
A prática esportiva não só faz bem para o corpo e a mente como é capaz de proporcionar fortes vínculos entre as pessoas. E com o passar do tempo, é possível perceber mudanças, principalmente quanto ao círculo social. Dirigido por Hiroshi Okuyama, “Sol de Inverno” (My Sunshine) mostra não só isso, mas também quebra um paradigma que temos acerca das pessoas que vivem no Oriente, e com importantes lições.
Em uma pacata ilha japonesa, a rotina dos habitantes é marcada pela mudança de estações, e durante o inverno, a prática de hockey no gelo é bastante comum. Porém, o jovem Takuya não se mostra entusiasmado com o esporte, que tem como verdadeiro interesse a patinação artística, e se encanta pela performance da jovem Sakura. O técnico da jovem, Arakawa, ex-campeão da modalidade, vê potencial em Takuya e o incentiva a formar dupla com Sakura para uma futura competição. O vínculo entre eles fica mais forte e harmonioso, e resiste mesmo até a estação mais fria.
A abordagem sensível e delicada do comportamento oriental, com pessoas fechadas e introspectivas, vai aos poucos quebrando as expectativas em relação aos comportamentos que seriam esperados. Takuya, ao trocar o hockey pela patinação artística, poderia, aos nossos olhos, sofrer bullying pelo fato de o segundo esporte ser considerado feminino, mas não é o que ocorre. As mudanças de atitude e os comportamentos do jovem se dão de forma leve e sutil, e quase não são vistos conflitos durante a narrativa. A sensibilidade do personagem faz o espectador abraçá-lo e acompanhá-lo com muita atenção nessa nova jornada.
Além do bullying, a questão da homofobia também é abordada, mas de uma forma mais séria, com o conflito vivido por Arakawa, o professor de hockey. Porém, tudo se dá de uma maneira mais isolada, separado do enredo principal, acerca do aprendizado de Takuya com Sakura e o aprendizado do garoto na patinação artística. As mudanças de comportamento do garoto são bem aceitas, e o desfecho se dá de forma satisfatória, ao contrário do que acontece com Arakawa, pela falta de profundidade de seu conflito com todos os moradores da pequena ilha na qual se passa a trama.
Sensível, acolhedor e reflexivo, “Sol de Inverno” vem para aquecer o coração dos espectadores, bem como mostrar que se pode levar a vida de uma forma mais leve e descontraída em meio a obstáculos que se apresentem.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota