
Contar histórias fascinantes com um misto de ficção e realidade não é para qualquer um. Já vimos obras como ‘Game of Thrones’ e ‘Vikings’, com efeitos CGI e muita magia, mas essa produção da Netflix é bem diferente. Inspirada em Crônicas Saxônicas, série de livros escrita por Bernard Cornwell, ‘The Last Kingdom’ aborda em sua primeira temporada os dois primeiros livros, ‘O Último Reino’ e ‘O Cavaleiro da Morte’, ilustrando a Inglaterra dividida em diversos reinos e dominada pelos vikings, no século IX, D.C. O protagonista da narrativa terá que fazer uma escolha difícil, lidar com as consequências e lutar pelo que é seu por direito.
Nos primeiros oito episódios, acompanhamos a trajetória de Uthred, filho do líder de Bebberburg, no norte da Nortúmbria, um dos reinos da Grã-Bretanha. Ele e o pai atestam a chegada de vikings nos arredores, e partem para o combate. O jovem testemunha a morte do pai e é levado como escravo, juntamente da amiga Brida, por ‘Ragnar, o Intrépido’. Apesar da condição de escravo, Uthred e Brida são criados como parte da família de Ragnar, e ambos acabam por absorver as crenças e hábitos dos vikings. Em um ato de vingança, Uthred perde sua família dinamarquesa e acaba por fugir para o reino de Wessex, ainda não dominado por vikings. Ele passa a usar técnicas e estratégias dinamarquesas que aprendeu para ajudar o rei Alfredo com o intuito de recuperar Bebberburg, tomada por seu tio traidor.
Chama a atenção os conflitos internos que vive Uthred, ele foi criado e vive como dinamarquês, mas quer voltar às origens. O protagonista é saxão de origem, mas renega o cristianismo, utiliza preceitos dos costumes vikings e jura amor ao seu povo, o que lhe recebeu de braços abertos. Já sua amiga Brida renega a origem saxã e se assume viking, o que provoca uma certa confusão mental em Uthred. O público fica confuso com o que ocorre com o personagem principal, mas essas disparidades que ele vive são apenas o início dessa frenética aventura, que vai envolver muita violência e momentos de tensão.
A série faz uma rica abordagem sobre como o reino britânico era organizado e os preceitos vigentes na época, além de um importante debate sobre dogmas religiosos e a identificação de uma pessoa com sua nação e o sentimento de pertencimento àquele território ou país. A fé cristã e a posição da igreja são bem-abordados, mostrando como esta reage quando alguém é diferente aos seus dogmas. A questão das batalhas e invasões não fazem parte apenas do universo do protagonista, mas também do contexto histórico da Grã-Bretanha.
As cores utilizadas são bem vivas nos embates, mas no reino de Wessex são na cor cinza, os personagens usam figurinos que lembram os guerreiros de Esparta. Não há grandes comemorações após vitórias nos confrontos, e o uso de CGI é bem escasso. Apesar da restrição orçamentária, alguns efeitos especiais poderiam ter sido utilizados para dar mais realismo aos confrontos, mas isso não prejudica o andamento da série, que traz grandes emoções e reviravoltas. O espectador fica com vontade de acompanhar cada minuto e movimento na tela e o deixa mais ansioso para a conclusão da primeira temporada.
Uma produção recheada de personagens consistentes, uma narrativa bem construída e ótima representação visual. Uma boa sugestão a quem aprecia séries de época e com um pouco de realidade.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota