Poltrona Séries: Adolescência/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Adolescência/Cesar Augusto Mota

O advento da internet e das redes sociais vêm exercendo grande influência sobre os jovens de nossa sociedade. E até que nível é tolerável? Como evitar que o uso dessas ferramentas venha a virar problema? A série “Adolescência”, da Netflix, aborda esse assunto e traz uma trama policial bastante envolvente, sobre um possível envolvimento de um adolescente na morte de uma colega de escola.

Acompanhamos o garoto Jamie, de 13 anos, acusado de matar uma menina de mesma idade a facadas. Todos querem saber, dos pais à polícia, o que aconteceu? Que motivações um adolescente teria para cometer um crime tão chocante e bárbaro? Sofria bullying? Vivia relações tóxicas em casa e/ou na escola? Possuía algum vício? Aos poucos todas as dúvidas são sanadas durante os quatro episódios da minissérie em um clima de suspense e angustiante.

Um recurso interessante utilizado nesta obra foi o uso do plano-sequência, a gravação contínua das cenas e sem cortes, tudo para garantir a imersão do espectador na trama e explorar sua imaginação. As cenas de Jamie, da ansiedade às lágrimas, tudo é bem articulado, com um grande suspense acerca das provas do crime e do olhar incrédulo dos pais com a situação.

Esta série é um verdadeiro convite à reflexão sobre o cotidiano e o universo no qual os jovens estão inseridos hoje, do fácil acesso à internet, conteúdos de acesso livre nas redes sociais e que muitas vezes molda a opinião de crianças e adolescentes, discursos de ódio e a falta de regulamentação da internet. As atuações são memoráveis, o jovem Owen Cooper se sai muito bem como Jamie e o elenco traz muita autenticidade e dramaticidade ao contexto da história, tudo o que se esperava foi alcançado.

“Adolescência” é uma série instigante, reflexiva e que mexe com os nervos da gente. Ela liga o sinal de alerta acerca do comportamento dos nossos adolescentes e as influências ao redor deles. Uma abordagem corajosa e, sobretudo, necessária.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Manual de Assassinato para Boas Garotas/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Manual de Assassinato para Boas Garotas/Cesar Augusto Mota

Séries policiais e investigativas podem já estar batidas para algumas pessoas, mas e se o foco da obra não fosse a descoberta do verdadeiro autor do crime e sim o crescimento pessoal do investigador? Baseado no best-seller homônimo de Holly Jackson, “Manual de Assassinato para Boas Garotas”( A good Girl’s Guide to Murder), da Netflix, possui um toque de suspense juvenil, que se concentra em uma adolescente obstinada a desvendar um crime bárbaro em Little Kilton, uma pequena e pacata cidade inglesa.

A jovem Pippa (Emma Myers), 17 anos, resolve investigar a suposta morte de Andie Bell (India Lillie Davies), que ocorrera cinco anos antes após desaparecer repentinamente e seu namorado Sal (Raul Pattini) ter confessado o crime de homicídio antes de se suicidar. Sem confiar na versão da polícia acerca do caso, Pippa resolve explorar as inconsistências apresentadas nas investigações e utiliza o assassinato de Andie como pano de fundo para seu trabalho de conclusão de curso.

Não existe uma ruptura na estrutura clássica de uma obra investigativa, vemos checagem de pistas, o popular quadro com recortes de jornais e fotos de suspeitos, bem como linhas e setas traçadas para apontar conexões entre todos até chegar ao culpado, além dos interrogatórios, mas o que vemos é uma adolescente que resolve por si assumir as buscas por uma solução mais plausível, pois encontrou inconsistências em algumas provas na investigação oficial. Além disso, constatamos uma protagonista disposta a assumir os riscos que sua vida ocorre após reabrir um caso bárbaro e o dever de lidar com o criminoso no clímax da história.

Como dito inicialmente, vemos a evolução pessoal da personagem-central, que aprende a lidar com seus instintos, ouvir suas intuições e confiar em seus métodos investigativos para achar o verdadeiro autor do crime. E entendemos essa vontade de Pippa pois ela tinha uma ligação com a vítima e uma atitude de Pippa levou Andie até Sal, o principal suspeito conforme a investigação anterior. A história é dinâmica, pois são seis episódios com duração de quarenta e cinco minutos cada, o que evita pontas soltas na trama.

A história é sutil, bem amarrada, mas devido ao ritmo frenético, a história acaba por ficar prejudicada, pois os arcos dos personagens secundários não são bem desenvolvidos e muitos deles possuem apenas entradas pontuais na narrativa, o que prejudica o realismo do enredo. A experiência do espectador tem saldo positivo, um bom drama adolescente e uma investigação bastante tensa e envolvente, com um desfecho improvável e surpreendente. E, apesar dos problemas, a atuação de Emma Myers, que já havia se destacado em Wandinha, é o ponto alto, ela consegue mostrar a grande evolução que sua personagem teve ao longo dos seis episódios, como conseguiu proporcionar momentos de tensão, leveza e muito suspense até a resolução do caso.

“Manual de Assassinato para Boas Garotas”, apesar dos altos e baixos, é uma ótima opção não só para quem é fã de dramas adolescentes, mas também para os amantes de uma boa trama investigativa. Vale a pena.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Cobra Kai-6ª Temporada-parte 1/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Cobra Kai-6ª Temporada-parte 1/Cesar Augusto Mota

A divisão de temporadas de séries com uma leva de episódios em um primeiro momento e o restante em outro tem sido recorrente nos principais serviços de streaming. Desta vez, serão três partes para “Cobra Kai”. A quinta temporada já nos deixou grandes pontas e muitas expectativas, será que esses primeiros cinco episódios vão conseguir manter o engajamento e motivação do espectador?

Antes, os conflitos internos dos personagens, com traumas e questões sensíveis não resolvidas ditavam o ritmo, desta vez o início é diferente, com mensagens poderosas e os ingredientes que podem ser utilizados para que o dia a dia e a preparação dos jovens caratecas para um campeonato internacional seja descontraída e não tão desgastante.

Apesar do bom início nos episódios um e dois, essa primeira parte apresenta problemas de enredo e montagem. Os arcos dramáticos de alguns personagens ficam incompletos, com a impressão de pressa para a chegada ao clímax, outros eventos pela metade e o desenvolvimento de linhas do tempo falhas, com passagem de dia para a noite abruptas, algumas até mesmo em uma única cena, o que quebra o ritmo e a consistência da história.

Apesar das falhas, o espectador é brindado com o carisma de Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka), que juntos prometem virar a mesa com a junção de seus dois dojos e formar uma equipe difícil de ser batida. O ponto de virada dessa primeira parte está no encontro de um ponto em comum dos dois, como isso pode ajudar os competidores e de que forma eles podem ajudar os alunos fora dos treinos, nas questões pessoais.

Mesmo com a sensação de ducha de água fria, “Cobra Kai” ainda tem potencial para deixar o público motivado e ansioso para as duas sequências derradeiras, seja com sequências para divertir e quebrar o clima tenso dos treinos duros para as competições, bem como para o amadurecimento e as descobertas dos jovens caratecas durante a adolescência. Há entretenimento e didatismo, não só pancadaria.

Cotação: 3/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Geek Girl/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Geek Girl/Cesar Augusto Mota

Em um mundo cada vez mais exigente e competitivo, no qual há padrões de aparência e comportamento pré-definidos, a autoaceitação e busca por um lugar no mundo se fazem cada vez mais constantes. E não poderia ser diferente no mundo do entretenimento, com histórias que exploram todo esse universo e presentes no audiovisual, seja em filmes ou séries. Com bastante apelo popular, “Geek Girl”, da Netflix, com dez episódios curtos de trinta minutos, vem com uma proposta não só de entreter, mas de cativar o público com sua história e protagonista. Será que o resultado foi satisfatório?

Inspirado no best-seller homônimo de Holly Smale, acompanhamos Harriet Manners (Emily Carey), uma adolescente de quinze anos desajeitada e alvo de bullying na escola, vê sua vida mudar de forma drástica quando é descoberta por um agente de modelos durante uma excursão escolar e é lançada no glamouroso e desafiador mundo da moda. Harriet passa por uma dura transição e descobre que nem tudo são flores, tendo que enfrentar os percalços da adolescência, bem como as exigências de um mercado desafiador e implacável.

A narrativa possui um ritmo fluido e apresenta uma protagonista cheia de energia e muito otimista, apesar dos olhares desconfiados de seus colegas de escola, que a enxergam como uma garota esquisita. A importância da construção de amizades, a luta por espaço no mercado de trabalho, formas de se vencer as dificuldades da vida e o amor próprio são bem explorados ao longo dos episódios, e é possível evidenciar que a personagem-central é cativante e com senso de humor, apesar de sua dificuldade em interagir com as pessoas. O elenco de apoio complementa a protagonista, e vemos belas lições de companheirismo, respeito e tolerância.

A neurodivergência de Harriet é abordada de forma leve e cuidadosa, sem a pretensão de rotulá-la como uma pessoa autista. O foco da série é destacar as lutas e triunfos da protagonista, com sua individualidade e resistência devidamente evidenciadas. Além de uma boa história, com pitadas de comédia e drama, houve a preocupação em mostrar que somos únicos e com compreensão e tolerância é possível viver em harmonia. Harriet encanta a todos, nos brinda com suas habilidades na escola e nas passarelas, além de nos surpreender com suas reações quando aprende coisas novas sobre trabalho, amizade e armadilhas que a vida nos prepara.

“Geek Girl” chega para conquistar o público com um enredo divertido, personagens vibrantes e uma protagonista carismática, com uma abordagem direta, simples e importantes lições: não é necessário ser igual aos outros para se encaixar em um círculo social, e sim agir com naturalidade e simplicidade. E não é necessário fazer nada para agradar aos outros, basta ser você mesmo.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Magnatas do Crime/Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Magnatas do Crime/Cesar Augusto Mota

As adaptações têm sido cada vez mais frequentes na sétima arte, principalmente no tocante a séries baseadas em filmes. Guy Ritchie, famoso por produções como “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes’ e Snatch-Porcos e Diamantes’, agora tem essa missão e nos traz ‘Magnatas do Crime’, adaptação do filme homônimo de 2019, dirigido por ele mesmo, em uma série com oito episódios na Netflix. Deu bom ou ruim?

Nesse spin off, Theo James (White Lotus) vive Eddie Horniman, um soldado do exército britânico que assume as ruínas de uma grande propriedade rural da família, mas sem saber que esse império engloba uma grande plantação de maconha. Se não bastasse, mafiosos britânicos passam a querer um pedaço dessa operação e o que era para ser apenas uma missão de proteção da família de criminosos vira um fascínio pelo ambiente do crime.

Em um mix entre drama e comédia, a obra apresenta um enredo criminal com uma narrativa vibrante, personagens complexos, um clima de alta tensão, além de grandes ironias e sátiras nos diálogos. Os personagens femininos não ficam atrás e também ganham destaque, mas o excesso de machismo é um dos pontos negativos, o que acaba por prejudicar um pouco o enredo. E as redes de intrigas, lutas por poder e território ditam o ritmo até o fim.

O filme se caracteriza por uma narrativa não-linear e o emprego excessivo de violência, o que nos faz lembrar um pouco as obras de Quentin Tarantino. De quebra, somos brindados com humor ácido e múltiplas perspectivas dos personagens, tendo em vista as facetas e as complexidades de suas personalidades. Apesar de estar mergulhado no mundo do crime, o protagonista desperta empatia no espectador, que passa a se importar por ele e torcer por seu triunfo ante outros mafiosos, além de desejar que a família saia ilesa.

‘Magnatas do Crime’ proporciona uma experiência emocionante e repleta de surpresas, com frenéticas cenas de ação, muitos mistérios a serem resolvidos e algumas pontas soltas, que podem resultar em uma segunda temporada. Vale assistir.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota