
A música é capaz de ilustrar não só os sentimentos, mas refletir o comportamento e a origem de um povo. No mês de Consciência Negra, “Razões Africanas”, documentário dirigido por Jefferson Mello, conta a história do Blues, do Jongo e da Rumba, três gêneros musicais oriundos dos Estados Unidos, Angola e Cuba, que representam o culto aos antepassados africanos, a reafirmação da negritude e a influência em outros estilos musicais, como jazz e country. Um verdadeiro tour, com a música sendo um dos grandes legados para manter vivas as tradições africanas.
Seis países foram percorridos para abordar essa herança do continente africano, com três personagens relatando acerca dos respectivos ritmos, o que eles representam para si e toda uma comunidade, além de relatos mais sérios, como toda a escravização e opressão sofrida pelos negros, a presença do Ku Klux Klan e relatos de que a música afro-americana seria anti-cristã.
Um verdadeiro deleite com as músicas, as paisagens retratadas, além do didatismo com os depoimentos de adeptos dos ritmos mencionados e relatos de historiadores acerca da diáspora africana na formação desses gêneros. As músicas ao fundo dos depoimentos é um dos recursos utilizados, assim como as danças nos respectivos palcos que acabam também por se tornarem personagens da obra, sem esquecer de uma abordagem mais séria, com temas que são necessários, como intolerância religiosa, racismo e preconceito.
Quem não conhece ou sabe pouco sobre o Jongo, a Rumba e o Blues, não só se encanta pelas melodias e as letras, como também pelas danças e coreografias, bem articuladas e com vários significados por trás. Além de um deleite, o documentário exerce um papel informativo e de denúncia, desde os porões dos navios, as viagens por terra, os maus-tratos em senzalas até a onda de racismo que impacta nossa sociedade nos dias de hoje. Apesar dos tempos difíceis, as tradições africanas, presentes no Brasil e em várias partes do mundo, resistem e se mostram que ainda estão vivas e que há quem se disponha a mantê-las acesas.
Lúdico, didático e sensível, assim se pode definir “Razões Africanas”, que proporciona um interessante e necessário debate sobre música, preconceito e cultura, tão presentes no nosso cotidiano e que não podem se perder pela ignorância, ojeriza e intolerância. Não deixe de acompanhar, essa produção vem para informar, entreter, impactar e, sem dúvida, ficar na memória. Não deixe de acompanhar.
Cotação: 5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota