Willem Dafoe larga na frente em luta por prêmio de melhor ator no Festival de Veneza

Willem Dafoe larga na frente em luta por prêmio de melhor ator no Festival de Veneza

Willem Dafoe largou na frente em briga pelo prêmio de melhor ator no Festival de Veneza. O ator americano apresentou na manhã desta segunda-feira (3) uma das melhores atuações de sua carreira, na pele de Vincent Van Gogh (1853-1890), o icônico pintor holandês, no filme “At Eternity’s Gate” (ainda sem título no Brasil), do americano Julian Schnabel.

O longa ilustra Van Gogh  em seus últimos anos, quando se mudou para Arles, no sul da França. Tinha problemas sérios de alteração de humor, bebia demasiadamente e não conseguia evitar crises emocionais. Às vezes, esses rompantes depressivos o faziam agir de maneira extrema, violenta;o que o fez cortar a própria orelha.

“Não me importa o que aconteceu de fato: é um filme. É irrelevante, mas meu longa traz essa nova possibilidade”, afirmou Schnabel, à imprensa.  Jean-Claude Carrière, roteirista que já trabalhou com mestres como Luís Buñuel e Milos Forman, assina o roteiro com Schnabel. “Não há testemunha do suicídio, nenhuma”, diz Carrière. “Ele voltou para casa machucado no estômago, mas ninguém jamais achou a arma que fez o disparo. Não há prova de que ele se matou: nós lutamos contra essa versão um tanto ‘romântica’ sobre Van Gogh”, justifica o roteirista.

Van Gogh já proporcionou filmes famosos nas lentes de cineastas como Maurice Pialat, Robert Altman e Akira Kurosawa. Mas o filme mais famoso é “Sede de Viver” (1956), de Vincente Minnelli e George Cukor, com Kirk Douglas na pele do pintor.

Schnabel, que também desempenha o ofício de artista plástico, dedica boa parte do filme com discussões sobre arte, com Van Gogh se mostrando um homem completamente lúcido, ao contrário da ideia que muitos tinha de que ele seria apenas um homem atormentado todo o tempo.

“Ele era inspirador e lúcido sobre o que falava. Me liguei muito a isso. A dificuldade começa quando ele tem visões e não consegue lidar com coisas mais prosaicas, como pensar em uma carreira, na vida social, no sexo”, diz Dafoe. “A coisa mais importante, que mais me inspirou, era que ele era uma pessoa que pensava além do raciocínio dualista.”

“Acredito totalmente na lucidez dele”, afirma o diretor. “Se você observa as pinturas e lê as cartas que ele escreveu ao irmão [Theo], verá isso. Muitas coisas que ele diz no filme vêm diretamente dessas cartas; ele sabia onde estava e sua relação com a eternidade”.

O Festival de Cinema de Veneza segue até o próximo sábado, 08 de setembro.

Crédito da foto: variety.com

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Projeto Flórida/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Projeto Flórida/ Cesar Augusto Mota

Após se destacar com um longa-metragem inteiramente filmado com um Iphone, Sean Baker chega para mostrar que está ainda mais afiado.  Assim como fez em Tangerine, o cineasta mostra que é capaz de produzir com poucos recursos, mas com bastante competência e talento. ‘Projeto Flórida’ vai mostrar isso, bem como sensibilizar e inserir o público no universo que será retratado em seus 115 minutos de projeção.

A narrativa apresenta ao espectador a dura realidade de várias famílias que moram em motéis baratos à beira das rodovias de Orlando, na Flórida, e as dificuldades que enfrentam para se manterem ali, pagando US$ 35 por noite. No centro desse contexto, há um foco especial na jovem Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince). A primeira, uma jovem mãe abatida pelas dificuldades que a vida impôs e por ter ingressado na vida adulta após gravidez precoce, e a segunda, uma criança espevitada e que curte para valer suas férias de verão ao lado das crianças da vizinhança e se divertindo das mais diversas formas, seja pedindo dinheiro aos transeuntes para comprar sorvete, transitando entre casas velhas e abandonadas ou até em travando competições de cuspe à distância.

O local é administrado por Bobby (Willem Dafoe), um homem simples, disciplinado e preocupado em seguir as regras que sua função de gerente impõe, bem como com o bem-estar dos moradores. Ele tem uma relação muito especial e de carinho com as crianças das redondezas, principalmente com Moonee, que sempre o inferniza com suas brincadeiras e seu jeito espontâneo e alegre de ser. Bobby é um personagem que cativa o público, não só pela maneira como administra os conflitos e os problemas das pessoas que moram no hotel, como também sua personalidade, flexível em algumas situações, mas rígido quando deve ser. Dafoe tem uma atuação de destaque, e mereceu a indicação para o Oscar como at or coadjuvante, por sua atuação e pela maneira que lidou ao trabalhar com um grupo de atores iniciantes, bem à vontade ao lado deles.

Não só Dafoe, mas os atores que compuseram os inquilinos se destacaram durante a trama, com atenção especial para Bria Vinaite e Brooklynn Prince. Bria ilustra uma mãe amorosa e dedicada, mas um tanto inconsequente, uma mulher que não mede esforços para criar a filha, mas não reflete sobre as consequências de seus atos para conseguir dinheiro, alguns golpes e roubos estão entre eles. Já a garotinha impressiona por sua desenvoltura em cena, em um nível elevado para uma personagem de apenas seis anos. As cenas entre as duas, além de convincentes, são muito comoventes, com uma amparando a outra, além de muitos sorrisos, apesar da difícil situação que vivem. E é melhor mesmo sorrir para os prob lemas do que chorar e se desesperar, não é mesmo?

Não se pode deixar de dar méritos também a Sean Baker, que conseguiu trazer uma narrativa complexa, envolvente, além de explorar a sensibilidade dos personagens e de mostrar o lado da esperança e da fantasia dos moradores, que curiosamente estão nas proximidades dos parques da Disney, muito cultuados pelos turistas, principalmente os brasileiros. O equilíbrio entre o sonho e a realidade é devidamente traçado, e de uma forma para lá de especial, com a razão dos adultos e a magia das crianças.

Um filme maravilhoso, fantasioso e emocionante, ‘Projeto Flórida’ é uma produção ousada, rica em detalhes e recheada de muito talento, seja de quem está diante das câmeras ou por trás delas. Assista e se emocione bastante!

Avaliação: 5/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Assassinato no Expresso do Oriente/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Assassinato no Expresso do Oriente/ Cesar Augusto Mota

Está chegando ao circuito nacional mais um filme baseado em livro, cujo foco é a resolução de um crime, com diversas pistas, vários suspeitos e um detetive com muita astúcia, excentricidade e perfeccionismo. De quebra, uma representação elegante dos anos 1930 e um elenco de peso, estou falando de Assassinato no Expresso do Oriente, inspirado na obra homônima de Agatha Christie e dirigida por um cineasta cometente e responsável pelo sucesso de franquias como Thor e Cinderela.

Logo de cara já somos apresentados ao personagem principal da história, que começa a resolver um caso de roubo de um importante artefato em Jerusalém, com três suspeitos postos lado a lado em frente ao Muro das Lamentações. Com seu jeito peculiar, Hercule Poirot, interpretado por Kenneth Branagh, que também dirige o longa, nos surpreende por seus procedimentos precisos e nada convencionais e convence o público com seu jeito sério, sedento por perfeição e com boas doses de humor. Quem acompanha já compra seus métodos e vê tudo isso posto à prova após o detetive viajar no Expresso do Oriente na esperança de ter três dias de folga e chegar ao seu destino, mas se deparar com o assassinato a facadas do mafioso Edward Ratchett (Johnny Deep), que já possuía um passado para lá de tenebroso.

O elenco é composto de grandes nomes, como Josh Gad (A Bela e a Fera), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), Michelle Pfeiffer (Mãe!), Willem Dafoe (A Culpa é das Estrelas) e Daisy Ridley (Star Wars: O Despertar da Força), mas os arcos dramáticos dos personagens interpretados por eles não são tão explorados como o do detetive Poirot, que até demonstra uma mudança drástica de postura, sem justificativa aparente. E eles ficam tanto tempo sumidos da tela que em dados momentos nos esquecemos que os atores estão na trama, tão complexa e de complicada resolução.

O enredo apresenta uma história envolvente, com ótimos ingredientes, atuações excepcionais e uma profundidade inimaginável, não dá para perder nenhum detalhe e tampouco descartar qualquer suspeito pelo assassinato de Ratchett. Na medida em que o detetive Poirot vai encontrando mais pistas e interrogando os acusados, mais difícil fica a resolução do caso, cada personagem carrega um segredo que pode fazer o jogo mudar, mas sempre que achamos que a solução vai aparecer, algo novo surge e ficamos ainda mais tensos. A aposta numa história complexa e cheia de percalços foi quase certeira, o ritmo cai muito do meio para o fim e o desfecho deixa a desejar, com a sensação de que o filme não está completo, além de uma sensação de leve desconforto.

Como pontos positivos, além da atuação de Branagh, temos uma excelente fotografia, bem como uma eficiente direção de arte, que remonta muito bem a década de 1930, com um Expresso do Oriente suntuoso e ambientes bens construídos, como as cabines dos passageiros, além de corredores estrondosos e uma vibrante trilha sonora. Um filme que apresenta elegância, vibração e o mistério como bom fio condutor, mas que perde na reta final da trama. Uma viagem boa que o espectador faz, com uma conclusão decepcionante e com algumas lacunas.

Fãs de literatura e de um bom filme de mistério, não vá com tanta sede ao pote, ‘Assassinato no Expresso do Oriente’ é um bom filme, mas não entrega tudo o que poderia ao seu espectador. Vamos aguardar pela sequência, ‘Morte no Nilo’, que deverá explorar muito mais as características e as virtudes do detetive Hercule Poirot e trazer um enredo ainda mais dramático e situações cômicas e com maior profundidade. Aguardar e conferir.

Avaliação: 3/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota