A empatia, o respeito e a aceitação são essenciais no convívio social, seja quais forem as raças, crenças e opções sexuais das pessoas. Mas, infelizmente, não vemos isso como gostaríamos e somos testemunhas de casos de discriminação, violência física e emocional. Baseado no livro homônimo da escritora Emily M. Danforth e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance, ‘O Mau Exemplo de Cameron Post’ (The Miseducation of Cameron Post), de Desiree Akhavan, faz uma ab ordagem necessária e ao mesmo atual de uma situação ainda não aceita pela sociedade e que há tempos vem sendo combatida.
Em 1993, a jovem Cameron Post (Chloë Grace Moretz) é pega em flagrante em uma relação homossexual. Para que ela seja tratada, sua família resolve levá-la para uma escola cristã que tem o objetivo de converter jovens gays ou que tenham se rendido a outros tipos de pecado. Lá ela conhece outras pessoas com sua mesma opção sexual e aos poucos consegue se enturmar, mas vai encarar métodos um tanto cruéis, intolerantes e insanos aplicados pelos responsáveis da God’s Promise, o centro religioso voltado para a “cura” de homossexuais.
O roteiro aborda temas de tamanha importância na atualidade e que já levantavam polêmica na época em que se passa a narrativa, como o fanatismo religioso, a questão da homossexualidade e a aceitação por parte da própria pessoa e do meio social em que está inserido. Os habitantes do local onde ocorre a trama demonstravam ser ultraconservadores e não tolerantes com costumes que consideravam díspares. A abordagem de denúncia se mostrou evidente e importante, além dos métodos anacrônicos e preconceituosos que poderiam ajudar os jovens tratados como discípulos do referido centro religioso. Contexto pesado e exagerado? Sem dúvida, e em dados momentos há certas ironias, como algumas doutrinações que são feitas e os diálogos entre os personagens questionando os ditos “ensinamentos” que recebiam.
O título do filme em português traz uma certa polêmica: Mau exemplo? O que ocorre com a protagonista não é uma questão de mau exemplo, mas de descoberta da sexualidade durante a adolescência e aceitação de identidade, que é reprimida pelos líderes da God´s Promise, que chega a ensinar aos internos para odiarem a si mesmos. Algo assustador e reprovável, e a forma como os adolescentes reagem aos métodos não só chama a atenção como enche os olhos de quem acompanha a jornada de cada um dos jovens, mesmo pressionados não estão dispostos a dar o braço a torcer, a preferência sexual é algo que s e atrela à identidade de cada um deles e que deve ser respeitada.
A proposta do filme não é apontar o que é certo ou errado e tampouco impor premissas religiosas, mas o de mostrar o quão é importante ter empatia e que a tolerância e respeito devem prevalecer nas relações humanas. No quesito narrativa, vários pontos ficaram em aberto, como os conflitos das famílias com os demais discípulos e o clímax, quase que inexiste. Apesar de pequenas falhas, a abordagem é mais do que válida, com atuações que transmitiram veracidade e sinceridade de todos, com cenas altamente dramáticas e a sexualidade explorada de forma moderada, mas com algumas cenas quentes.< br />
A sexualidade é uma questão ainda complexa, não precisa ser explicada, mas compreendida. E isso é feito de forma didática e sensível, apesar de alguns buracos na narrativa. O resultado é satisfatório e agrada a quem acompanha. A denúncia contra discriminação se faz necessária, mas a conscientização e a educação também.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
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