Poltrona Cabine: Abre Alas/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Abre Alas/Cesar Augusto Mota

Em uma sociedade predominantemente machista e opressora, a mulher enfrenta desafios diários não só para se reconhecer em meio a dificuldades, como também se firmar e fazer a diferença no meio social. Com direção de Ursula Rosele, o documentário “Abre Alas” compartilha histórias de sete mulheres em uma roda, com histórias de desafios e superações.

Ao longo da produção, Walkíria, Dora, Silvana, Sheila, Regina, Lorena e Heloisa refletem sobre suas escolhas e compartilham suas experiências, repletas de momentos felizes e tristes. Elas atestam que ser mulher requer força e muita resiliência. Não só palavras, mas também é possível ouvir o silêncio, tamanhos foram os traumas e angústias vividos pelas protagonistas.

Histórias envolvendo depressão, abandono, maus-tratos, violência doméstica são partilhadas e nos fazem refletir sobre questões como acolhimento, respeito, empatia e prazer, que foram anteriormente negados e mais tarde conquistados pelas personagens. É possível perceber que a mulher possui uma grande força interior e ela é capaz de transformar amor em força, conseguindo seguir em frente.

O espaço ilustrado no documentário, uma mesa com sete pessoas em volta, não só dignifica um ambiente de amizade e cumplicidade, como também de cura, com os infortúnios e tristezas relatados e todos os meios utilizados para se driblar tudo isso. Mulheres guerreiras e resilientes revelam suas experiências, mas também tornam suas lutas como exemplo para quem possa estar na mesma situação. Uma obra sensível e bastante inspiradora.

“Abre Alas” é sinônimo de renascimento da mulher, e das mais diversas formas. Quem acompanha não vai só simpatizar, como se identificar com as protagonistas. Uma obra honesta, sensível e vibrante.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Apolo/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Apolo/Cesar Augusto Mota

O cinema brasileiro tem se mostrado cada vez mais dinâmico, abordando pautas sociais diversas e importantes, principalmente no tocante à família e políticas públicas. O que pode parecer comum para uns é tido como tabu por outros, como o relacionamento e a gestação de um casal trans. Estreante como cineasta, a atriz Tainá Muller, juntamente de Ísis Broken, procuram abordar de uma forma simples e natural as situações mencionadas em “Apolo”, distribuído pela Biônica Filmes.

O documentário começa a ilustrar a jornada transformadora e desafiadora do casal trans Ísis e Lourenzo, desde a gestação até o parto de Apolo, filho dos dois, concebido por Lourenço. O desafio não está só na aceitação por parte da sociedade, mas também em ter atendimento eficiente e digno no sistema público de saúde. A revolta fez Ísis fazer um desabafo forte nas redes sociais, proporcionando a partir daí debates importantes sobre o quão sofre a pessoa trans no Brasil, país no qual mais se mata transgêneros no mundo.

Temas como direitos reprodutivos e dignidade no acesso à saúde também são abordados e se fazem importantes nessa obra, pois são direitos de todos. Além do sinal de alerta sobre o preconceito e negligência com as pessoas transgênero, o documentário também significa protesto e apelo por uma sociedade mais justa. Temos emoção e informação nessa trajetória do casal Ísis e Lourenzo, que representa a realidade de outros casais trans.

O nome Apolo é simbólico, não só representa luz na vida do casal, como também a esperança de uma vida com mais tolerância e respeito. O documentário é um perfeito retrato de família, mostrando a intimidade de Ísis e Lourenzo, um casal feliz que mostra que muitas pessoas ainda não aprenderam a lidar com o conceito de amor.

Uma obra que fará o público se identificar, com o significado mais simples de amor, um sentimento verdadeiro e presente em todas as famílias, sem distinção.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Entre Penas e Bicadas/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Entre Penas e Bicadas/Cesar Augusto Mota

Animações costumam ter múltiplos propósitos, desde o simples divertimento à transmissão de mensagens e valores para seus públicos-alvos. Além de uma bela paleta de cores, um roteiro bem estruturado e um elenco coeso contribuem para o sucesso da obra. Será que a animação chinesa “Entre Penas e Bicadas” segue todo esse script?

Criada entre galinhas, a águia Pena Dourada acredita que não consegue voar, porém, junto de sua irmã Catraca, ele embarca em uma aventura até Bird City, local onde irá explorar a origem de seu nascimento. Muitas verdades serão reveladas, além de ter de enfrentar uma batalha épica entre águias e galinhas, que exigirá de Pena Dourada escolhas difíceis e que poderão ser decisivas para seu destino.

Apesar do clichê do uso de animais falantes, a obra explora temas importantes, como a coragem para fazer escolhas, a busca pelo autoconhecimento, o sentimento de pertencimento a um grupo, além da importância da família, exaustivamente explorada em outras animações, mas não menos importante para essa animação chinesa. Os laços de amizade criados com os outros personagens e os parentes distantes que Pena Dourada são pontos altos da narrativa, com muitos momentos de grande emoção.

O ritmo da história é vibrante, a estética com cores quentes é envolvente e os personagens são carismáticos. O conjunto da obra agrada, Pena Dourada passa por uma importante e emocionante jornada, que mostra um lado que ele não conhecia, além do aprendizado sobre família e laços de afeto e amizade. Uma animação feita tanto para crianças como para adultos, uma história imersiva, didática e bastante leveza.

“Entre Penas e Bicadas” é uma animação de grande potencial, capaz de proporcionar muita emoção e engajamento do público. Entrega tudo o que se espera de uma animação, além da diversão.

Cotação: 4,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: À Procura de Anne Frank/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: À Procura de Anne Frank/Cesar Augusto Mota

Quem leu o livro e viu o filme “O Diário de Anne Frank” certamente se comoveu com a história da protagonista, que se escondeu com a família em um sótão na cidade de Amsterdã para escapar dos nazistas durante a Segunda Guerra. A jovem escreve um diário e ela conversa com Kitty, sua amiga imaginária. E como seria adaptar essa célebre história para os tempos atuais?

Na animação “À Procura de Anne Frank”, com direção de Ari Folman, Kitty é libertada por meio de uma descarga elétrica que atinge o diário de Anne Frank, exposto em um museu, queimando o nanquim e libertando das páginas a garotinha ruiva. Na Amsterdã atual, Kitty não só está e, busca de Anne Frank como também faz reflexões sobre o conteúdo do diário e traça um paralelo com a atualidade, acerca de antissemitismo, racismo e xenofobia.

A essência da mensagem de Anne Frank é buscada pela protagonista, que depois conhece jovens refugiados e passa a compreender o que Anne sentiu durante o tempo em que foi perseguida. A adaptação para os tempos atuais serviu para atrair um público jovem que cresceu com a internet e pode até não ter lido o livro. A empatia também é destacada na animação, quando Kitty administra um abrigo para refugiados ilegais, com o apoio do amigo Peter.

A representação visual da obra é bem chamativa, a história é dinâmica e o propósito não é apenas o de recordar um triste episódio histórico, mas o de transmitir uma importante mensagem e dar esperanças para as futuras gerações, de que é possível salvar quem precisa ser salvo e que ainda é possível construir um mundo melhor, com mais amor e tolerância e com menos dor e preconceito.

Um lindo laço de amizade entre Anne e Kitty, uma corrente que jamais poderia ser quebrada. Assim é “À Procura dse Anne Frank”, um convite a todos que conhecem ou gostariam de conhecer a história de alguém que não apenas escreveu um diário, mas uma importante página na História e que repercute até os dias de hoje.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Jogos de Sedução/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Jogos de Sedução/Cesar Augusto Mota

Relacionamentos amorosos já proporcionaram importantes debates na sétima arte, seja pelos altos e baixos que podem acontecer durante o convívio ou pelas consequências em razão de inseguranças, falta de sintonia ou até mesmo de paciência e compreensão do casal. O cineasta alemão Jonas Rothlaender  aborda uma relação que vai além dos limites e explora o conceito de masculinidade nos tempos modernos. “Jogos de Sedução” traz todas essas premissas e uma interação dramática e ambiciosa dos protagonistas no norte da Finlândia.

Robert e Saara vivem um amor que foge às convenções sociais e papéis tradicionais na sociedade moderna, e dispostos a buscar um redirecionamento resolvem ir para uma ilha deserta na Finlândia, colocando seus ideais, medos, inseguranças e emoções à prova. Na medida em que o tempo passa, o casal sente que precisa superar traumas do passado e passar por uma espécie de ressignificação, tendo em vista que os conflitos físicos e ideológicos já estavam colocando em risco a sobrevivência dos dois.

O convívio entre Robert e Saara é um misto de atração e rejeição, opressão e submissão. Apesar da vida sexual ativa, ambos entram em choque conflito no tocante a visão de mundo. Para Robert, o homem deve sempre estar no controle de tudo, já Saara prefere uma relação mais casual, sem grandes responsabilidades e sem criação de filhos. As grandes divergências de ideias e os desejos reprimidos acabam por levar a uma relação abusiva, com forte violência física e psicológica.

Apesar das cenas fortes, com sadomasoquismo, sexo explícito e muita violência física, o filme se encarrega de colocar o dedo em feridas que ainda não cicatrizaram no casal protagonista e em muitos casais da vida real, como o preconceito de uma sociedade patriarcal, valores morais como respeito, confiança e companheirismo e outros que vêm se perdendo atualmente. O papel do homem e da mulher em uma relação, aliados aos valores morais e à força mental são os pilares dessa produção, que apresenta um bom ritmo, embora apresente poucas novidades.

“Jogos de Sedução” é uma experiência incrível, que requer grande força psicológica, nervos de aço e paciência.  Uma trama que permitiu não só uma pulsante imersão do público como também a resiliência dos protagonistas.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota