Poltrona Cabine: Suspiria-A Dança do Medo/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Suspiria-A Dança do Medo/ Cesar Augusto Mota

Nos últimos anos, temos notado a febre dos remakes no cinema e em seus mais diversos gêneros, do drama até mesmo ao terror, com algumas produções bem-feitas, e outras nem tanto. Repetir o sucesso da produção original é um grande desafio, especialmente para o italiano Luca Guadagnino (Me Chame pelo Seu Nome), que tenta recriar a atmosfera perturbadora e sufocante de ‘Suspiria’, filme de 1977 do consagrado Dario Argento. Mas será que ‘Suspiria-A Dança do Medo’ teve um grande resultado e Guadagnino acertou a mão ou foi mais uma refilmagem descartável?

A história nos mostra a jovem americana Susie (Dakota Johnson) partindo para Berlim Ocidental, em 1977, a fim de estudar em uma conceituada academia de dança, a Markos, com uma vaga se abrindo após uma das dançarinas, Patricia (Chloë Grace Moretz) ter desaparecido misteriosamente. Coisas estranhas começam a acontecer no local, com alunas sofrendo de problemas mentais e físicos ao passarem por ali e um grupo de bruxas em disputa pelo poder. Madame Blanc (Tilda Swinton), a professora linha dura, e Helena Markos, também vivida por Tilda Swinton, dominam as atenções, deixando o ambiente ainda mais sombrio e perturbador.

O roteiro foge da tradicional narrativa clássica, com três atos. A história é dividida em seis atos e um epílogo, e logo de cara o espectador se depara com as bruxas da academia Markos, o que não ocorreu na versão original. Há uma mescla entre o melodrama e o terror psicológico, com perfeitas angulações de câmera e filtros vermelhos para dar mais ênfase à violência psicológica e física das personagens, além do destaque ao gore, com muito sangue e órgãos à mostra. Outros atrativos estão na contextualização da história em meio a cobertura feita pela imprensa ao caso “Lu fthansa Flight 181”, um famoso sequestro de um avião de passageiros pela Frente Popular de Libertação da Palestina, além de flashes que remetiam à memória do holocausto.

Temas como maternidade e feminismo ganham força na história, com ‘Suspiria’ sendo recontada na visão do diretor, mesclando diversos ingredientes e o peso que o passado pode ter sobre o presente, além de uma visão sobre o sonho e a chegada da morte. Não há jump scares durante a narrativa, mas toda a ambientação, as cores frias empregadas, o vermelho utilizado em alusão ao sangue, tudo isso valoriza o sobrenatural e provocam angústia e arrepios no público, que se envolve cada vez mais com o ambiente e o terror que o domina, principalmente quando o antro de bruxas está em cena ou os danos físicos experimentados pelas dançarinas. O filme está mais violento e também mais onírico em relação ao original, e não é preciso muito esforço para envolver e impressionar o público, quem viu o primeiro filme pode não sentir muito a diferença, mas quem vê essa nova versão sem dúvida vai desfrutar de grande experiência e não vai esquecer do que viu, principalmente do desfecho do sexto ato.

E os principais destaques ficam por conta de Tilda Swinton e Dakota Johnson, com a primeira numa expressão hipnotizante e com forte presença em cena, capaz de influenciar e dominar todos ao seu redor, já a segunda revela várias faces e provoca uma série de reações nos espectadores, desde a curiosidade até a angústia. A transformação pela qual Dakota passa é impressionante, sem dúvida uma das melhores atuações de sua carreira. E Guadagnino tem mérito em seu desempenho como de todo elenco, que se entregou de corpo e alma ao projeto. Embora o remake apresente alguns pontos falhos, oferece novas opções ao público, que desfruta de uma produção interessante de causar arrepios.

Muitos possuem medo do novo, ‘Suspiria’ foge da repdoução do original e oferece elementos dignos de um terror psicológico apurado, tão em voga na atualidade. Vale muito a pena acompanhar.

Cotação: 3,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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