Poltrona Séries-Coisa Mais Linda: 2ª Temporada/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries-Coisa Mais Linda: 2ª Temporada/ Cesar Augusto Mota

Uma das produções brasileiras de grande destaque em 2019, a série ‘Coisa Mais Linda’, exibida pelo serviço de streaming Netflix, volta com mais seis episódios. Embalada por grandes canções da Bossa Nova e uma trama envolvente em um Rio de Janeiro no fim dos anos 50, a primeira temporada terminou com um grave incidente. A jovem Lígia (Fernanda Vasconcelos) é baleada pelo enciumado marido Augusto (Gustavo Vaz), que acaba por atingir também Malu (Maria Casadevall), proprietária do clube de música que dá nome à série.

A segunda temporada começa com Malu ainda em transe, sonhando com grandes momentos ao lado de sua mulher amiga. Ao despertar, lhe é revelada a perda de Lígia e uma lacuna é aberta em sua vida. Ao voltar para casa, outro baque, o marido Pedro retorna para tentar lhe tomar todo o seu dinheiro e se apossar de seu clube. Em paralelo, suas amigas também passam por grandes desafios: Adélia (Pathy Dejesus) está prestes a se casar com Capitão (Ícaro Silva), mas precisa dividir suas atenções com o seu trabalho de doméstica, o clube ‘Coisa Mais Linda’ e a criação de sua filha Conceição, dividida com Nelson (Alexandre Cioletti), agora casado com Thereza (Mel Lisboa). Esta deixa de ser dona de casa e passa a ser radialista, o que a faz ficar mais distante do marido.

Ao contrário do que a série poderia sugerir, com um Rio de Janeiro idílico e clima de leveza, vemos muita dramaticidade e diversas barreiras enfrentadas pelas personagens, como uma sociedade dominada pelos homens, e em muitas ocasiões, as mulheres eram obrigadas a pedir permissão aos homens. No caso de Malu, precisava ter autorização de Pedro para pedir a separação. Mas, por mais que surgissem as dificuldades, as protagonistas se mantinham unidas e a força de cada uma impulsionava o grupo. Na medida em que passam os episódios, elas se redescobrem, reveem suas prioridades e se permitem novos relacionamentos.

A trama ganha mais uma protagonista, Ivone (Larissa Nunes), que sonha ser cantora, e a entrada de mais uma personagem de forte personalidade fortalece a produção, que não só se preocupou em revisitar uma época de ouro, mas em valorizar a cultura e a música brasileira. A produção pecou em não ter trazido mais sucessos da Bossa Nova e preferir colocar novas músicas. A proposta da segunda temporada é a mesma da primeira, investir no drama e focar em temas que foram e continuam importantes na atualidade, como o feminismo, a diversidade, a liberdade e a sexualidade. E de quebra, importantes intervenções da imprensa e o trabalho do jornalismo também são abordados, mas de uma for mais incisiva mostrando as falhas de cobertura de uma notícia e erros na apuração dos fatos.

‘Coisa Mais Linda’ não só encanta por sua fotografia que valoriza os principais pontos do Rio de Janeiro no fim dos anos 50 como o gênero em evidência além das reconstituições feitas e os debates proporcionados a cada episódio. Sem dúvida, vale acompanhar.

Cotação: 4/5 poltronas.

 

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Coisa Mais Linda-1ª Temporada/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Coisa Mais Linda-1ª Temporada/ Cesar Augusto Mota

É possível notar que as produções brasileiras estão ganhando mais espaço e visibilidade na Netflix, tanto no Brasil, como no exterior. Após a boa recepção de 3% e da polêmica envolvendo mecanismo acerca dos personagens envolvidos e de semelhanças com a Operação Lava-Jato, chega ao serviço de streaming uma obra que busca revisitar a romântica cidade do Rio de Janeiro dos anos 50 e um gênero musical de sucesso, a Bossa Nova, com quatro histórias paralelas de mulheres que tentam se descolar de suas realidades com seus próprios estilos. ‘Coisa Mais Linda’ é assim, uma série brasileira de sete episódios, produção brasileira com roupagem americana, vale a pena?

A primeira temporada mostra de início a trajetória de Maria Luiza (Maria Casadevall), uma jovem paulistana que vive em meio ao luxo, mas sofre após ser abandonada pelo marido, que foge com uma amante e a cheia de dívidas no Rio de Janeiro.  Enfeitiçada pela capital fluminense, ela tenta engrenar um clube de música ao vivo que toca Bossa Nova todas as noites. Lígia (Fernanda Vasconcellos), melhor amiga de Maria Luiza, vive uma vida aparentemente, é casada, rica, mas vive apanhando do marido. Seu sonho sempre foi cantar e se apresentar para grandes platéias, mas seu cônjuge não aceita que ela trabalhe fora de casa, situação que era considerada comum naquela época. Theresa (Mel Lisboa) trabalha como editora e acabou de voltar de Paris, onde aprendeu acerca da revolução feminista na Europa. Para fechar o quarteto, Adélia (Pathy DeJesus) é é uma mulher negra que vive no morro em uma casinha modesta e trabalha como emprega doméstica para sustentar a filha.

As histórias são bem acessíveis, as personagens-centrais são cativantes e suas trajetórias mobilizam o público, afinal, o foco está no dia a dia e na luta dessas mulheres, e não na Bossa Nova e a cultura carioca, que são apenas pano de fundo na obra. Os desafios e os preconceitos enfrentados por elas, o machismo e o racismo exacerbado, que perduram até hoje em menor escala, e a cumplicidade entre elas é o segredo do bom resultado da série em sua primeira temporada. As atuações não são grandiosas, mas a sinceridade e a disposição de todas em cena chamam a atenção, não é fácil mesclar o bom humor e o entusiasmo das noites de Bossa Nova e saber separar dos dramas pessoais que elas vivem, a série acerta em cheio nesses pontos.

A fotografia é um perfeito retrato do Rio de Janeiro doa anos 50, os figurinos são fiéis às roupas da época, e a montagem, aliada à trilha sonora com grandes sucessos da época remetem a um Brasil em ascensão, época de JK, dos 50 anos em 5. Os costumes apresentados também estão alinhados, porém sofrem leves críticas e impulsionam as personagens- centrais, o empoderamento e os ideais feministas passam a ter espaço. Uma produção de época, mas com características que existem na atualidade, outro atrativo da série.

Porém, há pontos negativos na produção, como o aspecto americano que a série apresenta de início, com diálogos forçados e plásticos, além da canção ‘Garota de Ipanema’ cantada em inglês. Esses detalhes podem não fazer diferença, mas para os brasileiros sim, não fica a imagem de ‘produção brasileira’, mas uma série para estrangeiro ver. Além disso, o ritmo na reta final é prejudicado, o último episódio parece ter sido feito às pressas, faltou aprofundamento, e o espírito de brasilidade foi deixado um pouco de lado. O drama de novela ganhou muito espaço, estilo ‘Sessão da Tarde’, e a série se perde em sua proposta, em dados momentos os dramas das protagonistas ficam para escanteio, o que não poderia acontecer. Mas o saldo acaba por ser positivo, com novas propostas, uma série de época e um elenco que se mantém coeso boa parte do tempo.

‘Coisa Mais Linda’ é uma série que apresenta coisas grandiosas, mas que perdeu a mão ao longo dos episódios. Vamos torcer para que uma nova temporada seja lançada e uma história mais aprofundada e ousada seja oferecida aos espectadores. A produção brasileira tem vocação e força para isso, agora é aguardar e torcer.

Cotação: 3/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota