Poltrona Cabine: O Banquete/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: O Banquete/ Cesar Augusto Mota

Que tal um drama brasileiro que se apoia em um momento importante vivido na política nacional e um filme representado por algumas figuras, semelhantes a peças de um tabuleiro de xadrez, cujo jogo se altera na medida em que são movimentados? ‘O Banquete’, novo filme de Daniela Thomas, trata dos dilemas de nossa sociedade e as barbáries que os permeiam a cada dia, e a posição quase impotente que assumimos diante das poucas alternativas que temos na política e a falta de soluções para nossos problemas.

O longa consiste em apresentar ao espectador uma narrativa composta por diálogos, com uma diretora de um jornal, um colunista, um advogado, uma atriz, o povo (personificado por um garçom) e uma crítica de arte, com a câmera próxima aos seus rostos, com conversas que vão desde a sexualidade à Filosofia. O momento histórico mencionado acima refere-se aos anos Collor, durante a “lei da imprensa” que trataria de artigos contrários ao governo como motivos que levariam a prisões. E o fato específico é o que teria acontecido na noite anterior à iminente prisão do então diretor de redação de importante jornal de São Paulo após a publicação de uma Carta aberta na capa assinada por ele ao presidente Color de Mello,   posteriormente o processa e culmina na ameaça de prisão imediata do jornalista, que sem curso superior completo seria enviado para o Carandiru.

A proposta de apresentar ao público o mal-estar da classe artística e também da jornalística contra abusos cometidos por regimes opressivos é válida, mas não ilustra a origem deles e tampouco maneiras de como eles poderiam ser combatidos. O uso em excesso de expressões chulas e algumas falas com cunho sexual poderiam até causar desconforto, mas a intenção é de ver os personagens se digladiarem e depois passar por uma catarse, com transformações impressionantes dos personagens.

Dentre as atuações, Caco Ciocler impressiona na figura do triste e amargurado advogado, Gustavo Machado que vê todos da mesa de maneira irreverente, além de Chay Suede, o garçom sedutor, solícito e eficiente. No núcleo feminino,Drica Moraes, Mariana Lima e Fabiana Gugli vivem suas personagens no limite, e Bruna Linzmeyer, a sedutora que vai provocar os acontecimentos mais contundentes da trama. O elenco foi bem escolhido e todos se entregam aos seus personagens, com interpretações sérias, provocadoras e com algumas doses de humor nos momentos menos tensos. Um filme necessário e que se encaixa no momento atual vivido por nós brasileiros.

Além de provocante e tenso, ‘O Banquete’ é encorajador, e transmite uma importante mensagem, de que é preciso ter iniciativa, coragem e atitude, caso você queira mudar alguma coisa. Vale assistir.

Cotação: 3/5 poltronas.

‘O Banquete’, filme de Daniela Thomas, é retirado da mostra competitiva do Festival de Gramado

‘O Banquete’, filme de Daniela Thomas, é retirado da mostra competitiva do Festival de Gramado

O Banquete, longa-metragem dirigido por Daniela Thomas, teve sua sessão cancelada 46º Festival de Cinema de Gramado. A suspensão do longa-metragem, que integrava a mostra competitiva do evento, se deu em função da morte de Otavio Frias Filho, diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo.

A sessão seria realizada na quarta-feira (22). A morte do editor, que também foi ensaísta e dramaturgo, foi anunciada nesta terça-feira (21), em São Paulo. O jornalista tinha 61 anos.

“Sinto muito pela perda de Otávio e me solidarizo com a família, com seus amigos e funcionários. Foi um grande publisher, um intelectual admirável e tinha muito ainda a contribuir com o País”, comentou a diretora Daniela Thomas. O Banquete tem inspiração em eventos reais que marcaram o Brasil. Um desses eventos é o envio de uma carta aberta que foi publicada por Otavio Frias Filho, nos anos 90, ao presidente da República, cargo que na época foi ocupado por Fernando Collor.

Thomas considera que o resgate desse evento em um momento de luto pode não trazer as reflexões que ela intenciona. “O momento é inoportuno para o encontro de ficção e realidade e as possíveis interpretações equivocadas que a ficção pode suscitar. Por isso retiro o filme do festival”, disse a cineasta, de acordo com um comunicado à imprensa divulgado pela assessoria do Festival de Gramado.

Ano passado, na temporada de festivais nacionais, outro filme de Thomas foi envolto em polêmicas. Vazante, que aborda a rotina de uma fazenda de um senhor de escravos no Brasil colonial, foi acusado de ter um ponto de vista condescendente com o racismo.

Fonte: Adoro Cinema