A vida é composta por aprendizados, momentos únicos e também por armadilhas, e é necessário muito jogo de cintura e esperteza para não pisar em falso. Essa última premissa está contida em ‘A Grande Mentira’ (The Good Liar), novo filme de Bill Condon (A Bela e a Fera) que traz duas grandes estrelas em seu elenco, dentre elas Ian McKellen (Sr. Sherlock Holmes) e Helen Mirren (Anna-O Perigo tem Nome). Um verdadeiro jogo de gato e rato e um suspense envolvente para fisgar o público e deixá-lo ainda mais ansioso para o que está por vir.
Inspirado no best seller homônimo de Nicholas Searle, a narrativa nos mostra o golpista Roy Courtnay (McKellen), que tira a sorte grande e conhece por meio de um site de relacionamentos Betty McLeish (Mirren), uma viúva rica e de puros sentimentos. Após Betty abrir sua casa e sua vida a ele, Roy se surpreende e começa a ter uma grande afeição e passa a se importar de verdade com ela, mesmo que não de seu plano e de seu real objetivo, o de roubar toda a sua fortuna.
O primeiro atrativo do filme está na apresentação dos personagens. Roy, um vigarista ganancioso, e Betty, uma mulher solitária e de alma nobre. Ao notar toda a bondade e aparente ingenuidade da vítima, o golpista vai com tudo para cima dela e apresenta ao espectador um plano impressionante e que parece infalível. Já a viúva conta de vez em quando com a visita do neto Stephen (Russel Tovey), um grande pesquisador e especialista em História e que pode ser uma grande pedra no sapato de Roy. O primeiro ato é um convite a um grande suspense e espionagem, mostrando ao público como o ser humano é capaz de se encaixar nas mais diversas situações e o quanto sua mente pode ser manipulada, além do comportamento, que pode dizer muito sobre a pessoa.
Na medida em que o tempo passa e Roy vai percorrendo as etapas de seu próximo golpe, notamos o charme e elegância que o protagonista imprime para chamar a atenção, seduzir sua vítima e fazê-la cair em sua rede. As palavras proferidas, compostas por algumas expressões de efeito, além da combinação da roupa com o ambiente e as conversas articuladas com Vincent (Jim Carter), o cúmplice, são impressionantes, e em dados momentos nos faz acreditar em tudo aquilo que está diante dos nossos olhos. Já Betty também é uma surpresa, ela visivelmente se mostra atraída por Roy, ao mesmo tempo que demonstra ser muito observadora e não é tão boba quanto se pensa.
A montagem e edição também são pontos favoráveis, o tempo presente é perfeitamente aliado ao passado, que traz o período triste da Segunda Guerra e o ambiente da Alemanha nazista. Os acontecimentos pretéritos ajudam a solucionar o enigma e também a conhecer a verdadeira face de Roy Courtnay e se existe uma possível conexão de sua vida com a de Betty McLeish. O plot twist é o maior atrativo da história, que nos faz lembrar da abordagem de Alfred Hitchcock, com um thriller impactante e uma intensa investigação.
Se o enredo e os aspectos técnicos se destacam, o trabalho feito com os dois protagonistas se sobressai, com ambos conduzindo a história com qualidade, equilíbrio e muita intensidade do início ao fim. O espectador até compreende os comportamentos de ambos os personagens, mas sabe que são reprováveis na vida real. A sagacidade de Ian McKellen e a sutileza de Helen Mirren são excelentes ingredientes para uma história que requer não só atenção, mas também parcimônia para acompanhar e encaixar todas as peças de um quebra-cabeça complexo e cheio de caminhos a percorrer. Um enredo agradável de se acompanhar, com muitas surpresas e um desfecho para deixar qualquer um boquiaberto.
Um longa que apresenta um importante estudo sobre a natureza humana, ‘A Grande Mentira’ oferece um grande entretenimento, além de uma história atraente e regada por muito mistério e mensagens importantes. Por mais que erremos ou acertemos em nossas vidas, o preço pelas escolhas feitas é alto e o passado mais cedo ou mais tarde vai ao seu encontro, onde quer que você esteja.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
