
Demarcação de terras indígenas e preservação da natureza são temas há muito tempo discutidos e necessários na sociedade. No audiovisual, a produção luso-brasileira “Flor do Buriti”, dos cineastas João Salaviza e Renée Nader Messora, aborda esses temas, bem como estimula as pessoas a pensarem e agirem, bem como a resistirem à exploração feita pelo homem branco.
A obra ilustra os últimos 80 anos dos Krahô, povo indígena que vive no norte do Tocantins, na fronteira entre Maranhão e Piauí, com a retratação das mais diferentes formas de resistência, como luta por maior liberdade, por terra, preservação dos ritos ancestrais e da natureza das comunidades nas quais vivem. Um dos massacres retratados foi um ocorrido em 1940, no qual fazendeiros da região mataram pelo menos 26 pessoas do povo Krahô.
A narrativa é não-linear e se dá por meio das memórias compartilhadas entre os indígenas, com reconstituições dos fatos de décadas diversas até os dias de hoje, como uma forma de incentivar os Krahô a sempre se reinventarem e nunca se calarem diante dos exploradores. As cenas são feitas por indígenas autênticos e sem o uso de imagens de arquivo para retratar os desmatamentos e chacinas experimentados pela região.
Há uma aura de suspense sobre o íntimo espiritual dos Krahô, que ocorre graças ao ritmo lento e contemplativo da narrativa, e com um jogo de sombra e luz sobre a aldeia e um corte abrupto para a transição entre passado e presente. As transformações e adaptações pelas quais os indígenas passam são mostradas com seriedade e sensibilidade, e notamos isso por meio de dois personagens, como um jovem que acompanha a política brasileira pela internet e um pajé que vigia uma criança e parte para uma viagem para Brasília. As percepções de mundo são distintas, mas a espiritualidade é praticamente a mesma.
“Flor do Buriti” é uma produção de cunho político, social e didático, com debates necessários em todas as comunidades, que ilustra a ideia do cuidado, do respeito e da tolerância. Vale toda a contemplação e reflexão.
Cotação: 5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
