Maratona Oscar: West Side Story/Bruna Zordan

Maratona Oscar: West Side Story/Bruna Zordan

Amor, Sublime Amor acerta na adaptação com performances incríveis e diversidade no elenco

O novo filme Amor, Sublime Amor (2021), é a nova versão do musical de 1961 que foi dirigido por Jerome Robbins (Um Dia em Nova York) e Robert Wise (A Noviça Rebelde). Dessa vez, quem comanda a nova produção é o Steven Spielberg (Jurassic Park) que trouxe a diversidade no elenco.

Quem não é fã de musicais – assim como eu – ficará encantado com performances dançantes e incríveis do remake. Inspirado na história de Romeu e Julie, mas adaptando para o atual, conta a clássica história de rivalidade e amor juvenil na cidade de Nova York em 1957, entre americanos – conhecidos como Jets – e os porto-riquenhos – conhecidos como Sharks. A relação entre os dois grupos é agravada por ódio e preconceito. O problema aumenta quando Maria e Tony se apaixonam, ambos sendo de culturas diferentes. A escolha do elenco fez a diferença nessa nova adaptação. No original de 1961, para representar os porto-riquenhos, foram utilizados atores não-latinos, o que vai contra as lições e falas do filme. Nesta releitura do clássico, atores de origem latina se apresentaram e deram mais ênfase no espanhol, o que também não era visto no antigo. Outro ponto positivo da nova produção, é a escolha da personagem Maria, a atriz Rachel Zegler, que também possui origem latina e será a Branca de Neve no futuro. E uma curiosidade nesta crítica: Este é o primeiro trabalho de Zegler nos cinemas. Além da diversidade na cultura, o novo Amor, Sublime Amor apresenta um personagem transgênero, interpretado por Ezra Menas. Esse também é o seu primeiro trabalho nos cinemas.

Amor, Sublime Amor tem um cuidado para contar a sua história, mesmo sendo inspirada em outros revivals ou sendo referência em Broadway, o filme presta atenção nos detalhes para que o público possa entender, sem precisar assistir o original. As cenas de dança são espetaculares, que ganham destaque toda vez que entram em cenas. Para quem assistiu ao antigo, a ordem das músicas e o ambiente das performances, são alterados fazendo com que sejam vistos com mais atenção do que elas merecem. Vale destacar o cenário da nova produção, já que podemos ver a magia de Nova York dentro da história. E claro, o figurino que é para ser apreciado. 

A nova releitura conta com conhecidos e novos nomes do cinema, como Ansel Elgort (A Culpa é das Estrelas), Rachel Zegler, David Alvarez (Billy Elliot – Broadway), Ariana Debose (The Prom), Mike Faist (Panic), Josh Andrés Rivera (seu primeiro trabalho nos cinemas), Rosalía, Brian D’Arcy James (13 Reasons Why), Corey Stoll (Homem-Formiga) e Ezra Menos. Do original para o novo, o elenco também conta com a presença de Rita Moreno, que foi a Anita na primeira versão. Dessa vez, a artista – que também executa o trabalho de produtora no filme – interpreta Valentina. Rita também venceu o Oscar de 1962 na categoria como “Melhor Atriz Coadjuvante” na primeira versão. Dirigido por Steven Spielberg, o novo Amor, Sublime Amor estreia no dia 9 de dezembro nos cinemas

Nota: 5/5

Maratona Oscar: No Ritmo do Coração/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: No Ritmo do Coração/ Cesar Augusto Mota

Quer um filme no qual a comédia e o drama caminham bem e sem forçar a barra? E com atores que se entregam ao máximo a seus papéis e com mensagens importantes sendo transmitidas? ‘No Ritmo do Coração’ (CODA), produção independe adquirida pela Apple TV+ e veiculada no Brasil pela Amazon Prime Video, vem como um forte candidato na atual premiada de premiações, tendo como principais credenciais os prêmios na categoria Júri, Público e Direção no Festival de Sundance 2021.

Acompanhamos Ruby Rossi (Emilia Jones), uma adolescente de 17 anos e única pessoa que escuta em uma família de surdos. Ela se divide entre o trabalho de pesca da família no início do dia e sua vida escolar. Sua vida começa a mudar quando entra para o coral da escola e descobre seu talento musical. O professor Bernardo Villa Lobos (Eugenio Derbez) ou senhor V, carinhosamente conhecido, a incentiva a entrar para uma conceituada faculdade de música, e ela passa a se ver em uma encruzilhada, pois os negócios da família estão ameaçados e ela terá que se decidir se continua como CODA (children of deaf adults, ou filha de adultos surdos, em tradução livre) ou se corre atrás do seu sonho.

O roteiro e direção, ambos de Sian Heder, se preocupam em retratar uma história de maneira espontânea, genuína e séria, sem apelar para a emoção do público. Nada é forçado, as expressões corporais dos atores surdos são demasiadamente importantes e nos deparamos com uma belíssima narrativa, de que há várias formas de expressar seus sentimentos, ou que uma mesma música pode ser cantada a públicos direcionados seja a um grande amor, ou à família.

A desenvoltura de Emilia Jones é impressionante, tamanha entrega da atriz para o papel, além da montanha-russa de emoções pela qual sua personagem passa. Ruby está entre os dilemas da adolescência, bem como os percalços do dia a dia do trabalho com o pai e o irmão na pesca, e os planos para o futuro. Uma história sobre amadurecimento, crescimento e independência, além da importância da família na sua formação como pessoa. A interpretação da música ‘Both Sides Now’, de Joni Mitchell, mostra tão bem o equilíbrio vocal de Ruby como a comunicação visual que utiliza durante a performance, num misto de emoção e alegria para quem acompanha.

O curioso é que este filme é um remake de ‘A Família Bélier’, produção francesa de 2014. Nem sempre as refilmagens conseguem conquistar o público e boa parte dessas produções costumam ser rejeitadas pelos fãs de cinema. Mas esse não será o caso de ‘No Ritmo do Coração’, por se tratar de uma obra que transmite emoção, sinceridade e ser bastante imersiva, fazendo o público mergulhar no cotidiano de uma família de uma comunidade surda. A obra merece elogios por contar com um roteiro coeso, elenco comprometido e tudo feito de maneira espontânea e sem extravagâncias. Uma jornada que merece ser vista várias e várias vezes.

‘No Ritmo do Coração’ foi indicado ao Oscar 2022 nas categorias melhor filme, melhor ator coadjuvante (Troy Kotsur) e melhor roteiro adaptado.

Cotação: 5/5 poltronas. 

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Não Olhe Para Cima/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Não Olhe Para Cima/ Cesar Augusto Mota

O que você faria se soubesse que a Terra e a raça humana estariam prestes a ser extintos pela colisão de um cometa? Como lidar com uma má notícia dessas e de que maneira evitar que o desespero tome conta? ‘Não Olhe para Cima’, de Adam McKay, traz uma história trágica que faz paralelo com a realidade, com uma boa dose de humor. De quebra, a produção da Netflix, presente na temporada de premiações, conta com um elenco recheado de estrelas, como Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Meryl Streep, Jonah Hill e Mark Rylance.

Kate Dibiasky (Lawrence) e Randall Mindy (DiCaprio) são dois astrônomos que descobrem que um cometa está vindo em direção à Terra e que o tempo para desviar sua trajetória é demasiadamente curto. Para isso, eles buscam ajuda de autoridades, principalmente da Casa Branca, mas encontram resistência da chefe de Estado, Janie Orlean (Streep), que não entende ou prefere não enxergar a gravidade da situação. De quebra, Peter Isherwell (Rylance), bilionário e CEO da empresa de tecnologia BASH, decide que é melhor deixar o cometa colidir com a Terra, pois este possui componentes caros e escassos no planeta, o que geraria grandes lucros a ele.

O roteiro, de autoria de McKay, resolve tocar em pontos importantes, como o poder da mídia e sede por audiência, a ganância de grandes empresários e a descrença na ciência por alguns, seja por religião ou ideologias políticas. Nota-se uma grande preocupação da imprensa no que deve ser dito e levado aos telespectadores, e isso se torna mais evidente na orientação que o doutor Mindy teve da produção de um telejornal, e o que ele deve falar. Os efeitos que as redes sociais são capazes de provocar não ficam de lado, e assuntos como vida privada de influenciadores digitais cada vez mais em evidência, seja pelo número de curtidas, compartilhamentos ou comentários nas publicações.

Há outro ponto que ganhou relevância na história e foi tratado de forma meticulosa, o negacionismo. Nota-se isso nos personagens de Streep e Rylance, e em grupos políticos apoiadores da presidente norte-americana, que fizeram campanha ‘não olhe para cima’, desacreditando na iminente catástrofe anunciada pelos astrônomos. Há um embate entre os pró e os anticiência, um cenário semelhante ao que vemos por aqui. E reações que já vimos ou estamos acostumados a ver, com uns indiferentes e outros que beiram ao desespero. O longa permite que o público se identifique ou se lembre de alguém com o devido comportamento.

A montagem e a trilha sonora conseguem provocar uma grande sensação de imersão no espectador, seja quanto às notícias em destaque no momento ou o desespero momentos antes da chegada do asteróide. A fotografia acinzentada e um pequeno ponto de brilho no céu nos faz acreditar que realmente uma catástrofe está para acontecer, e as reações das pessoas também corroboram para isso.

‘Não Olhe para Cima’ é abordado com um humor escrachado e uma alta carga de drama psicológico, há aqueles que riem e outros que preferem não acreditar. Como diz o ditado: seria cômico para não ser trágico, pois nos identificamos com essas reações e está bem próximo de como iríamos nos comportar diante de uma catástrofe iminente. Uma produção de alta qualidade, que vem para fazer críticas pontuais e satirizar o atual  momento em que vivemos. Vale conferir.

Oscar 2022: Não Olhe para Cima concorre nas categorias melhor filme, melhor roteiro original, melhor trilha sonora original e melhor montagem.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Olivia Colman concorre à Melhor Atriz por A Filha Perdida/Anna Barros

Maratona Oscar: Olivia Colman concorre à Melhor Atriz por A Filha Perdida/Anna Barros

Os meandros de uma história adaptada do livro de Elena Ferrante só entende quem já conhece esse universo e Olivia Colman que vive Leda Caruso no filme da Netflix, A Filha Perdida, captou a essência muito bem. Sua Leda é simplesmente igual à do livro na essência e caracterização. Seu desempenho é espetacular numa história que questiona muito o papel da maternidade e a abertura de mão de uma vida profissional e pessoal para abraçá-la. Olivia fará, na Noite do Oscar, sombra tanto a Kristen por Spencer como a Nicole por Apresentando os Ricardos.

Olivia Coeman já tem o seu Oscar por a Favorita e a Academia parece gostar dela, afinal ela é uma atriz de várias nuances. sutilezas, que te mostra seus sentimentos com olhares e gestos. Muitas vezes essa sua performance é totalmente contida e parece às vezes até egoísta e a audiência consegue ter a perfeita percepção do enredo e de tudo que se passa no interior da personagem. É uma aula de atuação.

Também a maneira que ela mostra a solidão de uma mulher de mais de 50 anos, que viaja sozinha e é dona do seu próprio nariz e a forma que ela intriga a família numerosa que busca a boneca perdida da criança, filha de Nina, e os homens da região praiana grega

O filme, dirigido por Maggie Gyllehaal e disponível na Netflix, é to bom que teve mai duas indicações: a de Melhor Atriz Coadjuvante para Jesse Buckley que faz a Leda jovem e também está espetacular e também a Melhor Roteiro Adaptado com muitas chances de levar para casa.

O filme é fidelíssimo ao livro de Elena Ferrante, de mesmo nome, e só é diferente do local que Leda passa as férias:; no livro, a Itália, no filme, a Grécia. destaque também para Dakota Johnson que está irreconhecível no papel de Nina.

Sinope: Em A Filha Perdida, Leda (Olivia Colman) é uma mulher de meia-idade divorciada, devotada para sua área acadêmica como uma professora de inglês e para suas filhas. Quando ambas as filhas decidem ir para o Canadá e ficarem com seu pai nas férias, Leda já antecipa sua rotina sozinha. Porém, apesar de se sentir envergonhada pela sensação de solitude, ela começa a se sentir mais leve e solta e decide, portanto, ir para uma cidade costeira na Grécia. Porém, ao passar dos dias, Leda encontra uma família que por sua mera existência a faz lembrar de períodos difíceis e sacrifícios que teve de tomar como mãe.  Adaptado do livro de Elena Ferrante, autora de A Amiga Genial, o longa dirigido por Maggie Gyllenhaal traz uma reflexão tocante sobre maternidade, individualidade e culpa, com um desfecho que deixou em aberto muitas possibilidades de interpretação. Uma história comovente de uma mulher que precisa se recuperar e confrontar o seu passado. 

Maratona Oscar: Kristen Stewart concorre a Melhor Atriz por Spencer/Tom Leão

Maratona Oscar: Kristen Stewart concorre a Melhor Atriz por Spencer/Tom Leão

‘SPENCER’: O TRIUNFO DE KRISTEN STEWART

Para surpresa de ninguém (surpresa, para mim, seria ela não ter sido indicada), Kristen Stewart está concorrendo ao Oscar 2022, na categoria ‘melhor atriz’, por ‘Spencer’, o mais novo filme do chileno Pablo Larraín. ‘Spencer’, também se baseia numa figura pública feminina, num determinado momento de sua vida. Assim como o foi outro filme do diretor, ‘Jackie’, que mostrava Jacqueline Kennedy, após a morte de seu marido, o popular presidente JFK, quando ela se tornou apenas uma figura inútil.

   Em ‘Spencer’, acompanhamos uma época festiva, nos 90s, quando Diana Spencer (mundialmente conhecida como Lady Di) resolve que vai se divorciar do Príncipe Charles. E, por consequente, da realeza britânica inteira. Durante os três dias (véspera, dia e depois do Natal) acompanhamos os momentos de dúvida e desespero de Diana, que ficou justamente conhecida como ‘A Princesa do Povo’, porque odiava todos aqueles salamaleques e a entediante rotina da família real britânica, que a deixava sem ar. Some-se a isso, o affair que Charles estava tendo com a duquesa Camila Parker-Bowles, bem à vista de todos.

  Por isso, o filme tem um clima tenso e nada glamuroso. Porque capta Diana (magistralmente interpretada por Stewart, que já mostrou talento em filmes recentes do francês Olivier Assayas) no auge de sua insatisfação com tudo aquilo – agravado por uma bulimia – que a tornou persona non grata entre os Windsor, com o passar dos anos. É isso o que temos no filme. Apenas um recorte. Não uma biografia.

   Em contraponto com o desespero de Spencer, há a figura fantasma de Ana Bolena, que foi decapitada a mando de seu marido, o rei Henrique VIII, sob falsa acusação de traição conjugal. Quando, na verdade, quem estava pulando a cerca, era o rei. Bolena, como Spencer, também estava asfixiada numa relação. E diminuída, por ser mulher. Ela aparece na imaginação de Lady Di, que está lendo uma biografia desta.

   Se alguns fatos foram inseridos ou alterados, para dar dramaticidade ao filme (que não se baseia em nenhum livro biográfico em especial), por outro lado, dois personagens que interagem com Diana durante os três dias e, de certa forma, foram seus confidentes (o cozinheiro real e uma dama de companhia) existiram de fato. O cozinheiro, hoje, tem um canal de culinária no Youtube (e, disse, após ver o filme, que Kristen acertou no alvo, em sua interpretação e sotaque); e uma dama de companhia, que ajudava Diana a se vestir para cada ocasião. Coisa que, esta, odiava, e usava o que bem entendia. Para horror da rainha.

   ‘Spencer’ só vem coroar a carreira de Kristen Stewart, que fugiu de todos os estereótipos, desde que encerrou a saga ‘Crepúsculo’. TOM LEÃO