1- Brad Pitt
2- Brie Larson
3- Scarlett Johanson, de Oscar De La Renta
4- Laura Dern
5- Renee Zelwegger, de Dior
Os apaixonados por cinema certamente aceitariam um convite para viajar pelo íntimo do cineasta Pedro Almodóvar, não é mesmo? Para o espanhol, Dor e Glória (Dolor Y Gloria) é o seu trabalho mais pessoal, pois o protagonista, vivido por Antonio Banderas (A Pele que Habito), representa seu alter ego, que confessa suas alegrias e tristezas para o público e traz referências de seus mais icônicos trabalhos, seja por elementos estéticos ou pelo enredo propriamente dito.
A narrativa apresenta ao espectador o cineasta Salvador Mallo (Banderas), um diretor de cinema em fase decadente, com problemas físicos e psicológicos, como ansiedade e depressão. Isolado, ele relembra sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60. Após a restauração de um de seus filmes e de um convite para um debate com o público, Salvador procura seu ator principal, Alberto (Asier Etxeandia), para fazer as pazes, depois de ficarem brigados por 32 anos. Mas, quando Alberto volta para a vida de Salvador, acaba se viciando em drogas. de heroína. A partir daí surge um momento de reflexão para o diretor, que faz uma viagem ao passado buscando uma razão para seguir adiante.
O roteiro opta por trazer uma história não-linear e com foco no amor. O protagonista vai expressar sua paixão pelas artes, um antigo amor e por sua mãe, e certas menções a sucessos de Almodóvar serão bem visíveis, como ‘Tudo Sobre Minha Mãe’, ‘A Pele que Habito’ e Má Educação’. As recordações servem como uma catarse para o protagonista, que sente saudades dos tempos áureos e também das coisas simples da vida, como a liberdade e a contemplação ao cotidiano. Hoje, o tempo fez as lembranças ficarem para trás, provocando tristeza e melancolia.
A figura da mãe também é importante no filme, assim como foi na vida do diretor. Penelope Cruz (Todos Já Sabem) tem essa grande missão de viver a mãe de Salvador, sempre muito afetuosa e preocupada em dar o melhor suporte ao filho. As transições de montagem e a cena final são impressionantes, com uma mistura realidade e ficção, há a figura da metalinguagem, o cinema dentro do cinema, para brincar com as memórias de Almodóvar e brindar o público com o melhor que se poderia esperar de seu trabalho, tão sensível e vibrante.
E por falar e vibrante, as cores em tela retratadas fazem uma ótima oposição às reações de angústia e melancolia de Salvador. Em cada quadro, um significado, uma interpretação, o espectador faz um belo passeio pelos cenários e entende não só as referências, mas se insere no contexto e na dura realidade do protagonista, com mente bloqueada, desesperado e desmotivado para seguir, e somente a partir do reencontro com Federico (Leonardo Sbaraglia), sua antiga paixão, a criatividade e disposição se reacendem, a paixão proporcionando novas inspirações e sensações ao realizador.
E não poderia esquecer da interpretação de Banderas, que utiliza algumas características físicas e traços da personalidade de Almodóvar para compor o personagem, com cabelo bagunçado, o culto às lembranças e a busca por algo positivo que possa ser inserido no momento presente. O cenário também é a cara de Almodóvar, em um apartamento situado em uma rua de Madrid, onde o espanhol vive realmente, e as paredes com quadros do próprio Almodóvar. O personagem se confunde com o próprio diretor, é mais que uma autobiografia, um trabalho que faz um brinde ao cotidiano e a todas as alegrias e agruras de Almodóvar.
Um filme sensível, vibrante, libertador e ao mesmo tempo provocante. ‘Dor e Glória’ mostra que o mestre Almodóvar está mais ativo do que nunca e com muito ainda a oferecer.
Cotação: 4/5 poltronas.
Nota do Editor: Concorre a Melhor Filme Estrangeiro e a Melhor Ator para Antonio Banderas. A chance do filme depende de Parasita. Se Parasita levar, já era. Parasita, o filme sul-coreano, também concorre a Melhor Filme.
Os Miseráveis
Esse ano a disputa do Oscar do filme estrangeiro está com pelo menos 3 filmes sensacionais, “Parasita”, “Dor e Glória” e “Os Miseráveis”.
Vamos a análise de Os Miseráveis.
Filmaço, tocante, revoltante, um soco a na boca do estômago, a história é muito produnda, uma crítica social com muito destaque a pobreza e a corrupção policial, mostrando situações geradas por conflitos de uma sociedade desigual.
Na cena inicial pessoas de todas as classes sociais comemorando o título da seleção francesa pela Copa do Mundo de futebol de 2018, mas esse momento é único, ao decorrer da vida, a diferença criada por desigualdade sociais e econômicas é muito destacada, policiais sem preparo, onde colocam em sua mente que as coisas se resolvem a base de tratamentos radicais a base da força e intolerância, mas sempre tem os policiais honestos que pagam pelos erros dos policiais mal orientados.
Um grande feito na história foi mostrar como a ação de uma pessoa reflete na reação de outras, colocando a violência como consequência de atos impensáveis de quem acha que está resolvendo problemas de uma sociedade, mas uma coisa pequena pode tornar um caos enorme.
O final é impressionante, uma reflexão que ficara pra história.
Destaque para frase de Victor Hugo : ”Lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: — há, sim, maus cultivadores.”
Essa obra Francesa moderna com referências a Victor Hugo é uma Obra-prima que merece ser vista para os amantes de cinema.
Atuação perfeita do ator Alexis Manenti.
Quer um filme com boa dose sarcástica e que faça críticas sociais e mostre que o meio é capaz de influenciar no comportamento humano? Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, ‘Parasita’ (Parasite), filme sul-coreano de Bong Joo Ho (O Hospedeiro) vem para impactar e fazer o espectador refletir sobre o capitalismo e a constante luta de classes e suas diferenças.
A história apresenta dois núcleos familiares que vivem realidades diferentes. A família Kim, composta por Ki-taek (Song Kang-ho), o pai; Choong-sook (Jang Hye-jin), a mãe e os filhos Ki-woo (Choi Woo-shik) e Ki-jung (Park So-dam) vivem na escala da pobreza e sobrevivem dobrando caixas de pizza. Do outro lado, os Park, uma família rica e que vive na ostentação, com o pai, o senhor Park (Lee Sun-kyun); a mãe, Yeon-kyo (Cho Yeo-jeong) e os filhos Da-hye (Jung Li-so) e Da song (Jung Hyun-joon). Tudo começa a mudar quando Ki-woo, da família Kim, recebe proposta para trabalhar como professor de inglês na mansão dos Park, e o primeiro núcleo começa a elaborar sucessivos planos para cada membro se inserir dentro da casa dos Park e alcançar uma rápida ascensão econômica. Todos os truques feitos de maneira meticulosa e em dados momentos com requintes de crueldade, tudo para os Kim conseguirem se dar bem, não importa o que fizessem.
O roteiro apresenta de início uma narrativa de ritmo lento, em seguida, após as artimanhas dos Kim, vemos não só diferenças de classes, mas também de personalidades, estes são mais secos e fechados, os Park são mais ingênuos e carismáticos. Do segundo para o terceiro ato, o choque no público, que mostra que os atos definem o destino das pessoas e que a vida cobra de cada um, a depender do que cada um faça e a maneira como leva a vida. O contraste é importante para mostrar o quão é absurda e também a enorme lacuna existente na Coréia do Sul. É feita uma crítica leve, principalmente na apresentação das casas e dos becos nas periferias de Seul. Os Kim usam de piadas para lidar com os problemas do dia a dia e são mostrados como pessoas ambiciosas e sedentas por melhores condições de vida, mesmo que se utilizem da prática de crimes para alcançar seus objetivos.
Outro ponto importante no longa está no olhar para o futuro e a preocupação de cada um dos Kim ao vislumbrar a possibilidade de mudança de classe. Ki-woo chega a cogitar comprar a casa dos Park e a construir família, ele é o mais lúcido de todos, o ponto fora da curva. Do lado dos Park, impressiona a inocência de Yeon-kyo e a relação amistosa com seus empregados, os antigos e também com os Kim, sem suspeitar do que eles tramavam contra sua família. O espectador sente empatia pelos Park e por alguns membros dos Kim, méritos do diretor que conseguiu construir um perfeito contraste entre a classe burguesa e a pobre e ilustrou com precisão o quão dura a realidade pode ser, principalmente no momento em que um forte temporal tomou conta do país.
Com bom equilíbrio entre humor e drama, ‘Parasita’ oferece uma trama envolvente, impactante e que fará o público fazer importantes comparações e interpretações acerca de panoramas sociais tão distópicos, tanto na sociedade oriental como ocidental. Um estudo social importante e necessário nos dias de hoje.
Cotação: 5/5 poltronas.
Nota do Editor: Parasita concorre a seis estatuetas inclusive Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro. Além de Melhor Diretor, Melhor Montagem, Melhor Roteiro Original. A meu ver, ganha cinco incluindo Melhor Filme e Dor e Glória ganha Melhor Filme Estrangeiro. Excelente filme, impactante. Talvez perca em Diretor para Sam Mendes, de 1917 mas Boon Jo tem muitas chances. Seu filme é bárbaro.
Em um mundo sombrio e marcado por adversidades, deve-se sempre levar alegria e risos à sociedade”. Esta frase foi dita por um famoso vilão das HQs em uma obra que já está provocando discussões, tanto positivas como negativas. Um dos filmes mais aguardados do ano e vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Coringa” (Joker), de Todd Phillips (Nasce Uma Estrela),mostra o icônico personagem do Universo DC por um outro ângulo, vivido pelo talentoso Joaquin Phoenix (Homem Irracional) que sempre se entrega de corpo e alma aos papéis que lhe são designados. O resultado foi positivo?
Arthur Fleck (Phoenix) é um aspirante a comediante que sofre de um distúrbio neurológico que o faz gargalhar de maneira descontrolada. Ele reside com Penny (Frances Conroy), sua mãe, e tenta levar a vida de uma forma saudável. Apesar de ela o desacreditar da carreira no humor, Arthur não hesita em realizar seu sonho, mas é sempre hostilizado e na medida em que o tempo passa e vai sofrendo violência física e psicológica, seu estado mental piora e ele acaba por se tornar um improvável e verdadeiro perigo para a sociedade.
Logo de início nos deparamos com um Arthur disposto a fazer as pessoas rirem e se esforçando nos shows de stand up, com monólogos e piadas com críticas ácidas a políticos e preconceitos em relação às minorias. Não é um Arthur mau, o causador do caos, mas um homem com sonhos, porém bastante perturbado. Um perfeito estudo psicológico é feito sobre o personagem central, que tenta se mostrar em estado de felicidade, mas que na realidade não goza desse sentimento. Trata-se, portanto, de alguém humilhado, oprimido e em estado de loucura.
Em seguida, notamos que Arthur mergulha de vez em um quadro irreversível quando se envolve em incidentes com policiais que estavam batendo de frente com manifestantes no centro de Gotham contra a candidatura de Thomas Wayne (Brett Cullen) à prefeitura, com mensagens hostis e protestos contra o precário sistema de saúde. De quebra, é humilhado em rede nacional por Murray Franklin (Robert De Niro), apresentador de um talk show, ao mostrar um vídeo de Arthur em seus shows de stand up e o apresentá-lo com deboche e de forma caricata. Isso tudo serviu para agravar seu psicológico e fazê-lo chutar o balde.
O Coringa retratado aqui é um retrato realista de alguém rejeitado e escrachado por uma sociedade marcada pela intolerância e preconceito, e largado às traças. A intenção do filme não foi humanizar o famoso vilão e maior rival do Batman, mas o de mostrar que existem pessoas como Arthur Fleck que sofrem violência e bullying, além de não serem amparadas pelo Estado, com políticos que fazem falsas promessas e que se mostram como salvadores da pátria. Esse é o mundo visto na visão de Arthur, de uma sociedade que o maltrata, mas ele segue por um rumo errado para tentar superar tudo o que o aflige.
E para esse filme funcionar, para essa nova versão do Coringa ser envolvente e impactante, não poderia esquecer de abordar a atuação de Joaquin Phoenix, que deu profundidade ao personagem e apresentou uma impressionante linguagem corporal para ilustrar sua angústia, estado de melancolia e raros momentos de descontração. O corpo magro e com os ossos à mostra, além de seus movimentos bruscos mostram o peso enorme que carrega e todos os seus conflitos internos, sem ficar dependente dos diálogos. A forma como interage, além dos closes feitos em seu rosto e a maneira como olha para a câmera fazem o personagem de Phoenix ter maior aproximação com o público, que vê mais o Arthur Fleck do que propriamente o Coringa.
Em tempos de violência e intolerância, ‘Coringa’ é um filme que liga o sinal de alerta no meio social e mostra que existem muitos Arthurs Fleck ao nosso redor e ao mesmo tempo uma sociedade em meio à corrupção e representantes questionáveis, como retratado na narrativa. Uma produção para dar um choque, chamar a atenção e também para entreter com cenas fortes e alguns momentos cômicos. Em dados momentos, é melhor rir do que chorar de determinada desgraça.
Cotação: 4/5 poltronas.
Nota do Editor: Coringa concorre ao Oscar em 11 indicações. É o recordista. E tem, talvez, a grande barbada da noite, a categoria de Melhor Ator para Joaquin Phoenix. Tem chances em Melhor Cabelo e Maquiagem mas concorre também a Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora Oriignal, Melhor Figurino dentre outros.