Poltrona Cabine: Doutor Sono/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Doutor Sono/ Cesar Augusto Mota

Desde que vieram à tona reclamações de Stephen King acerca do filme ‘O Iluminado’ (The Shining), adaptação de seu livro de título homônimo e dirigida por Stanley Kubrick, várias dúvidas e muitas desconfianças surgiram sobre a nova produção prestes a chegar aos cinemas. ‘Doutor Sono’ (Doctor Sleep), inspirada na obra de 2013 de King, é uma continuação dos eventos que ocorreram em 1980 e sob a direção de Mike Flanagan (A Maldição da Residência Hill), cuja missão é a de alcançar maior audiência, tendo em vista que boa parte dos fãs do horror está mais acostumada à produção de Kubrick. Será que passa no teste?

A narrativa conta a história de Danny Torrance (Ewan McGregor), e o ponto de partida está após a fuga do Hotel Overlook, palco de eventos insanos e traumáticos pelos quais ele passou ainda criança. Já adulto, Danny tem o álcool como válvula de escape e acaba por conhecer Abra Stone (Kyliegh Curran), uma garota que possui poderes tão fortes como ele, dentre eles o de ler mentes e enxergar espíritos. Os dois passam a ser alvo do grupo Verdadeiro Nó, liderado por Rose-A Cartola (Rebecca Ferguson), que se alimenta de seres brilhantes, ou melhor, de Iluminados.

Mesmo com um ritmo lento no início, Flanagan é conhecido por primeiramente apresentar e delinear as características dos personagens de suas histórias antes de entrar no conflito principal. E um dos seus trunfos iniciais está em manter o clima perturbador e a atmosfera macabra do filme antecessor, fazendo as devidas conexões com as duas obras. Existem referências famosas, como o corredor banhado de sangue, a aparição das meninas gêmeas, Danny andando de triciclo no corredor, dentre outras, mas cada uma delas possui funções na trama e não estão na tela em nome da nostalgia. E claro, a trilha sonora característica de ‘O Iluminado’ não poderia ficar de fora, tendo em vista que ambas as histórias estão diretamente ligadas, com o antes e o depois de Danny, que precisa saber lidar com seu trauma e encontrar sua catarse.

Além da alta complexidade e da boa condução da história, outro atrativo está no elenco, com cada intérprete imprimindo seu estilo e trazendo novidade e dinamismo à produção. Rebecca Ferguson (Missão Impossível: Efeito Fallout) mostra que sua personagem é repleta de camadas e dela se pode esperar tudo, das mais diferentes habilidades como formas de execução de suas vítimas e a ocasião certa para atacá-las. Ewan McGregor (T2 Trainspotting) consegue transmitir o tamanho do trauma de Danny Torrance, além de suas virtudes, mas o que pesa contra sua atuação está na tomada de decisões, que não impactam tanto na narrativa, sendo ofuscado por Abra, vivida por Kyliegh Curran, que acaba por se tornar seu braço-direito e uma força contra o Verdadeiro Nó.

E não poderia deixar de ser destacado o trabalho de efeitos especiais, como as cenas que se desenrolam nas mentes dos dois personagens Iluminados, bem como o brilho os olhos dos integrantes do Verdadeiro Nó em verdadeiros massacres, com vampiros abocanhando suas presas. A montagem também favorece e deixa a narrativa bem fluida, e a inserção dos ambientes do primeiro filme com atores dotados de semelhança física aos do original também motivam o público a acompanhar os desdobramentos da trama, que vai rememorar grandes momentos, além de esperar por novidades. E elas acontecem no conflito final, com sensações claustrofóbicas, desastres iminentes e ganchos para possíveis sequências.

Cativante, envolvente e perturbador, ‘Doutor Sono’ vem com a proposta não só de valorizar o legado deixado por um dos maiores diretores da história como o de pensar fora da caixa e desviar das fórmulas conhecidas dos filmes de horror e suspense, com os populares jump scares e o uso de sombras nas sequências de perigo iminente. Há um respiro para o gênero, e isso começa pela mente criativa de seus realizadores, a começar por Mike Flanagan.

Cotação: 3,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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