme que liga o sinal de alerta no meio social e mostra que existem muitos Arthurs Fleck ao nosso redor e ao mesmo tempo uma sociedade em meio à corrupção e representantes questionáveis, como retratado na narrativa. Uma produção para dar um choque, chamar a atenção e também para entreter com cenas fortes e alguns momentos cômicos. Em dados momentos, é melhor rir do que chorar de determinada desgraça.

Cotação: 4/5 poltronas.

 

Nota do Editor: Coringa concorre ao Oscar em 11 indicações. É o recordista. E tem, talvez, a grande barbada da noite, a categoria de Melhor Ator para Joaquin Phoenix. Tem chances em Melhor Cabelo e Maquiagem mas concorre também a Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora Oriignal, Melhor Figurino dentre outros.

Hollywood Reporter afirma que Jared Leto tentou impedir Coringa de Todd Philips

Hollywood Reporter afirma que Jared Leto tentou impedir Coringa de Todd Philips

Anteriormente havia sido revelado que Jared Leto ficou “alienado e decepcionado” com a decisão da Warner Bros. de ter um novo Coringa. Agora, um relato do Hollywood Reporter afirma que o ator chegou a pedir para um de seus agentes convencer o estúdio a cancelar o projeto de Todd Phillips.

A matéria afirma que Leto pediu para Irving Azoff, que agencia sua carreira musical, para reclamar diretamente com a dona do estúdio (podendo ser tanto a Time Warner quanto a AT&T, dependendo da data do ocorrido), mas Azoff sequer chegou a fazer a ligação. Além disso, o ator supostamente reclamou muito com a CAA (Creative Arts Agency), que gerencia sua carreira e também a de Phillips, argumentando que “não era forma de se tratar um vencedor do Oscar”. A falta de ação pela CAA pode ter sido o motivo por Leto ter trocado a agência pela WME, apesar de fontes do THR adicionarem que o ator tinha problemas frequentes com a empresa, tendo trocado de agente quatro vezes.

O descontentamento de Leto vem do fato de que ele inicialmente produziria e estrelaria um filme-solo focado na sua versão do personagem, mas o projeto foi cancelado pelo estúdio para dar espaço para o reboot de Esquadrão Suicida por James Gunn e também ao longa de Todd Phillips, estrelado por Joaquin Phoenix. O que pode ter intensificado o sentimento do ator é justamente o fato de que praticamente todo o restante de seus colegas de equipe retornará para o novo longa de Gunn. Além disso Margot Robbie, que foi a Arlequina no filme de 2016, terá sua própria aventura com Aves de Rapina (2020) – que inicialmente começou como um filme sobre o relacionamento dela com o Coringa de Leto.

Por fim, o artigo também cita como a própria Warner Bros. não botava muita fé no filme de Todd Phillips por conta de seu tom sombrio. Como forma de “desencorajar” o cineasta, o estúdio liberou um orçamento morno – sem o efeito desejado.

Coringa já figura no Top 5 de maiores bilheterias de lançamento de filmes para maiores de 18 anos do país, ficando atrás apenas de Deadpool (US$ 132,4 milhões), Deadpool 2 (US$ 125,5 milhões) e It: A Coisa (US$ 123,4 milhões). No Brasil, o longa estrelado por Joaquin Phoenix recebeu classificação indicativa para maiores de 16 anos.

Coringa estreou no dia 3 de outubro e arrecadou US$ 93,5 milhões em seu primeiro final de semana, melhor marca da Warner desde Mulher-Maravilha que, sem a mesma limitação de ser só para maiores de 18 anos, fez US$ 103 milhões.

 

Fonte: Omelete

Poltrona Cabine: Coringa/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Coringa/ Cesar Augusto Mota

“Em um mundo sombrio e marcado por adversidades, deve-se sempre levar alegria e risos à sociedade”. Esta frase foi dita por um famoso vilão das HQs em uma obra que já está provocando discussões, tanto positivas como negativas. Um dos filmes mais aguardados do ano e vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Coringa” (Joker), de Todd Phillips (Nasce Uma Estrela),mostra o icônico personagem do Universo DC por um outro ângulo, vivido pelo talentoso Joaquin Phoenix (Homem Irracional) que sempre se entrega de corpo e alma aos papéis que lhe são designados. O resultado foi positivo?

Arthur Fleck (Phoenix) é um aspirante a comediante que sofre de um distúrbio neurológico que o faz gargalhar de maneira descontrolada. Ele reside com Penny (Frances Conroy), sua mãe, e tenta levar a vida de uma forma saudável. Apesar de ela o desacreditar da carreira no humor, Arthur não hesita em realizar seu sonho, mas é sempre hostilizado e na medida em que o tempo passa e vai sofrendo violência física e psicológica, seu estado mental piora e ele acaba por se tornar um improvável e verdadeiro perigo para a sociedade.

Logo de início nos deparamos com um Arthur disposto a fazer as pessoas rirem e se esforçando nos shows de stand up, com monólogos e piadas com críticas ácidas a políticos e preconceitos em relação às minorias. Não é um Arthur mau, o causador do caos, mas um homem com sonhos, porém bastante perturbado. Um perfeito estudo psicológico é feito sobre o personagem central, que tenta se mostrar em estado de felicidade, mas que na realidade não goza desse sentimento. Trata-se, portanto, de alguém humilhado, oprimido e em estado de loucura.

Em seguida, notamos que Arthur mergulha de vez em um quadro irreversível quando se envolve em incidentes com policiais que estavam batendo de frente com manifestantes no centro de Gotham contra a candidatura de Thomas Wayne (Brett Cullen) à prefeitura, com mensagens hostis e protestos contra o precário sistema de saúde. De quebra, é humilhado em rede nacional por Murray Franklin (Robert De Niro), apresentador de um talk show, ao mostrar um vídeo de Arthur em seus shows de stand up e o apresentá-lo com deboche e de forma caricata. Isso tudo serviu para agravar seu psicológico e fazê-lo chutar o balde.

O Coringa retratado aqui é um retrato realista de alguém rejeitado e escrachado por uma sociedade marcada pela intolerância e preconceito, e largado às traças. A intenção do filme não foi humanizar o famoso vilão e maior rival do Batman, mas o de mostrar que existem pessoas como Arthur Fleck que sofrem violência e bullying, além de não serem amparadas pelo Estado, com políticos que fazem falsas promessas e que se mostram como salvadores da pátria. Esse é o mundo visto na visão de Arthur, de uma sociedade que o maltrata, mas ele segue por um rumo errado para tentar superar tudo o que o aflige.

E para esse filme funcionar, para essa nova versão do Coringa ser envolvente e impactante, não poderia esquecer de abordar a atuação de Joaquin Phoenix, que deu profundidade ao personagem e apresentou uma impressionante linguagem corporal para ilustrar sua angústia, estado de melancolia e raros momentos de descontração. O corpo magro e com os ossos à mostra, além de seus movimentos bruscos mostram o peso enorme que carrega e todos os seus conflitos internos, sem ficar dependente dos diálogos. A forma como interage, além dos closes feitos em seu rosto e a maneira como olha para a câmera fazem o personagem de Phoenix ter maior aproximação com o público, que vê mais o Arthur Fleck do que propriamente o Coringa.

Em tempos de violência e intolerância, ‘Coringa’ é um filme que liga o sinal de alerta no meio social e mostra que existem muitos Arthurs Fleck ao nosso redor e ao mesmo tempo uma sociedade em meio à corrupção e representantes questionáveis, como retratado na narrativa. Uma produção para dar um choque, chamar a atenção e também para entreter com cenas fortes e alguns momentos cômicos. Em dados momentos, é melhor rir do que chorar de determinada desgraça.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

‘Coringa’, de Todd Philips, leva o Leão de Ouro no Festival de Veneza

‘Coringa’, de Todd Philips, leva o Leão de Ouro no Festival de Veneza

Festival de Veneza celebra o filme de Todd Philips, que transformou o vilão em obra de arte. J’accuse – ‘O oficial e o espião’, de Roman Polanski, recebe o Grande Prêmio do Júri

O Coringa (Joker), de Todd Philips, obteve o Leão de Ouro de melhor filme do festival de Veneza. O cineasta recebeu o prêmio junto a Joaquin Phoenix, que faz uma extraordinária interpretação do célebre vilão no filme. É a primeira vez que um longa sobre um personagem dos desenhos de super-heróis obtém o reconhecimento mais importante de um dos festivais mais prestigiados do mundo. Embora Coringa pouco tenha a ver com a maioria desses filmes: é o escuro retrato de como o anódino palhaço aspirante a cômico Arthur Fleck, educado pela sua mãe para “dar risos e alegrias ao mundo”, se transforma pouco a pouco em um impiedoso assassino. O júri presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel ergue assim um dos filmes mais celebrados pela crítica durante o festival, e o coloca em um trampolim notável pela corrida para os Oscar.

O segundo prêmio mais importante do festival foi para seu convidado mais criticado: Roman Polanski. J’accuse – O oficial e o espião se consagra com o Grande Prêmio do Júri, recebido pela atriz e esposa do diretor, Emmanuelle Seigner: o cineasta polonês não viajou à Mostra, já que evita qualquer país que possa lhe extraditar aos EUA, onde a justiça ainda o persegue pelo estupro de uma menor em 1977. Martel gerou uma enorme polêmica no início do festival, quando declarou que não assistiria à projeção de gala do filme, para não ter de aplaudir Polanski. A diretora esclareceu, ao mesmo tempo, que não tinha “preconceitos” para nenhum filme do concurso, confirmado depois pelo reconhecimento dado ao filme de Polanski.

Roy Andersson obteve o prêmio de melhor direção por About Endlessness. O ator italiano Luca Marinelli conquistou a Copa Volpi de melhor ator por Martin Eden enquanto o prêmio para a melhor interpretação feminina foi para Ariane Ascaride, por Glória Mundi. O cineasta de Hong Kong Yonfan obteve o prêmio ao melhor roteiro pelo filme animado Não. 7 Cherry Lane.

A brasileira Bárbara Paz ganhou o prêmio de Melhor Documentário na mostra Clássicos por Babenco, Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, que narra a trajetória de Hector Babenco, com quem Paz ficou casada até sua morte, em 2010.

Principais prêmios da Mostra

Leão de Ouro: Joker, de Todd Philips.

Grande Prêmio do Júri: J’accuse – O oficial e o espião, de Roman Polanski.

Leão de Prata de melhor direção: Roy Andersson, por About Endlessness.

Copa Volpi para melhor atriz: Ariane Ascaride, por Glória Mundi.

Copa Volpi para melhor ator: Luca Marinelli, por Martin Eden.

Melhor roteiro: Yonfan, por Não. 7 Cherry Lane.

Prêmio Marcello Mastroianni de melhor intérprete emergente: Toby Wallace, por Babyteeth.

Melhor filme da seção Horizontes: Atlantis, de Valentyn Vasyanovych.

Prêmio Ópera Prima: You Will Die At 20, de Amjad Abu Alala.

Fonte: El País
Crédito da foto: Marcel Plasse