Poltrona Estreia: Estreias da Semana/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Estreia: Estreias da Semana/ Cesar Augusto Mota

 

A Sereia-Lago dos Mortos

Terror, direção de Svyatoslav Podgayevskiy

Sinopse: Uma sereia malvada se apaixona por Roman, noivo de Marina, e tenta mantê-lo longe dela em seu Reino submerso. Marina terá apenas uma semana para superar o medo do oceano, lutar com monstros e se manter viva e na forma humana.

 

Climax

Suspense, direção de Gaspar Noé

Sinopse: Nos anos 90, um grupo de dançarinos urbanos se reúnem em um isolado internato, localizado no coração de uma floresta, para um importante ensaio. Ao fazerem uma última festa de comemoração, eles notam a atmosfera mudando e percebem que foram drogados quando uma estranha loucura toma conta deles. Sem saberem o por quê ou por quem, os jovens mergulham num turbilhão de paranoia e psicose. Enquanto para uns, parece o paraíso, para outros parece uma descida ao inferno.

 

Normandia Nua

Drama, direção de Philippe Le Guay

Sinopse: Georges Balbuzard (François Cluzet) é o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos a tirarem a roupa.

 

O Menino que Queria Ser Rei

Aventura, direção de Joe Cornish

Sinopse: Alex (Louis Serkis) é um garoto que enfrenta problemas no colégio, por sempre defender o amigo Bedders (Dean Chaumoo) dos valentões Lance (Tom Taylor) e Kaye (Rhianna Dorris). Um dia, ao fugir da dupla, ele se esconde em um canteiro de obras abandonado. Lá encontra uma espada encravada em uma pedra, da qual retira com grande facilidade. O que Alex não sabia era que a espada era a lendária Excalibur e que, como seu novo portador, precisa agora enfrentar a meia-irmã do rei Arthur, Morgana (Rebecca Ferguson), que está prestes a retomar seu poder. Para tanto, ele conta com a ajuda do mago Merlin (Angus Imrie), transformado em uma versão bem mais jovem.

 

Uma Nova Chance

Comédia, direção de Peter Segal

Sinopse: Maya (Jennifer Lopez) é uma caixa de supermercado insatisfeita com sua vida profissional. Porém, tudo muda com uma pequena alteração em seu currículo e suas redes sociais. Com sua experiência das ruas, habilidades excepcionais e a ajuda de seus amigos, ela se reinventa e se torna uma executiva de sucesso.

 

Vice

Drama, direção de Adam McKay

Sinopse: Na juventude, Dick Cheney (Christian Bale) se aproximou do Partido Republicano ao ver na política uma grande oportunidade de ascender de vida. Para tanto, se aproxima de Donald Rumsfeld (Steve Carell) e logo se torna seu assessor direto. Com a renúncia do ex-presidente Richard Nixon, os poucos republicanos que não estavam associados ao governo ganham imediata importância e, com isso, tanto Cheney quanto Rumsfeld retornam à esfera de poder do partido. Décadas depois, com a decisão de George W. Bush (Sam Rockwell) em se lançar candidato à presidência, Cheney é cortejado para assumir o posto de vice-presidente. Ele aceita, mas com uma condição: que tenha amplos poderes dentro do governo, caso a chapa formada seja eleita.

Veja nossa crítica aqui.

Por: Cesar Augusto Mota

Uma Viagem Inesperada estreia em 28 de março

Uma Viagem Inesperada estreia em 28 de março

Rodada entre Rio de Janeiro, Buenos Aires e Bolívar, a coprodução entre Brasil e Argentina “UMA VIAGEM INESPERADA”, de Juan José Jusid, já tem data para estrear nos cinemas: 28 de março. Protagonizada por Pablo Rago e com participação especial de Débora Nascimento, a trama analisa uma família particular, mas que é reflexo da realidade de muitas famílias em qualquer parte do mundo.

Dentro dessa história está Pablo (Pablo Rago), de O Segredo dos Seus Olhos e A História Oficial, um engenheiro argentino que trabalha em uma empresa de petróleo no Rio de Janeiro e é responsável pela construção de uma nova plataforma petroleira, trabalho que o afasta da convivência familiar. Devido aos problemas com seu filho na Argentina, ele precisa voltar para o seu país natal e seguir uma viagem de reencontro com o garoto. Essa viagem, que dá título ao longa-metragem, termina no Brasil.

Em meio ao aumento das relações disfuncionais, das relações líquidas e passageiras, o longa busca explorar o que acontece quando um adolescente em crise provoca um choque em seu entorno e uma inevitável indisposição com seus pais. O filme se propõe também a revelar a violência que o bulliyng provoca nas famílias, e a dificuldade de pais, professores e suas vítimas, em enfrentá-lo.

Juan José Jusid é um dos diretores de maior êxito comercial na Argentina, pois representa um “selo de qualidade” com reconhecimento internacional. Assim como em outros filmes realizados pelo diretor, como Bajo Bandera, Asesinato en el Senado de la Nación e Apaixonados, a gestão da emoção é um forte componente da história de “UMA VIAGEM INESPERADA”.

No papel de Lucy, namorada de Pablo, a atriz Débora Nascimento ressalta o prazer de participar do longa. “Rodar o filme foi uma experiência incrível e muito enriquecedora. Apesar de sermos países tão próximos, Brasil e Argentina têm modos muito diferentes de trabalhar o seu cinema; e o mais legal foi ver que apesar de falarmos idiomas diferentes, a arte consegue quebrar essa barreira e imprimir nossa entrega nas telas. ‘Uma Viagem Inesperada’ me proporcionou aprender muito. Nas preparações, o diretor Juan José Jusid trabalhou muito em cima da nossa espontaneidade e dos nossos sentimentos, não tivemos um laboratório, foi tudo muito instintivo e real, e o Pablo (Rago) foi muito generoso dividindo tudo isso comigo. Além disso, eu pude praticar todo o meu bom ‘portunhol’ (risos), e talvez o melhor de tudo foi poder representar o nosso Brasil e toda nossa brasilidade de uma forma super respeitosa e real”, comemorou. Débora ganhou fama na Argentina depois que a novela Avenida Brasil fez muito sucesso na terra dos hermanos.

“UMA VIAGEM INESPERADA” foi realizado com recursos governamentais da Argentina (INCAA – Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual da Argentina) e do Brasil (FSA/BRDE, ANCINE – Agência Nacional de Cinema, por meio de patrocínio da Copagaz), uma produção da Funciona y Kuenta Producciones e Boulevard Filmes, com distribuição da Boulevard Filmes.

Sinopse
O engenheiro argentino Pablo vive feliz no Rio de Janeiro, ao lado da jovem Lucy. Ele se prepara para um momento importante na sua carreira: a inauguração de uma plataforma de exploração de petróleo. Mas o clima de comemoração dura pouco. Sua ex-mulher telefona para dizer que o filho adolescente do casal, Andrés, está prestes a ser expulso da escola. Pablo, então, deixa o Rio e volta a Buenos Aires, mas o reencontro com o garoto não será fácil.

Ficha Técnica

Direção: Juan José Jusid
Roteiro: Juan José Jusid, Cesar Gómez Copello e Oliver Kolker
Elenco: Pablo Rago, Tomás Wicz, Oliver Kolker, Débora Nascimento e Cecília Dopazo
Produtores: Letícia Friedrich, Lourenço Sant’Anna, Oliver Kolker e Hernán Findling
Produção: Boulevard Filmes, Funciona y Kuenta Producciones
Distribuição: Boulevard Filmes
Ano: 2018
País: Argentina, Brasil
Duração: 87 min
Classificação: 14 anos

Sobre a Boulevard Filmes 

A Boulevard Filmes é uma produtora e distribuidora audiovisual que busca o equilíbrio entre projetos autorais e demandas de mercado, focando em estratégias de produção e de distribuição compatíveis com cada projeto, tanto para cinema, quanto para TV e novas mídias. Entre seus lançamentos para as salas de cinema estão os longas “Amor, Plástico e Barulho” (Renata Pinheiro), “Filme Sobre um Bom Fim”(Boca Migotto), “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro” (Leo Garcia, Zeca Brito), “Histórias que nosso cinema (não) contava” (Fernanda Pessoa) e “Açúcar” (Sergio Oliveira, Renata Pinheiro), esté último com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2019.

 

Por Anna Barros

Maratona Oscar(republicado): Bohemian Rapsody/Cesar Augusto Motta

Maratona Oscar(republicado): Bohemian Rapsody/Cesar Augusto Motta

“Um bando de desajeitados cantando para desajeitados, um complementando o outro, somos uma família”. Com essas palavras do lendário líder da banda Queen, Freddie Mercury, explicando porque seu conjunto é diferenciado dos demais, inicia-se a cinebiografia que traz o nascimento e a trajetória da famosa banda inglesa, bem como de seu líder, que deixou saudades e um rico legado musical há 27 anos. Uma obra para agitar o corpo e a mente dos fãs do rock n roll e também dos fãs de cinema, com o protagonismo de Rami Malek (Mr. Robot) na pele de Mercury e um grande elenco.

O primeiro ato de ‘Bohemian Rhapsody’, sob a direção de Dexter Fletcher (Voando Alto), tem o cuidado de retratar as origens de Mercury (Malek) e seus primeiros passos na música. A relação difícil com sua família zoroastra e paquistanesa, além da relação de amizade com Mary Austin (Lucy Boynton) e a formação da banda com Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Bem Hardy), John Deacon (Joseph Mazello) dão o tom de como será a projeção ao longo de seus 135 minutos de duração. A essência e os ideais da banda são devidamente personificados por seu líder, que tinha como premissa de dar mais passos adiante e tentar coisas inéditas, como misturar gêneros, de roc k com ópera, além de desafiar estereótipos e trazer canções que soassem como poesia e mexessem com os sentimentos dos fãs. E um dos grandes sucessos do grupo, ‘Bohemian Rhapsody’, que dá título ao longa, representa muito bem o que os músicos queriam com suas letras, além de uma interação forte com a plateia, incentivando a cantar os sucessos e a fazer gestos com o corpo. E ainda há espaço para os desentendimentos de Freddie Mercury com seus companheiros e um grande show feito em Wembley, o Live Aid, voltado ao combate a fome na África, que eletrizou toda a plateia presente e os mais de 180 países que acompanhavam pela televisão.

Ao longo da narrativa, a face do vocalista do Queen vai sendo devidamente construída, com seu lado espontâneo, extrovertido e jeito irreverente nos palcos e seus dramas pessoais fora deles, como o medo de ficar só e também questões acerca de sua sexualidade e a dificuldade de lidar com a fama e a imprensa. A composição de Bohemian Rapsody, com os métodos criativos de Freddie Mercury, além dos incentivos feitos por ele a cada um dos companheiros a melhorar suas performances fazem o filme ganhar ainda mais dinamismo e novos contornos são traçados, importantes do segundo para o terceiro ato. A crise existente no grupo, por conta de mudança no estilo de vida de Mercury, além de sua doença tornam o longa mais tenso e complexo, pr omovendo uma inserção maior do público, que passa a ter uma noção da real dimensão do Queen e de seu líder.

Mesmo com interessantes premissas e um belo trabalho de direção de arte, com adereços que lembra os anos 70 e 80 e um perfeito jogo de luz e sombras nas cenas mais dramáticas, há problemas de profundidade dos personagens secundários, eles não ganham muitos contornos, como Mary Austin e Paul Prenter, o maior antagonista da trama, suas interações são muito mecanizadas,  e alguns fatos que marcaram o Queen e a vida de Freddie Mercury, que levaram anos para ocorrer, são dramatizados em um curto intervalo dando a impressão que tudo ocorreu em um único dia, prejudicando a continuidade da história.

Apesar de alguns problemas, Rami Malek conseguiu encarnar muito bem o líder do Queen e demonstrou ter se preparado e mergulhado de cabeça no personagem, principalmente nas cenas que exigiam um esforço maior em lidar com as pressões profissionais que o cercavam, além das interações mais enérgicas com seus colegas e o executivo da EMI, Ray Foster, representado por Mike Myers, que não acreditava que o Queen pudesse alçar voos mais altos e se tornar um fenômeno do rock. Malek se mostra forte, contagiante e um perfeito intérprete para uma linda e épica história, não só da banda, mas do líder e icônico Freddie Mercury.

Dotado de grande beleza estética, interações fortes, além de momentos épicos e regados a interpretações sensíveis e contagiantes, ‘Bohemian Rhapsody’ é um filme convidativo a todos os fãs de música e de boas histórias que mereçam ser contadas. E a trajetória de Freddie Mercury e do Queen estão entre as narrativas que vêm para marcar e serem passadas de gerações a gerações. Super recomendo!

Cotação: 3,5/5 poltronas.

 

Camilla Parker Bowles entra na Terceira Temporada de The Crown

Camilla Parker Bowles entra na Terceira Temporada de The Crown

O site Digital Spy divulgou nesta segunda-feira (28), a primeira foto de Camilla Parker Bowles na 3ª temporada de The Crown. A polêmica atual esposa do Príncipe Charles será interpretada, em sua juventude, por Emerald Fennell(Anna Karenina).

A 3ª temporada da série deve mostrar o início do relacionamento entre a Duquesa de Cornwall e o Príncipe, anos antes do monarca conhecer Diana.

O novo elenco da terceira temporada de The Crown trará Olivia Colman como Rainha Elizabeth, Tobias Menzies (Outlander, Game of Thrones) como o Príncipe Phillip, Erin Doherty (Call The Midwife) como a Princesa Anne, filha da Rainha Elizabeth e do Príncipe Philip, Josh O’Connor (Cinderela) como o Príncipe Charles na adolescência, Helena Bonham Carter (Harry Potter) como a Princesa Margaret, irmã da Rainha Elizabeth II e Ben Daniels (House of Cards) como o Lorde Snowden, fotógrafo britânico que se apaixonou por Margaret.

O seriado criado por Peter Morgan já tem um plano definido até o seu final. The Crown deve durar seis temporadas, cobrindo seis décadas da vida de Elizabeth e Philip. O novo elenco deve atuar na 3ª e 4ª temporadas.

The Crown retorna com sua terceira temporada na Netflix em 2019.

Mostra de Cinema de Tiradentes cumpre sua vocação

Mostra de Cinema de Tiradentes cumpre sua vocação

Em 22a edição, evento cumpre sua vocação de expandir a experiência do cinema dentro e fora das telas e honrar o compromisso de um evento cultural de grande importância econômica e social

O ano de 2019 foi de reafirmação da Mostra de Cinema de Tiradentes como evento de importância nacional e da defesa da cultura como fundamental no desenvolvimento de um país. Equivalendo atualmente a 2,64% do PIB brasileiro, empregando diretamente cerca de um milhão de pessoas, contratando cerca de 200 mil empresas e instituições envolvidas e gerando R$ 10,5 bilhões de impostos diretos (segundo dados do Ministério da Cultura divulgados no ano passado), a economia da cultura é uma das áreas de maior efervescência no crescimento nacional.

Em especial no caso do cinema, um estudo da Ancine divulgado em 2015 revelou que o valor gerado só pelo setor audiovisual brasileiro teve aumento de 65,8% entre 2007 e 2013, uma expansão de 8,8% ao ano. Citando o IBGE, o relatório aponta que as atividades econômicas do audiovisual foram responsáveis por uma geração de R$ 22,2 bilhões em 2013 (em 2007, foram R$ 8,7 bilhões).

Projetos realizados pela Lei Rouanet, importante instrumento de fomento à cultura, tiveram impacto na economia brasileira de mais de R$ 2 bilhões em 2018, conforme o mesmo estudo do Ministério da Cultura. Um total de 3.197 projetos culturais captaram R$ 1,288 bilhão em recursos, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas. Foi o terceiro maior montante de captação nos 27 anos de existência da lei, cuja taxa de incentivos fiscais, em relação a todos os incentivos concedidos no país em diversos os setores da economia, representa apenas 0,64% do total.

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas atestou o impacto direto (R$ 31 bilhões) e indireto (R$ 18,5 bilhões) de projetos via Lei Rouanet entre 1993 e 2018. Esse valor de quase R$ 50 bilhões é muito maior do que o valor diretamente investido pelos incentivos fiscais (R$ 17,6 bilhões), mostrando o fôlego do setor na multiplicação econômica – ainda mais se considerarmos que a renúncia fiscal via Rouanet é muito baixa se comparada a outros setores que consomem bem mais desse mecanismo. Outra pesquisa recente aponta que, de todos os projetos financiados pela Rounaet, aproximadamente 70% são de até R$ 500 mil.

“É importante ter um entendimento de que é a indústria do entretenimento a que mais cresce no mundo, gera empregos, renda e oportunidades”, diz Raquel Hallak, coordenadora da Mostra Tiradentes e diretora da Universo Produção. 

PELOS CORPOS DO CINEMA

O corpo na tela, o corpo no palco, o corpo na plateia. Corpos cênicos e corpos-cinema, corpos da realidade e corpos da ficção. Na 22a Mostra de Cinema de Tiradentes, a temática dos “Corpos Adiante” explodiu para além dos filmes, dos debates e dos encontros. Ela impregnou as energias, as trocas, os fluxos, num contínuo que contaminou os nove dias de evento na cidade histórica mineira.

Proposta pelo coordenador curatorial Cléber Eduardo, a ideia se expandiu e se renovou. “Antes do corpo no cinema, porém, o corpo está em todo lugar”, já adiantava o curador desde a proposta. “Se estes corpos como pluralidade são em parte homogeneizados pelo capital investido, consumido e lucrado com suas superfícies e com seus organismos, estes mesmos corpos também são as matérias a partir das quais se travam alguns dos principais debates e embates em torno de identidades em geral, das perseguições e dos cultivos das origens étnicas/raciais às transformações, manutenções e ampliações das origens de gênero”. A curadoria deste ano na Mostra contou com a equipe formada por Lila Foster e Victor Guimarães (longas-metragens), Pedro Maciel GuimarãesTatiana Carvalho Costa e Camila Vieira (curtas-metragens).

Com objetivo de pensar a questão em relação a outras manifestações artísticas, a Mostra levou a Tiradentes profissionais de artes cênicas, artes visuais, música e literatura para conversarem sobre a temática ao longo de toda a semana. Entre uma mesa e outra, todos e todas levantaram pontos fundamentais. Para a pesquisadora Amaranta César, “a dinâmica entre reconhecimento do corpo como algo que nos ultrapassa significa reconhecer estruturas opressoras e limitadoras históricas. O cinema contribuiu, ao longo do tempo, como agente de apagamento de corpos ou de reinvenção e reapropriação”.

Também crítica e pesquisadora Luciana Romagnolli aponta que a consciência do corpo como presença é uma diferença essencial, por exemplo, entre teatro e cinema: num, há a afetação direta; no outro, a intermediação tecnológica, ou “tecnovivial”, como ela afirma, convocando um conceito do professor argentino Jorge Dubatti. “Como os corpos se relacionam no teatro e no cinema com o que já existe? E com o que não existe?”, pergunta.

A questão do que é real ou ficcional voltou a aparecer ao longo das conversas e dos filmes da Mostra, porém sem enveredar pela já batida discussão sobre o que é ficção ou documentário. Enfim as fronteiras estão se rachando, e muitos espectadores hoje deixam se importar com isso para mergulharem nas propostas estéticas e narrativas de filmes difíceis de categorizar, como “Inferninho” (Guto Parente e Pedro Diógenes), “Vermelha” (Getúlio Ribeiro), “A Rosa Azul de Novallis” (Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro) e “Calypso”(Rodrigo Lima e Lucas Parente), entre outros. No caso de “Inferninho”, o crítico João Dumans elogia o uso do melodrama como catalisador de emoções e a chave para rachar as estruturas de gênero do filme. “O movimento é o de dar ao melodrama a possibilidade de aqueles personagens se expressarem. Os diretores não fazem isso só como referência, e sim levam a sério para a construção dos sentimentos”.

Os limites também foram testados em “A Rosa Azul de Novallis”, no qual o ator Marcelo Diorio se expõe como personagem de si mesmo e rememora o passado e o próprio presente. “Gosto de me concentrar numa única pessoa a ser filmada e me entregar ao risco. Faço meus filmes num curto espaço de tempo e com chances de dar errado, mas eles funcionam justamente pela capacidade das pessoas que eu filmo de serem outras pessoas semelhantes a elas mesmas”, conta o codiretor Gustavo Vinagre.

PERMANÊNCIAS

Toda a discussão sobre identidades e presenças inevitavelmente chegou a questões caras da sociedade brasileira nos últimos anos: raça, gênero, violência, opressão e o papel do Estado na vida econômica e social de indivíduos plurais. Na tela, filmes como “Temporada” (André Novais Oliveira), “Tremor Iê” (Lívia de Paiva e Elena Meirelles), “A Rainha Nzinga Chegou” e “Negrum3” (Diego Paulino) pautaram muitas das conversas a partir da importância desses assuntos. “Quando digo que tudo é para todo mundo, é porque é. O caminho é longo, mas ele é nosso também, e uma hora ele chega”, diz Isabel Casimira Gasparino. Em seu filme, ela viaja à África em busca de suas raízes e das origens da Rainha Nzinga. “Ir ao Congo foi um renascimento e uma reafirmação de que tudo que eu tinha aprendido sobre meus antepassados era verdadeiro”, exalta. Sentimento similar pôde ser visto no curta “NoirBLUE – Deslocamentos de uma Dança”, de Ana Pi, quando ela narra que, ao desembarcar na África pela primeira vez, ouviu de um agente de migração que ela estava em casa. “Bem-vinda de volta”, disse ele à diretora.

Ao falar sobre o curta “Negrum3”, o diretor Diego Paulino o define como “um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora”. Muito aplaudido na sessão do Cine-Tenda, o filme tem pegada alto astral, cores explosivas e muita música, além de forte carga política e de denúncia. “‘Negrum3’” surgiu a partir da raiva. Eu quis transformar a minha raiva em ação. Um corpo negro, para se movimentar, precisa de uma espécie de armadura para sobreviver às microagressões da sociedade. Então minha solução, com o filme, foi ser o mais sincero possível”, diz Diego, que trabalhou com equipe de produção preponderantemente formada por pessoas negras no intuito de permitir que o mergulho naqueles sentimentos em tela fosse o mais pleno possível. “Se você está disposto a criar uma nova narrativa, você também precisa estar disposto a derrubar a pirâmide social da exploração atrás das câmeras. Filmes vão e processos ficam”.

Sempre elogiada por sua coesão de pensamento e atitude diante da arte – na qual se enveredou no começo dos anos 2000, desenvolvendo uma bem-sucedida carreira no teatro -, Grace Passô, agora também diretora (estreou o curta-metragem “Vaga Carne” na mostra, codirigido por Ricardo Alves Jr) disse que sua coerência veio vindo naturalmente ao longo dos anos, tendo começado a partir de premissas que hoje ela questiona. “Eu queria escrever teatro e me preocupava em construir textos para serem publicados. Isso só ficou no desejo, porque o caminho desses textos foi exatamente o contrário”, relembra. “Eu tinha uma noção idealizada do texto teatral, de que talvez, para mostrar a potência e os valores, eu precisa torná-lo independente da cena. Mas o tempo passou e desmistifiquei essa premissa. Depois que você cria uma obra, ela fica maior que você. São voos que a gente não tem a dimensão deles, é de cada um”. Exemplo para muitos realizadores e realizadoras presentes em Tiradentes, Grace protagonizou na mostra o longa-metragem “Temporada”, no qual é dirigida por André Novais, que a chamou de “força da natureza”.

Algumas presenças internacionais em Tiradentes identificaram a vitalidade desse cinema brasileiro independente que não quer se deixar domar e que ocupa as telas com os corpos e o tecido sensível de realidades que circundam diretores, diretoras, atores e atrizes. Para o crítico argentino Roger Koza, essa produção permite que se conheça a fundo o estado de espírito (político e social) do Brasil no momento em que ele é produzido, algo sem equivalência na Argentina. “O cinema ficcional argentino transcorre em outro mundo, em outra dimensão, um mundo de elevação espiritual, mas você não consegue ver como está a Argentina por sua ficção. No cinema brasileiro é diferente, você é capaz de sentir o que se passa no país, e isso pra mim é muito mais potente”, diz.

Esse estado de permanente atenção ao contexto histórico do presente e do passado foi apontado por Lívia de Paiva, de “Tremor Iê”, como um dos estímulos para o filme. O longa foi filmado no início do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e ela e a codiretora Elena Meirelles se perguntaram, diante do resultado, se estavam prevendo algo distópico que viria a acontecer pouco tempo depois. “Não é que antecipamos o que seria do país. Na verdade, os retrocessos já estavam em andamento ali, naquele presente”, afirma Elena. Bruno Ramos, do curta-metragem “Estado de Neblina”, também se disse impregnado da desilusão política no Brasil para chegar à atmosfera de seu filme. “Toda vez que penso na morte da Marielle Franco, eu lembro o motivo pelo qual eu resolvi fazer o filme: para expressar minha sensação de mal-estar, de fim do mundo”, afirma o cineasta.

É por essa teia de gentes tão distintas que os Corpos Adiante se fixam, tanto sob o olhar do espectador de cinema quanto pela visão de todo um país e de um mundo, na inevitabilidade e constatação de suas existências e na luta para que elas permaneçam. Numa semana em que o noticiário nacional se viu tomado de revelações, tragédias e muita lama, a 22a Mostra de Cinema de Tiradentes se integrou à batalha diária desses corpos em movimento, que não querem, não podem e não vão parar. A cultura tem papel imprescindível nesse processo.

SOBRE O EVENTO

22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES

PLATAFORMA DE LANÇAMENTO DO CINEMA BRASILEIRO

Considerada a maior manifestação do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão. Busca refletir e debater, em edições anuais, o que há de mais destacado e promissor na nova produção audiovisual brasileira, em longas e curtas, em qualquer gênero e em formato digital. A programação é oferecida gratuitamente ao público e inclui exibição de filmes brasileiros (longas e curtas), pré-estreias, homenagens, debates, encontros com a crítica, o diretor e o público, oficinas, seminário, mostrinha de Cinema, atrações artísticas.