Uma história sobre autodescoberta, aprendizado, crescimento e o desejo de alçar voos mais altos. Provavelmente você já deve ter visto um filme assim, mas ‘Lady Bird-A Hora de Voar’, de Greta Gerwig (Frances Ha), tem tudo isso e mais um pouco e fará você olhar para si mesmo e para os que estão ao seu redor de uma forma diferente, mais crítica, mais consciente.
Saoirse Ronan (Brooklyn) é Christine McPherson, ou ‘Lady Bird’, como se autodenomina, uma garota nada popular em uma escola católica da cidade de Sacramento, que deseja sair de casa e se livrar de suas raízes locais. Para ela não será nada fácil, pois para bater asas e voar, como sugere seu nome, terá que enfrentar uma grande jornada de amadurecimento, vários entreveros com sua mãe, Marion, interpretada por Laurie Metcalf (The Big Bang Theory), além de lidar com as decepções comuns às jovens de sua idade e superar o último ano do Ensino Médio, o terror da maioria dos adolescentes.
A história começa despretensiosa, mas após a cena da discussão entre Lady Bird e sua mãe no carro, com um breve silêncio, vamos sentir o peso das brigas e o quanto isso vai impactar na personalidade e no futuro da protagonista, além de momentos hilários com amigos e das decepções de Lady Bird com alguns planos frustrados. O roteiro, também assinado por Greta Gerwig, vem com propostas claras, como motivar e provocar o espectador; trazer os dramas e dificuldades adolescentes por um outro prisma, o de enxergar o mundo por sua própria ótica e também a dos outros; além de utilizar diálogos e recursos precisos para transmitir sinceridade à obra e mostrar que a vida é cheia de percalços e que nunca se deve perder a pose. É errando que se aprende, como estamos acostumados a ouvir.
Sem dúvida os calorosos e verborrágicos diálogos entre mãe e filha chamaram mais a atenção durante os 94 minutos de projeção, protagonizados por Saoirse Ronan e Laurie Metcalf. As duas mostraram um entrosamento incrível, além de conseguirem ilustrar um relacionamento tocante e cenas que fizessem o público se autotransportar para o mundo de Lady Bird, com sua criatividade, percepção, sensibilidade a tudo ao seu redor e a ousadia para driblar as situações mais difíceis. Laurie, como mãe da protagonista, apresentou o lado mais tenso do amor materno, além da postura superprotetora e zelosa, fazendo muitas mães se identificarem com ela. Já Saoirse consegue convencer e trazer o público para si, não só pela dificuldade que é o de interpretar uma jovem que está em fase de transição para a vida adulta, como encarar com naturalidade esse papel e passar segurança em suas atitudes, além de seus medos. Saoirse soube equilibrar as virtudes e os defeitos de sua personagem, bem como apresentou soluções inteligentes para seus problemas, além de nos brindar com momentos cômicos e emocionantes ao lado dos amigos. Destaque também para Timothée Chalamet (Me Chame pelo Seu Nome) e Beanie Feldstein (Vizinhos 2), dois amigos que possuem papéis importantes na trajetória de Lady Bird e que vão cativar o público, tanto pela espontaneidade como pela força de seus personagens.
Investir em uma trama adolescente e contá-la de uma forma honesta, sem melodrama e fazer um se colocar no lugar do outro e entender suas necessidades, não só seus próprios anseios, são os ingredientes para o sucesso de ‘Lady Bird-A Hora de Voar’. Não foi à toa que o filme recebeu importantes indicações ao Oscar, como a de melhor direção, para Greta Gerwig, melhor atriz para Saoirse Ronan e atriz coadjuvante para Laurie Metcalf. Greta acerta a mão em fazer esse tipo de abordagem em seu filme e foge do lugar comum, além das duas atrizes cumprirem muito bem seus papéis e chamarem a atenção do público em geral. Um longa que alcançou voos altos, e que pode conseguir muito mais.
Avaliação: 4,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota