Já estamos acostumados a ouvir que só damos valor a algo ou alguém quando perdemos. ‘Museu’ (Museo), filme dirigido por Alonso Ruiz Palacios se inspira em um fato ocorrido no México, em 1985. Na ocasião, dois veterinários que não possuíam antecedentes criminais realizaram um roubo de pouco mais de cem peças do Museu de Antropologia, dentre elas algumas de ouro e de jade, de valor incalculável. A história possui elementos reais e um pouco de ficção no que concerne à vida de um dos criminosos.

Juan (Gael García Bernal) é um jovem de classe média bem criado por sua família e sem nunca ter lhe faltado nada. E qual motivo o levaria a praticar um roubo, ainda mais de um museu de grande importância e com peças que são patrimônio da história do México? Além do roubo ao museu ser retratado, o espectador vai acompanhar os dramas de Juan, o remorso sentido por ele por roubar todas as peças e suas tentativas e empecilhos para vender as relíquias, assim como as maneiras que experimenta para curtir um pouco a vida ao lado de seus amigos, com shows noturnos com belas dançarinas, farras e bebedeiras.

O incidente ocorrido em 1985 serve como pano de fundo para a história ser contada, mas Juan é o centro da narrativa. Ele é o mentor do crime, o jovem confuso e sem rumo, o rapaz que se comporta como um garoto irresponsável e que só quer saber de diversão. Apesar das várias conotações negativas, ele é tratado de forma humanizada durante os 128 minutos de projeção, como uma pessoa de defeitos, mas com um bom coração e amoroso com a família. Além de Juan, o roteiro também toca na importância das obras de arte roubadas e na necessidade de preservação do patrimônio e da cultura de um país, com toda a história sendo (ou devendo) ser mantida para as futuras gerações. Em dados momentos, frases filosóficas são citadas, como ‘ser herói não é uma questão de desejo’ e ‘para que estragar uma história com a verdade?’, nesse caso em relação a uma tragédia ocorrida na família de Juan.

A montagem e os efeitos visuais utilizados em dadas ocasiões soaram um tanto exagerados, como nas cenas de noitadas e com danças, alguns cortes feitos abruptamente e a impressão de todos na boate Paraíso estarem em transe, com imagens congeladas. E no que concerne ao roubo, cenas com alunos e professores de uma escola visitando o local fazem o crime ganhar mais importância, pois todos olham para as prateleiras vazias, que deveriam abrigar peças da cultura asteca. Não é uma tentativa de glamourizar o roubo, mas uma maneira de convencer as pessoas de que a cultura faz parte da identidade dos povos e não tem preço.

Gael García Bernal (Neruda) se mostra confortável na pele do protagonista, uma espécie de anti-herói que faz o espectador refletir sobre a importância da cultura em seu dia a dia, mesmo que da pior maneira. Percebe-se a entrega do ator para o papel, principalmente nas cenas mais fortes, como na que está diante da família após o crime e a necessidade de fugir para poupar todos da vergonha que causou. Simplesmente uma atuação acima das expectativas.

O trabalho do diretor Alonso Ruiz Palacios e de todo o elenco alcançam um resultado expressivo, com um filme didático, reflexivo e de belo apelo estético. E vale a pena discutir a questão do patrimônio e da identidade, valores indisponíveis e únicos de um povo.

Cotação: 4,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota