
Misturar realidade com fantasia e aliar o ambiente concreto com o lúdico pode chamar a atenção e fisgar o público para a proposta apresentada. Oferecer algo que fuja dos padrões pode ser uma saída para os cinéfilos já esgotados com reboots ou remakes de grandes franquias. E que tal uma obra inspirada no universo literário de Clarice Lispector? “Lispectorante”, de Renata Pinheiro, vem como uma alternativa para quem é ávido por novidades ou fã de publicações de grandes escritores.
Glória Hartman (Marcélia Cartaxo) é uma artista que enfrenta crise existencial e problemas financeiros. Ao retornar para Recife, sua cidade natal, ela se depara com o abandono do lugar e prédios em ruínas, com destaque para a casa de Clarice Lispector, no bairro da Boa Vista. A partir desse espaço, marcado por lembranças, a protagonista consegue visualizar momentos épicos e inicia uma jornada de transformação.
Apesar dos problemas cotidianos, Glória ainda encontra espaço para a imaginação, uma ponte entre realidade e ficção e um ponto de partida a partir das instalações da casa de Clarice Lispector. Memórias, criações e a forma como o tempo passa e deveria ser aproveitado também são trabalhados durante a trama, sem esquecer do legado da escritora. Não há adaptações de alguma obra, mas referências são feitas, como de “A Paixão Segundo G.H”, com a devida conexão com a narrativa proposta.
Mesmo com muita melancolia, pessimismo e incertezas da protagonista diante das mais diversas mazelas, a diretora nos mostra por meio dos pensamentos e palavras de Clarice Lispector ser possível sonhar, contemplar a fantasia e trilhar novos caminhos. A liberdade de criação proporciona múltiplas escolhas e diversas possibilidades, seja de saída para os problemas ou a chance de trilhar novas histórias.
“Lispectorante” não só é sinônimo de uma grande viagem entre o épico e o real, mas um culto ao cinema e à literatura. Uma experiência que tem tudo para ser inesquecível.
Cotação: 5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota