O que a pintura poderia representar na vida de uma pessoa? Grandes lembranças do passado? Sua percepção de mundo e um legado a ser deixado para a posteridade? Mas na vida de um homem, um quadro pode representar mais do que tudo isso, como também uma forma de se redimir de seu passado do qual não se orgulha. ‘O Último Lance’ (Tuntematon Mestari), filme finlandês de Klaus Härö, investe não culto à arte e um pouco no drama familiar.
Olavi (Heikki Nousiainen) é um negociante de arte focado e altamente obcecado com seu trabalho, porém este que vem se tornando obsoleto com a modernização da indústria, que favorece ainda mais os grandes conglomerados. Quando a obra de um renomado pintor russo cai em suas mãos, ele recebe a ajuda surpreendente de seu neto para recuperar suas finanças, o reaproximando de sua filha. Mas ele iria arriscar tudo por um grande negócio?
A história apresenta tópicos importantes, como a importância da arte na vida das pessoas, bem como a responsabilidade, zelo com a família, e um assunto mais delicado e não tão fácil de se tratar abertamente, a morte. Olavi é um homem de caráter, trabalhador, mas que tinha uma relação conturbada com a filha e um tanto distante dela. O que mais espanta é que ele não só deu apoio quando precisou, mas demonstrou não saber nada da vida dela, apesar de ser filha única. Já a relação com o neto Otto (Amos Brotherus) é um pouco mais aberta, e ele vê a chance de recuperar as finanças e amenizar o prejuízo à família deixando o garoto fazer uma espécie de estágio em sua loja.
Um aspecto positivo da história é como as obras de arte são apresentadas, com a câmera caminhando e os efeitos de sombra empregados. O quadro de Cristo, objeto do filme e que pode render um alto preço em leilão, mas que não está assinado, é ilustrado com esmero e sua importância aumenta ainda mais quando outro avaliador entra em cena e Olavi sente-se mais pressionado e a necessidade de mostrar que se trata de uma obra legítima, segundo suas pesquisas. E a morte, um assunto mais sério, também tem sua abordagem cuidadosa, e a cena com um objeto girando representa muito bem a ideia de morte, a vida passando como um filme, o fim de um ciclo. Esse simbolismo também torna o filme interessante, além do drama que gira em torno da família de Olavi, como a falta de apoio financeiro e moral que a filha e o neto precisavam e não receberam pela distância e o trabalho à exaustão de Olavi.
Se o roteiro não entra em profundidade no conflito entre Olavi e os mercadores que contestam a autenticidade do quadro de Cristo, a fotografia e os problemas de família conseguem segurar a trama até o fim. O desfecho não é o mais eficiente, mas ilustra como a pintura pode representar a memória, o cotidiano, o presente e o futuro. Uma produção que é um primor em estética e montagem, mas peca na profundidade da história. Um filme assistível e bom para entreter.
Cotação: 3,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota

