‘SPENCER’: O TRIUNFO DE KRISTEN STEWART

Para surpresa de ninguém (surpresa, para mim, seria ela não ter sido indicada), Kristen Stewart está concorrendo ao Oscar 2022, na categoria ‘melhor atriz’, por ‘Spencer’, o mais novo filme do chileno Pablo Larraín. ‘Spencer’, também se baseia numa figura pública feminina, num determinado momento de sua vida. Assim como o foi outro filme do diretor, ‘Jackie’, que mostrava Jacqueline Kennedy, após a morte de seu marido, o popular presidente JFK, quando ela se tornou apenas uma figura inútil.
Em ‘Spencer’, acompanhamos uma época festiva, nos 90s, quando Diana Spencer (mundialmente conhecida como Lady Di) resolve que vai se divorciar do Príncipe Charles. E, por consequente, da realeza britânica inteira. Durante os três dias (véspera, dia e depois do Natal) acompanhamos os momentos de dúvida e desespero de Diana, que ficou justamente conhecida como ‘A Princesa do Povo’, porque odiava todos aqueles salamaleques e a entediante rotina da família real britânica, que a deixava sem ar. Some-se a isso, o affair que Charles estava tendo com a duquesa Camila Parker-Bowles, bem à vista de todos.
Por isso, o filme tem um clima tenso e nada glamuroso. Porque capta Diana (magistralmente interpretada por Stewart, que já mostrou talento em filmes recentes do francês Olivier Assayas) no auge de sua insatisfação com tudo aquilo – agravado por uma bulimia – que a tornou persona non grata entre os Windsor, com o passar dos anos. É isso o que temos no filme. Apenas um recorte. Não uma biografia.
Em contraponto com o desespero de Spencer, há a figura fantasma de Ana Bolena, que foi decapitada a mando de seu marido, o rei Henrique VIII, sob falsa acusação de traição conjugal. Quando, na verdade, quem estava pulando a cerca, era o rei. Bolena, como Spencer, também estava asfixiada numa relação. E diminuída, por ser mulher. Ela aparece na imaginação de Lady Di, que está lendo uma biografia desta.
Se alguns fatos foram inseridos ou alterados, para dar dramaticidade ao filme (que não se baseia em nenhum livro biográfico em especial), por outro lado, dois personagens que interagem com Diana durante os três dias e, de certa forma, foram seus confidentes (o cozinheiro real e uma dama de companhia) existiram de fato. O cozinheiro, hoje, tem um canal de culinária no Youtube (e, disse, após ver o filme, que Kristen acertou no alvo, em sua interpretação e sotaque); e uma dama de companhia, que ajudava Diana a se vestir para cada ocasião. Coisa que, esta, odiava, e usava o que bem entendia. Para horror da rainha.
‘Spencer’ só vem coroar a carreira de Kristen Stewart, que fugiu de todos os estereótipos, desde que encerrou a saga ‘Crepúsculo’. TOM LEÃO