
Filmes que trazem temas como vingança, impunidade e justiça são cada vez mais explorados pela sétima arte, principalmente no Brasil, país no qual há leis com muitas brechas, um Estado negligente e o sentimento de abandono por conta de um poder Judiciário e Legislativo ineficientes. “Atena”, dirigido por Caco Souza e protagonizado por Mel Lisboa, retrata a realidade de muitas mulheres, que sofrem violência física e psicológica e são vítimas de omissão das autoridades.
Atena(Lisboa), uma mulher que foi abusada pelo pai durante a infância, utiliza sua dor como motivação para combater a violência contra outras mulheres. Juntamente de Helena, uma sobrevivente, forma um grupo que atrai, captura e julga agressores. Carlos (Thiago Fragoso), um jornalista investigativo, acaba por descobrir a organização liderada por Atena e passa a acompanhar as atividades de perto. A vida de Atena toma um novo rumo quando desvenda o paradeiro do pai, em Montevidéu, e com a ajuda de Carlos, parte em busca de vingança.
A obra faz importantes debates sobre os valores sociais defendidos pela protagonista, como as implicações morais de Atena. Até onde pode alguém ir na busca por justiça? Vale ir contra os próprios princípios se não encontra suporte no Estado e no Judiciário? Questões bastante complexas que mexem com o imaginário e as emoções do público, não só dos personagens em tela. O desconforto e ressentimento de Atena são evidentes desde o primeiro ato, e o clima hostil vai aumentando na medida em que se aproxima do clímax, com desdobramentos inimagináveis.
Se a proposta é boa, falta conexão entre eventos no tocante às investigações e há pouca profundidade do personagem dinâmico, ou seja, o repórter Carlos, que poderia ser uma figura decisiva na resolução dos crimes. Além dele, outros personagens são desperdiçados, algumas cenas carecem de coerência e diversas pontas soltas. Falta uma montagem eficiente, uma linguagem cinematográfica que pudesse ser capaz de fisgar o espectador e com identidade própria, sem a necessidade de se recorrer a recursos utilizados em Hollywood, com o uso de flashbacks em cenas recém realizadas e o uso de textos invertidos em telas.
Com uma boa premissa e elenco talentoso, “Atena” peca em sua execução e roteiro frágil, e fica a sensação de que a história ainda não foi finalizada e que terá continuidade. Uma obra que tinha bom potencial, mas que acaba por ser desperdiçado, lamentavelmente.
Cotação: 2,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota