Poltrona Cabine: 12.12-O Dia/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: 12.12-O Dia/Cesar Augusto Mota

Além do entretenimento, o cinema pode exercer importantes papéis no cotidiano, não só reacender uma memória de um período histórico, como também uma reflexão acerca da importância e influência deste na época até os dias atuais. Um importante acontecimento coreano é retratado em “12.12: O Dia”, com direção de Kim Sung-soo, que relembra tudo o que aconteceu no fim da década de 70, aliado às suas memórias. Uma experiência aterrorizante, para o realizador e todos os norte-coreanos.

Em 1979, a Coreia do Sul vivia sob o regime autoritário de Park Chung-hee, que fez o país avançar economicamente, mas com ferrenhas restrições políticas e sociais. Na noite de 12 de dezembro daquele ano, o presidente foi assassinado pelo próprio chefe de inteligência, proporcionando um mergulho em uma grave crise política. Com a lei marcial em curso, fica uma enorme lacuna no poder que abre espaço para um golpe de Estado que acaba por moldar o futuro do país.

A mistura de ficção com uma história inspirada em fatos reais traz uma aura assustadora e inquietante do que ocorreu na época, além de liberdade narrativa. O filme acaba por se tornar acessível a públicos diversos, com sua alta complexidade e a exposição de ambições, disputas de poder e os dilemas morais que marcaram o país asiático naquele período e similar ao vivido recentemente, com a dissolução do parlamento pelo ex-presidente Yoon Suk-yeol, restrição de liberdade de imprensa e seu processo de impeachment, ocorrido em seguida.

Saber um pouco da história da Coreia da Sul e compreender o que ocorreu por lá são dois pontos importantes para se enxergar o atual momento do país, que sofre até hoje com práticas antidemocráticas e com todo tipo de opressão à liberdade de expressão, de imprensa e de ir e vir. A combinação de registros de com fotos, arquivos históricos e consultas a militares ajudaram a contribuir com a autenticidade da obra, que trouxe um eficiente e qualificado resultado, uma aula sobre história e democracia.

E por falar em democracia, ela nunca pode ser negligenciada, pois todos os dias ela passa por grandes desafios e precisa ser garantida e defendida constantemente, contra todo tipo de abuso e opressão. Um filme que serve como sinal de alerta, não só para a Coreia do Sul, como para o Brasil, que viveu recentemente um verdadeiro atentado, mas que sobreviveu com bastante luta e resistência, em todas as suas esferas.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota