Poltrona Resenha: Bom Comportamento/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Resenha: Bom Comportamento/ Cesar Augusto Mota

Já vimos diversos filmes que envolvem criminosos, policiais, perseguições e muitos tiros. Mas ‘Bom Comportamento’, filme dos irmãos Ben e Josh Safdie, sai do lugar comum e traz ao espectador uma história que reúne ingredientes capazes de causarem grande frenesi e oferecerem um ótimo plano visual.

O enredo consiste em nos mostrar o drama de dois irmãos, Nick (Ben Safdie) e Connie (Robert Pattinson), após um plano de assalto fracassar e Nick ir parar na prisão. Vemos uma grande lição de companheirismo, união, muita resistência e toda a astúcia de ambos para se livrarem da perseguição policial e conseguirem sobreviver na cidade grande. Uma verdadeira odisseia tortuosa.

A escolha do elenco para esse filme foi um dos acertos para a trama funcionar tão bem. Além de Safdie e Pattinson, temos  Buddy Duress,  como o traficante e um dos grandes conflitos da história, Jennifer Jason Leigh, uma mulher um tanto desequilibrada e desconexa, além de Barkhad Abdi e Taliah Webster, como o segurança imigrante e uma jovem sem tantas ambições, respectivamente. Todos transmitem com muita veracidade o que sentem, passando para o espectador muito desespero nas cenas, além de transmitirem um ritmo alucinante de suas ações nos mais diferentes momentos da trama. Destaque para Robert Pattinson, que consegue representar muito bem um personagem complexo e se desgarrar um pouco do ícone que o consagrou na saga Crepúsculo.

O roteiro apresenta uma história bem estruturada, que vai evoluindo conforme os planos e mentiras arquitetadas por Connie, além de surpreender pela forma como os personagens secundários são encaixados, todos beirando à loucura e envolvidos nas tramoias de Connie. O ritmo é frenético, intenso, você acha que tudo pode ir por água abaixo a qualquer momento, mas aguarda com ansiedade pelo próximo passo a ser dado por Connie para tentar tirar Nick da prisão. Outro trunfo está na velocidade das ações, elas são feitas num ritmo que não comprometam o entendimento da história e o desenrolar dela, você consegue acompanhar tudo sem perder o fio da meada e ainda se surpreende a cada cena mostrada.

Mais um destaque da produção é a fotografia, um filme escuro, mas com cores vibrantes e que ditam o ritmo, de perseguição, pressa e muita melancolia. O uso da câmera na mão é um ótimo recurso para mostrar a correria e o desespero dos personagens, tudo bem de perto e em detalhes para o espectador não perder nada e ficar ainda mais envolvido. Aliada às imagens, que possuem um enquadramento centrado nos rostos dos personagens, temos uma trilha sonora regada à música eletrônica bastante pulsante e os barulhos da cidade ao fundo, tudo para criar um clima tenso e perturbador para o espectador.

‘Bom Comportamento’ é um longa de visual vibrante, com roteiro que prima pela ousadia e dinamismo, além de contar com um elenco renomado e de ótimo entrosamento. Quem procura fortes emoções, esse é o filme certo. Bastante aclamado no Festival de Cannes, quem sabe não caia também no gosto dos brasileiros?

Avaliação: 4/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Séries: Atypical/ 1ª temporada

Poltrona Séries: Atypical/ 1ª temporada

A Netflix está a cada dia trazendo novidades e abordando temas de forma dinâmica e ousada. Já foi assim sobre bullying, a representação das minorias, o suicídio, e agora um tema delicado e pouco discutido, o autismo.

‘Atypical’, produção recém-lançada, possui 8 episódios em sua primeira temporada e com criação da roteirista Robia Rashid, de “How I Met Your Mother”. Já temos ideia do que vem por aí, tendo em vista que Robia aborda histórias de maneira dramática e com um pouco de veia cômica, não é verdade?

A história traz a jornada do jovem Sam (Keir Gilchrist), prestes a terminar o ensino médio, mas com traços de autismo. O protagonista começa uma saga incansável em busca de seu primeiro amor e enfrenta uma jornada de amadurecimento e novas experiências de vida.

Os personagens são retratados de maneira sutil no primeiro episódio, assim como os dramas pessoais de cada um. Além de Sam, conhecemos os pais dele, Doug (Michael Rapaport) e Elsa Garnier (Jennifer Jason Leigh), ambos superprotetores, mas com alguns segredos guardados que vão ser revelados aos poucos. A irmã de Sam, Casey (Brigette Lundy-Paine), também começa a ter sua primeira experiência amorosa e enfrenta alguns dilemas da adolescência.

O núcleo  da série também é destaque, pois traz riqueza e maior amplitude à história, o autismo não é apenas um mal que aflige crianças e adolescentes, é um problema social e que ainda não é encarado de forma adequada e é difícil de ser contornado. Você nota a dificuldade das pessoas ao redor de Sam em lidar com seu problema e em muitas ocasiões travam, sequer sabem o que fazer.

Há alguns momentos engraçados na série, mas você não ri de Sam, mas de algumas situações nas quais ele se envolve. Há diversão em diversas ocasiões, mas rapidamente o espectador volta para o contexto da história e reflete sobre o autismo, as peculiaridades e o motivo de ele ser abordado com profundidade na série.

As atuações dos atores são muito competentes, eles conseguem criar uma empatia com o público e fazem os espectadores se envolverem com a história e torcer pelos personagens, principalmente por Sam e Casey, dois irmãos unidos e que apresentam uma evolução impressionante durante a história. Michael Rapaport e Jennifer Jason Leigh também conseguem se destacar, mas seus personagens se mostram um tanto distantes, eles não parecem estar do mesmo lado e se apresentam um tanto desligados, mas conseguem imprimir uma realidade vivida por muitas famílias e o drama que muitos pais vivem com filhos em casa que apresentam traços de autismo, há sinceridade e autenticidade nas atuações do casal.

‘Atypical’ sem dúvida nos fará olhar para a vida com outros olhos, uma produção com um enfoque mais sensível e humano e que tocará seu coração. Vale a pena conferir.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota