
Fazer um retrato de um momento delicado da vida não só requer ousadia, como também os elementos certos. Uma boa história, montagem e fotografia sem dúvida ajudam, mas será que “Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal”, que conta com o renomado diretor Barry Jenkins (Moonlight) na produção e direção de Raven Jackson, utilizou de algum desses itens?
A produção está ambientada nos anos 60, nos Estados Unidos, período no qual a jovem Mackenzie cresce em meio a zona rural no Mississipi, tendo enfrentado algumas complexidades, como perdas, amores e conexões familiares. A trajetória é ilustrada desde a infância até a velhice da protagonista, com suas devidas transformações pessoas aliadas à viagem no tempo.
A narrativa é não linear, são abordadas as relações entre corpo e natureza, bem como as imagens são com pouca luz, para sinalizar os sentimentos dos personagens. A vida da personagem-central se dá de maneira cíclica, há registros de poucos diálogos e o foco se dá na imersão, ou seja, fazer o espectador se inserir no ambiente da protagonista e fazê-lo ter as mesmas emoções que ela.
O longa tem uma boa proposta, de ser um filme de sentimento e de diálogo entre o som e os gestos das pessoas, mas fica a sensação de um vazio por conta das pontas soltas, não há um conflito e falta profundidade aos personagens. Em dados momentos, há problemas com a câmera, quem deveria aparecer pelo menos em meio plano acaba por ter a cabeça fora da tela, há alguns cortes abruptos e o melodrama, esperado com o espectador, só aparece no desfecho, com uma música incidental.
“Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal” possui uma boa criatividade visual, mas peca no roteiro, que priorizou o visual e com pouca história e conversas. Uma obra com gosto de quero mais.
Cotação: 3/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota