É diante das adversidades que o ser humano cresce e é capaz de ter outra percepção do que está ao seu redor. Você certamente já ouviu muito essa expressão, não é verdade? E justamente é o que ocorre com o protagonista de ‘O Tradutor’ (Un Traductor), filme dos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso, com Rodrigo Santoro como protagonista. Quem acompanhar vai sentir que seus problemas são bem pequenos diante de vítimas de uma tragédia que devastou um país e deixou sérias sequelas, inclusive para as próximas gerações.
A narrativa nos apresenta a história do professor Malin (Santoro), que ensina literatura russa na Universidade de Havana, e passa a ter sua vida transformada após lhe ser designada a missão de ser tradutor para crianças vítimas do acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, tendo sido enviadas para o hospital da capital cubana para tratamento de câncer e leucemia. A partir daí, não só sua rotina de trabalho, mas seu dia a dia em casa não seriam mais os mesmos.
Na medida em que os dias estão passando e o professor Malin entra e sai do Hospital de Havana, nota-se que o protagonista fica cada vez mais envolvido com os pacientes, um garoto que sofre de leucemia e uma menina com leucemia que não conseguia resistir ao tratamento e tomava altas doses de morfina para amenizar as dores. Malin não se via somente como um tradutor, mas uma espécie de guardião, que poderia tornar o dia daquelas crianças um pouco mais feliz, apesar das consequências de um terrível episódio e das sequelas em seus organismos. O professor passou a mostrar mais seu lado humano no segundo ato, estimulando meninos e meninas a aproveitar os benefícios da vida, bem como diverti-las, incentivando-as a ler e desenhar e nunca deixar a tristeza tomar conta delas.
O roteiro tem uma clara proposta, a de humanizar o personagem-central da história e mostrar que ele tem objetivos claros e conscientes, e que não está ali apenas para funções burocráticas. Mas toda atitude tem uma consequência, se ele mostrou cumplicidade ao lado da enfermeira Cladys (Maricel Álvarez ), ele já não tinha mais o mesmo comportamento ao lado da esposa Isona (Yoandra Suárez) e do filho Javi (Jorge Carlos Herrera). Apesar de seu afastamento da família, o professor Malin não desperta desprezo do público, muito pelo contrário, seus gestos de amor e solidariedade para com as crianças são bastante enaltecidos, afinal, ele estava fazendo o melhor que podia.
Outra característica do filme é o de também possuir uma roupagem documental e de denúncia, para não só relembrar o desastre de Chernobyl, como para mostrar que certas tragédias podem ser evitadas e que o ser humano pode ser um bom guardião do meio-ambiente, desde que esteja ciente de seu papel e de que possui condições de cuidar bem do planeta Terra e de torná-lo ainda mais saudável. E o desfecho não poderia ser melhor, de grande redenção do protagonista.
Rodrigo Santoro, em alta na sua carreira, entrega um personagem carismático, solidário, tímido e com coração grandioso. Com início comedido, ele passa por uma enorme transformação e mostra ao espectador que não há como sair ileso diante de uma missão tão nobre como a que lhe foi atribuída e que existem pessoas que vivem em situações piores que nós e que não reclamam da vida. O professor Malin tira tudo de letra e arranca aplausos e admiração do público com seu comportamento, digno e altruísta. E o elenco de apoio também tem papel importante na trama, e faz as atitudes de Malin terem ainda m ais valor. Ponto para os irmãos Barriuso, que quiseram trazer um filme emocionante e ao mesmo tempo real.
‘O Tradutor’ é um misto de realidade e ficção, com muitas emoções e mensagens importantes sobre vida e respeito ao ser humano. Sem dúvida vai sensibilizar e tocar nos corações de todos.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
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