Um bom filme sempre começa por um bom roteiro, e esse tem que oferecer uma história atraente para o público, com dinâmica, personagens convincentes e, se possível, alguma surpresa. A proposta de ‘Happy Hour-Verdades e Consequências’, de aliar os dramas do cotidiano com a comédia para tecer críticas à sociedade, à política e também combater o machismo, é até interessante, mas será que o diretor Eduardo Albergaria, em coprodução argentina, conseguiram alcançar o resultado esperado?
Horácio (Pablo Echarri) é um professor universitário frustrado que tem uma reviravolta em sua vida quando ele ajuda a prender acidentalmente um notório criminoso da cidade. Após virar celebridade, ele decide contar a sua esposa, Vera (Letícia Sabatella), sobre o seu desejo de ter um relacionamento aberto e se relacionar com outras mulheres fora do casamento. A fama, essa revelação e os holofotes chegam para Vera em um momento delicado de sua carreira, quando ela está prestes a se candidatar à prefeitura do Rio de Janeiro. Todo esse turbilhão mexe com o casamento e coloca a relação de ambos em risco.
O roteiro apresenta diversos elementos, porém todos apresentados de forma desordenada, confundindo o espectador no início do filme, que demora a assimilar o que está acontecendo. O que poderia ser interessante acaba soando como clichê, como a ideia de um professor flertando com uma aluna, ideia explorada à exaustão em comédias dramáticas, além do machismo e da traição por vingança. Se a intenção era explorar temas como o casamento e a infidelidade, faltou criatividade que pudesse despertar o interesse e a motivação do público, que se sente exausto e entediado.
A parte mais séria da história, da deputada candidata à prefeita, traz importantes reflexões e questionamentos para o espectador: vale a pena viver de aparências e tudo é válido para se alcançar seu objetivo, mesmo que isso signifique infelicidade conjugal? O lado mais sério da narrativa funciona e a curiosidade só é desfeita no fim, de uma forma precisa. E o núcleo cômico secundário, dos assessores e membros do comitê de campanha que preparam Vera das formas mais bizarras para o sucesso, conseguem arrancar risos da plateia, apesar do roteiro falho.
No campo das atuações, Pablo Echarri (No Fim do Túnel) apresenta um personagem inicialmente carismático, mas que depois se perde na trama. O argentino Horácio Di Pietro deixa claro no começo qual seu objetivo, mas depois que se vê encurralado pela esposa e toda a situação de sua fama instantânea e do iminente divórcio, ele não sabe para onde correr e isso provoca confusão na mente do espectador e a história perde um pouco de substância, ele não consegue processar rapidamente uma resposta para todos esses conflitos e só consegue resolver nas proximidades do fim do último ato, quando a plateia já assimilou tudo e es tá prestes a esquecer o que aconteceu na história. Leticia Sabatella (Chatô-O Rei do Brasil) cumpre bem sua função, mas insuficiente para segurar uma história que mais parece uma colcha de retalhos, com vários itens reunidos e jogados, sem um mínimo de equilíbrio e concisão. E destaque positivo para Luciano Cáceres (As Ineses), no papel de Ricardo, amigo de Horácio, uma espécie de alívio cômico na trama. Se ele começa como quem não queria nada, entra de bicão no imbróglio do casal e protagoniza cenas das mais hilárias, de cair da cadeira, É, sem dúvida, um personagem que não pode ser considerado avulso e importante para o desenrolar da história.
Um filme com um roteiro irregular e com sérios problemas de execução. ‘Happy Hour-Verdades e Consequências’ poderia trazer um resultado mais satisfatório e trazer um interessante intercâmbio entre os cinemas brasileiro e argentino, mas o que se vê é um catadão de ideias e uma produção feita às pressas, lamentavelmente.
Cotação: 2,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota