Obras que foram adaptadas da literatura e com posterior sucesso nos cinemas, como ‘O Hobbit’ (The Hobbit) e ‘O Senhor dos Anéis’(The Lord of The Rings), sem dúvida mexeram com o imaginário de milhões de pessoas. Não foi à toa que essas produções se tornaram ícones do gênero fantasia, e por trás de tudo isso está a mente grandiosa e criativa de John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), escritor e um renomado professor de Oxford, pesquisador das línguas anglo-saxãs, linguística e etimologia. Para ele, as palavras tinham peso em suas histórias, e os nomes dos personagens ainda mais. Para contar a história de Tolkien, que também apreciava a poesia, a Fox Searchlight lança ‘Tolkien’, sob a direção de Dome Karukoski (Coração de Leão), um desafio e tanto para se abordar muita história em 112 minutos.
Durante os tempos de infância, o jovem Tolkien (Nicholas Hoult) fica órfão, mas descobre a amizade com um grupo de jovens descolados, composto por Robert, Sam e Smith. Posteriormente, ele vive o primeiro amor e encontra inspiração artística para seus primeiros trabalhos, mas tudo é interrompido quando é convocado para a Primeira Guerra Mundial. Ele jurou voltar vivo para sua amada, Edith (Lily Colins), mas não esperava que todo o caos vivido durante o período o ajudaria na criação da Terra Média, famosa terra fictícia onde foram ambientados ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘O Hobbit’ .
O trunfo do roteiro está em recriar elementos do contexto político e cultural da Inglaterra pré e pós-Primeira Guerra, e faz isso com esmero. Além disso, a ideia inicial era a de mostrar que o jovem escritor tinha capacidade de criar enredos a partir de um simples olhar à sua volta, e isso até funciona, quando se deparou com soldados alemães na posse de lança-chamas e materializou o dragão Smaug, de ‘O Hobbit’.
No tocante ao amor, segundo tema da história, Edith, grande amor de Tolkien, não é ilustrada apenas como sua musa inspiradora, mas também ganha força durante a trama, como uma mulher que busca independência e brilho próprio. Os contornos do romance são à la Shakespeare, com nuances de paixão proibida, com o padre, seu tutor legal, proibindo o relacionamento dos dois com a preocupação que Edith prejudicasse Tolkien nos estudos e no possível alcance de uma bolsa de estudos para Oxford.
Porém, a trama começa a esbarrar com a enorme gama de acontecimentos da vida de Tolkien, que faz o espectador ficar confuso e se atrapalhar na linha do tempo do filme. E quem vai para saber mais sobre suas principais obras acaba decepcionado, tudo é abordado de forma superficial, o foco está na trajetória do autor. Se o foco estava em abordar uma história real, acaba por sair dos trilhos com grandes acontecimentos abordados isoladamente e sem conexão, o que prejudica o resultado final.
Nicholas Hoult (A Favorita) tenta entregar um personagem cativante e um escritor capaz de enxergar coisas que outras pessoas não conseguiriam, um homem à frente de seu tempo, e em boa parte da trama consegue, mas peca em contornos mais dramáticos, principalmente quando quase foi abatido pela guerra. É uma atuação honesta, mas sem grandes alardes. Já Lily Collins (Simplesmente Acontece) vai além, esperava-se que ela seria meramente uma coadjuvante, mas sua personagem ganha camadas e grande importância não só na vida do protagonista, mas no desenrolar da história, sendo importante na transformação e evolução de Tolkien, que antes não tinha objetivos certos , mas depois se encontrou e traçou um rumo para sua vida.
Um filme sobre amor, guerra e amizade, tendo esse último tema se sobressaído, com o forte laço construído por Tolkien com seus companheiros, Christopher Wiseman (Tom Glynn-Carney), Robert Gilson (Patrick Gibson) e Geoffrey Smith (Anthony Boyle) que se tornaram vítimas da I Guerra na Batalha de Sommes. Uma produção que prometia muito e poderia ter entregado muito mais.
Cotação: 2,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota



























