NICHO 54 leva tema da equidade racial no cinema para o 78º Festival de Cannes 

NICHO 54 leva tema da equidade racial no cinema para o 78º Festival de Cannes 

  • Parte da programação oficial de conferências do Marché du Film do Festival de Cannes, o painel “Vozes da maioria no cinema: os 54% negros do Brasil não podem esperar” é apresentado pelo NICHO 54, com apoio da ONU Mulheres, Instituto Guimarães Rosa e Projeto Paradiso
  • Painel divulgará dados inéditos sobre a participação de profissionais negros no setor
  • Participam da conversa o produtor e diretor Robson Dias, a produtora-executiva e curadora Bethania Maia, o compositor Pedro Santiago e a atriz Camila Pitanga, com mediação de Markus Darien Thersio, coordenador de relações internacionais do NICHO 54
  • Brasil é destaque como País de Honra oficial do Festival, que acontece de 13 a 21 de maio de 2025

São Paulo, maio de 2025 — A convite da organização do Marché du Film, o NICHO 54 — instituto que atua para expandir o acesso de empresários e trabalhadores negros de audiovisual a oportunidades de financiamento, educação e internacionalização — apresenta o painel “Vozes da maioria no cinema: os 54% negros do Brasil não podem esperar” na programação oficial de conferências de mercado.

A 78º edição do prestigiado evento, que acontece de 13 a 21 de maio na França, homenageia o Brasil como País de Honra oficial do Festival, destacando produções, profissionais e temáticas da indústria cinematográfica e criativa brasileira. O ano de 2025 também marca o bicentenário das relações diplomáticas entre Brasil e França e, para celebrar a data, os dois países promovem a Temporada Brasil-França, iniciativa cultural com mais de 300 eventos ao longo do ano.

“Nosso objetivo é compartilhar com a comunidade internacional os desafios estruturais que enfrentamos no Brasil e que impedem a participação simbólica e econômica das pessoas negras”, afirma Fernanda Lomba, fundadora e diretora-executiva do NICHO 54“Também iremos apresentar soluções que a nossa organização tem protagonizado para alterar esta realidade”, completa.

O painel será moderado por Markus Darien Thersio, coordenador de relações internacionais do NICHO 54, e contará com a participação de Robson Dias produtor e diretor da Búzios Films), Bethania Maia (produtora-executiva e curadora da Vaporosa Cultural), Pedro Santiago (compositor e produtor musical) e Camila Pitanga (atriz, produtora e ativista). A realização é do NICHO 54, com apoio da ONU MulheresInstituto Guimarães Rosa e Projeto Paradiso.

Além de compartilhar suas experiências enquanto empresários e artistas negros, os painelistas apresentarão ao público internacional em Cannes dados recentes que buscam suprir a deficiência de informações sobre raça, etnia e gênero no mercado audiovisual. O debate terá como base a pesquisa ainda inédita “Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual — Pesquisa de Obras | 2024-2025”, realizada pela Onu Mulheres, e o estudo Cinemateca Negra, publicado em 2024 pelo NICHO 54, que mapeou e consolidou dados sobre curtas, médias e longas-metragens produzidos por pessoas negras no Brasil entre 1949 a 2022.

Serviço

PAINEL: Vozes da maioria no cinema: Os 54% negros do Brasil não podem esperar, por Nicho 54

DATA: 18 de maio de 2025

HORÁRIO: 11h15 às 12h15 (horário local)

LOCAL: sala ‘The Viewpoint’ (Lérins)

CONVIDADOS:

  • Bethania Maia: produtora, curadora e programadora de mostras e festivais desde 2011. Atua na produção executiva de projetos audiovisuais desde 2018, abrangendo videoclipes, curtas, longas, seminários e publicações. É fundadora da Vaporosa Cultural, produtora e difusora audiovisual com foco em narrativas afro-diaspóricas latino-americanas.
  • Robson Dias: Diretor, diretor de fotografia e roteirista brasileiro radicado em Marselha. Comanda a Búzios Films e codirige “I Heard the Calling”, selecionado para o Cannes Docs 2025. Com mais de 15 anos de experiência no cinema, seu trabalho conecta histórias afro-indígenas e cinema global, misturando poesia e política para desafiar narrativas dominantes.
  • Pedro Santiago: Nascido em Paris e criado em São Paulo, Pedro é compositor de trilhas sonoras e produtor musical que trabalha entre o Brasil e a Europa há mais de 15 anos. Alumni do Berlinale Talents 2023, ele compôs trilhas sonoras para filmes premiados em festivais globais, construindo uma carreira moldada por vozes afro-brasileiras e criatividade transatlântica.
  • Camila Pitanga: Atriz, diretora e produtora brasileira, reconhecida por suas realizações artísticas e atuação social ao longo de mais de três décadas. Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres desde 2016, usa sua plataforma para amplificar as vozes de mulheres, comunidades negras e grupos historicamente marginalizados.

MODERADOR:

  • Markus Darien Thersio: Profissional canadense baseado no Rio de Janeiro, atua como coordenador de Relações Internacionais no NICHO 54 desde novembro de 2024. Com experiência em serviços de imigração, contribui para o alcance global e a articulação de parcerias estratégicas do instituto.

PARCEIROS DA AÇÃO:

  • ONU Mulheres
  • Instituto Guimarães Rosa
  • Projeto Paradiso 

PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

Link

VEJA FOTOS DE ‘O RISO E A FACA’ UM DOS DESTAQUES BRASILEIROS EM CANNES

VEJA FOTOS DE ‘O RISO E A FACA’ UM DOS DESTAQUES BRASILEIROS EM CANNES

O longa foi escolhido para integrar a mostra Un Certain Regard, a segunda mais importante do evento.
Cleo Diára e Jonathan Guilherme em cena do filme
Na próxima semana, dia 13 de maio, começa o  78ª Festival de Cannes, um dos principais festivais de cinema do mundo, e o longa “O RISO E A FACA” (I Only Rest In The Storm), é um dos representantes brasileiros selecionados para a competição Oficial. Dirigido pelo português Pedro Pinho (A Fábrica de Nada), o filme que está na mostra Un Certain Regard conta com grande parte de sua equipe composta por brasileiros, incluindo um dos protagonistas do filme, Jonathan Guilherme, a produtora Tatiana Leite e o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo.

Batizado a partir de uma música homônima do músico, cantor e compositor baiano Tom Zé, o filme foi rodado na Guiné-Bissau, e acaba de divulgar novas fotos. “O RISO E A FACA” conta a história do engenheiro ambiental Sérgio, português que viaja para uma metrópole na África Ocidental onde vai trabalhar num projeto rodoviário entre o deserto e a selva. Lá, ele desenvolve um relacionamento íntimo com dois moradores da cidade, Diára e Gui. No trio de protagonistas, está o brasileiro Jonathan Guilherme, ex-atleta de vôlei que trocou as quadras pela arte e hoje é poeta em Barcelona, na Espanha, onde mora. Ele dá vida ao personagem Gui e contracena com o português Sérgio Coragem, conhecido por seus papéis em “Verão Danado” (2017) e “Fogo-Fátuo” (2022); e a cabo-verdiana Cleo Diára, de “Diamantino” (2018).

“O filme convida os personagens a trazer a palavra para o centro da ferida mais exposta do nosso tempo: a fronteira neocolonial. Construindo a partir dessa premissa uma jornada polifônica, expondo um espectro de perspectivas em torno de um problema central, que permanece longe de estar resolvido.”, diz o diretor Pedro Pinho

O RISO E A FACA é coproduzido pela brasileira Bubbles Project, com distribuição no Brasil da Vitrine Filmes.
Sérgio Coragem e Cleo Diára em cena do filme
SINOPSE

Sérgio viaja para uma metrópole da África Ocidental. Vai trabalhar como engenheiro ambiental para uma ONG, na construção de uma estrada entre o deserto e a selva. Ali, envolve-se numa relação íntima mas desequilibrada com dois habitantes da cidade, Diára e Gui. À medida que adentra nas dinâmicas neocoloniais da comunidade de expatriados, esse laço frágil torna-se o seu último refúgio perante a solidão ou a barbárie.
O DIRETOR

Pedro Pinho nasceu em Lisboa e viveu em Paris, Barcelona, ​​Maputo (Moçambique) e Mindelo (Cabo Verde). Em 2009, fundou, com outros cinco cineastas, a produtora Terratreme. O seu primeiro documentário, “Bab Sebta” (co-realizado com Frederico Lobo), estreou no FIDMarseille em 2008, onde ganhou o Prêmio Esperance de Marselha. A média-metragem de ficção “Um Fim do Mundo” participou da seção Generation, da Berlinale, em 2013. Em 2014, o documentário “As Cidades e as Trocas” (co-realizado com Luísa Homem) estreou no FIDMarseille e no Art of the Real no Lincoln Center, em Nova York. Em 2017, sua estreia em longas-metragens de ficção, “A Fábrica de Nada”, estreou na Quinzena de Cineastas de Cannes, onde ganhou o Prêmio FIPRESCI da Crítica Internacional e recebeu outros 20 prêmios em festivais em todo o mundo. O filme recebeu ainda dois prêmios Sophia, o Oscar do cinema português e foi lançado comercialmente em países da Europa, Ásia e América Latina, entre eles o Brasil. Em 2025, “O RISO E A FACA”, seu segundo longa de ficção, estreia na mostra Un Certain Regard da Seleção Oficial do Festival de Cannes.
FICHA TÉCNICA

Direção:
 Pedro Pinho
Roteiro: Pedro Pinho, com colaboração de Miguel Seabra Lopes, José Filipe Costa, Luísa Homem, Marta Lança, Miguel Carmo, Tiago Hespanha, Leonor Noivo, Luis Miguel Correia e Paul Choquet
Elenco: Sérgio Coragem, Cleo Diára, Jonathan Guilherme, Renato Sztutman, Jorge Biague, Bruno Zhu, Kody McCree e Everton Dalman
Produção: Uma Pedra no Sapato e Terratreme (Portugal), Bubbles Project (Brasil), Still Moving (França), De Film (Romênia)
Produtores: Filipa Reis, Tiago Hespanha, Tatiana Leite, Juliette Lepoutre, Pierre Menahem, Ioana Lascăr e Radu Stancu
Produtores Associados: Rodrigo Letier (Kromaki Filmes), Geba Filmes e Maison des Cinéastes 
Direção de Produção: Eduardo Nasser
Fotografia: Ivo Lopes Araújo
Montagem: Rita M. Pestana, Karen Akerman, Claúdia Oliveira e Pedro Pinho
Direção de Arte e Figurinos: Camille Lemonnier, Livia Lattanzio e Ana Meleiro
Maquiagem e Cabelo: Ami Camará
Som: Jules Valeur
Edição de Som: Pablo Lamar
Ano e países de produção: Portugal/Brasil/Romênia/França, 2025
Duração: 212 min
Distribuição no Brasil: Vitrine Filmes
PREMIADO EM CANNES, A FLOR DO BURITI ESTREIA NOS CINEMAS EM 04 DE JULHO

PREMIADO EM CANNES, A FLOR DO BURITI ESTREIA NOS CINEMAS EM 04 DE JULHO

Novo filme de João Salaviza e Renée Nader Messora registra a resistência do povo Krahô

Exibido em mais de 100 festivais ao redor do mundo e vencedor de catorze prêmios, entre eles o prêmio coletivo para melhor elenco na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, A FLOR DO BURITI, de João Salaviza e Renée Nader Messora chega aos cinemas brasileiros em 04 de julho, com distribuição da Embaúba Filmes.

Novamente com os Krahô, no norte do Tocantins, o filme traz um dos temas mais urgentes da atualidade: a luta dos Krahô pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidades indígenas no Brasil.

O filme nasce do desejo em pensar a relação dos Krahô com a terra, pensar em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos. As diferentes violências sofridas pelos Krahô nos últimos 100 anos também alavancaram um movimento de cuidado e reivindicação da terra como bem maior, condição primeira para que a comunidade possa viver dignamente e no exercício pleno de sua cultura”, explica a diretora.

A Flor do Buriti atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela um massacre ocorrido em 1940, onde morreram dezenas de pessoas. Perpetrado por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a ecoar na memória das novas gerações.

Filmar o massacre era um grande dilema. Se por um lado é uma história que deve ser contada, por outro não nos interessava produzir imagens que perpetuassem novamente uma violência. Percebemos que a única forma de filmar essa sequência era a partir da memória compartilhada, a partir de relatos, do que ainda perdura no imaginário coletivo desse pessoal que insiste em sobreviver”.

A FLOR DO BURITI foi filmado durante quinze meses em quatro aldeias diferentes, dentro da Terra Indígena Kraholândia, e assim como no filme anterior da dupla,  Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, a equipe era muito pequena e se dividia entre indígenas e não indígenas. Relatos históricos baseados em conversas e a realidade atual da comunidade serviram de base para a construção da narrativa do filme.

A gente não trabalha com o roteiro fechado. A questão da terra é a espinha dorsal do filme. Propusemos aos nossos amigos na aldeia trabalharmos a partir desse eixo, imaginar um filme que pudesse viajar pelos tempos, pela  memória, pelos mitos, mas, que, ao mesmo tempo fosse uma construção em aberto que faríamos enquanto fossemos filmando. A narrativa foi sendo construída com a Patpro, o Hyjnõ e o Ihjãc, que assinam o roteiro”, explica João.

O reconhecimento do filme em diversos festivais internacionais, mostra que o mundo está realmente de olho nas questões dos povos originários no Brasil. “A importância dos povos originários não reside apenas no conhecimento ancestral, mas também na elaboração de tecnologias totalmente sofisticadas de defesa da terra. Eles ocupam radicalmente a contemporaneidade” ressalta João Salaviza.

Além do Festival de Cannes, o filme foi premiado em importantes festivais como Munique (Cinevision Award), Lima (Prêmio Signis), Mar del Plata (Prêmio Apima Melhor filme Latino-Americano), Festival dei Popoli (Melhor Filme), Huelva (Prêmio Especial do Júri e Prêmio Melhor Filme Casa Iberoamérica), RIDM Montreal (Prêmio Especial do Júri), Biarritz, Viennale, e forumdoc.BH. 

A FLOR DO BURITI é distribuído no Brasil pela Embaúba Filmes.
Sinopse
Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um violento massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, durante a Ditadura Militar, o Estado Brasileiro incita muitos dos sobreviventes a integrarem uma unidade militar. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô seguem caminhando sobre sua terra sangrada, reinventando diariamente as infinitas formas de resistência.
Ficha Técnica
Direção: João Salaviza, Renée Nader Messora 
Roteiro: João Salaviza, Renée Nader Messora, Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Henrique Ihjãc  Krahô 
Produção: Ricardo Alves Jr., Julia Alves 
Elenco: Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô
Direção de Fotografia: Renée Nader Messora 
Direção de Arte: Ángeles Frinchaboy, Ilda Patpro Krahô 
Direção de Produção: Isabella Nader Messora 
Som Direto: Diogo Goltara 
Desenho de Som: Pablo Lamar 
Montagem: Edgar Feldman 
Gênero: drama
País: Brasil, Portugal 
Ano: 2023 
Duração: 124 min

Sobre JOÃO SALAVIZA
João Salaviza (1984) estudou Cinema na Lisbon Theatre and Film School e na Universidad del Cine em Buenos Aires. O seu primeiro curta-metragem ARENA foi premiada com a Palma de Ouro em Cannes (2009), seguindo-se o Urso de Ouro de Curtas-Metragens na Berlinale para RAFA (2012). Lançou também na Competição Oficial da Berlinale as curtas ALTAS CIDADES DE OSSADA (2017) e RUSSA (2018). O seu primeiro longa-metragem, MONTANHA, teve a sua estreia mundial no Festival de Veneza (Semana da Crítica) em 2015. Desde então, vive entre Portugal e o Brasil, junto do povo indígena Krahô.
Em 2018 estreou CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, correalizado com Renée Nader Messora, no Festival de Cannes, recebendo o Prémio Especial do Júri – Un Certain Regard. O filme foi lançado comercialmente em vários países, destacando-se França onde foi visto por 45.000 espectadores.
Em 2023 regressa ao Festival de Cannes – Un Certain Regard para estrear A FLOR DO BURITI (correalizado com Renée Nader Messora), filmado durante um período de quinze meses na Terra Indígena Krahô.


Sobre RENÉE NADER MESSORA
Graduada em Cinematografia pela Universidad del Cine, em Buenos Aires. Por 15 anos, trabalhou como assistente de direção em diversos projetos no Brasil, Argentina e Portugal, entre eles MONTANHA, primeiro longa-metragem de João Salaviza. Fotografou o curta-metragem POHÍ, através do qual conhece o povo Krahô. Desde então, trabalha com a comunidade, contribuindo na organização de um coletivo de jovens cinegrafistas que utilizam o cinema como ferramenta para o fortalecimento da identidade cultural e a autodeterminação da comunidade.
Em 2017 fotografou o curta-metragem RUSSA, dirigido por Ricardo Alves Junior e João Salaviza e que estreou na Competição Oficial da Berlinale 2018.
Também em 2018 estreou sua primeira longa-metragem, CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, correalizado com João Salaviza, no Festival de Cannes, recebendo o Prêmio Especial do Júri – Un Certain Regard. O filme foi lançado comercialmente em vários países,
destacando-se França onde foi visto por 45.000 espectadores. A FLOR DO BURITI é o seu segundo longa-metragem, correalizado com João Salaviza e filmado durante um período de quinze meses na Terra Indígena Krahô.

Sobre a Embaúba Filmes
A Embaúba é uma distribuidora especializada em cinema brasileiro, criada em 2018 e sediada em Belo Horizonte. Seu objetivo é contribuir para a maior circulação de filmes autorais brasileiros. Ela busca se diferenciar pela qualidade de seu catálogo, que já conta com mais de 50 títulos, investindo em obras de grande relevância cultural e política. A empresa atua também com a exibição de filmes pela internet, por meio da plataforma Embaúba Play, que exibe não apenas seus próprios lançamentos, como também obras de outras distribuidoras e contratadas diretamente com produtores, contando hoje com mais de 500 títulos em seu acervo, dentre curtas, médias e longas-metragens do cinema brasileiro contemporâneo.
Festival de Cannes: ‘Anora’, de Sean Baker, conquista Palma de Ouro

Festival de Cannes: ‘Anora’, de Sean Baker, conquista Palma de Ouro

Festival de Cannes: ‘Anora’, de Sean Baker, ganha Palma de Ouro; veja lista de vencedores em 2024
Prêmio do júri e o de atuação feminina foram dados a ‘Emilia Perez’; cineasta iraniano Mohammad Rasoulof levou prêmio especial

Sean Baker, diretor que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2024 pelo filme 'Anora'
Sean Baker, diretor que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2024 pelo filme ‘Anora’ Foto: Stephane Mahe/REUTERS

O Festival de Cannes chegou ao fim neste sábado, 25, com o anúncio da lista de vencedores e o ganhador da Palma de Ouro em 2024: Anora, do estadunidense Sean Baker.

Ele destaca, porém, que busca por personagens imperfeitos, portadores de problemas mundanos: “Não posso simplesmente fazer – e perdoem minha expressão – uma história de ‘prostituta com o coração de ouro'”. para ler mais sobre a carreira de Sean Baker.

Outros destaques do Festival de Cannes em 2024Miguel Gomes levou a melhor como diretor com o Prix de la Mise en scène por Grand Tour. O Grand Prix do Festival de Cannes ficou para All We Imagine As Light, da diretora indiana Payal Kapadia. Já Mohammad Rasoulof, que foi condenado por oito anos no Irã por “crimes contra a segurança nacional” por produzir filmes sem autorização do governo, recebeu um prêmio especial neste ano.

Os destaques de atuação ficaram para Jesse Plemons, de Kinds of Kindness, e um prêmio conjunto para cinco atrizes que integraram o elenco do longa Emilia Pérez: Adriana Paz, Zoe Saldaña, Selena Gomez. e Karla Sofía Gascón. Esta última, inclusive, foi a primeira mulher transgênero a ser premiada na categoria, e dedicou a estatueta “a todas as pessoas trans, que sofrem todos os dias”.

O Brasil também esteve presente no Festival de Cannes em 2024 com a exibição do longa Motel Destino, de Karim Aïnouz. para ler mais sobre a trama e uma entrevista com o diretor.

Os vencedores do Festival de Cannes em 2024

Palma de Ouro: Anora (Sean Baker)
Grand Prix: All We Imagine As Light (Payal Kapadia)
Prix du Jury (prêmio do júri): Emilia Pérez (Jacques Audiard)
Prix de la Mise en scène (melhor diretor): Grand Tour (Miguel Gomes)
Prix Spécial: The Seed Of The Sacred Fig (Mohammad Rasoulof)
Prêmio de interpretação masculina: Jesse Plemons (Kinds of Kindness)
Prêmio de interpretação feminina: Adriana Paz, Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez (Emilia Pérez)
Prix du Scénario (Roteiro): The Substance (Coralie Fargeat)
Caméra d’or (melhor diretor estreante): Armand (Halfdan Ullmann Tøndel)
Caméra d’or – menção especial: Mongrel (Wei Liang Chiang e You Qiao Yin)
Palma de ouro de curta-metragem: The Man Who Could Not Remain Silent (Nebojša Slijepcevic)
Menção Especial de curta-metragem: Bad For a Moment (Daniel Soares)
Palma de Ouro honorária: George Lucas

* Com informações da agência AFP.

Fonte: Terra

Festival de Cannes: Balanço antes da entrega da Palma de Ouro

Festival de Cannes: Balanço antes da entrega da Palma de Ouro

Festival tenta manter o prestígio recuperado após mostrar as tendências do Oscar de 2024 a partir da edição do ano passado. Será que a programação tem força o bastante para repetir o feito?

CANNES – E, no último dia do Festival de Cannes, veio o iraniano Mohammad Rasoulof, que já venceu o Urso de Ouro na Berlinale com O Mal não Existe. As estatísticas mostram que a maioria dos vencedores de Palma de Ouro são exibidos nos últimos dias, e no último dia do festival. The Seed of the Sacred Fig veio confirmar a regra. Habemus Palma, mas é antecipar-se à premiação que ocorrerá neste sábado, 25, à noite, 20h na França, 15h no Brasil.

A palavra final será de Mme. La Présidente, Greta Gerwig, e de seu júri integrado por Hirokazu Kore-eda, Nadine Labaki, Omar Sy.

Nos últimos anos, Cannes vinha perdendo espaço para os festivais que se realizam no segundo semestre, especialmente Veneza, que havia virado o queridinho dos produtores de Hollywood. Com a proximidade do Oscar eles se beneficiavam da vitrine do Lido para tentar emplacar seus filmes nas indicações para os prêmios da Academia.

Mas, este ano algo se passou e o Oscar premiou importantes vencedores de Cannes no ano passado, como Anatomia de Uma Queda, Zona de Interesse. Para Cannes, e para Thierry Frémaux, que organiza a seleção oficial, virou uma questão de honra repetir o feito, ainda mais que este ano marcou o início de uma nova presidência do evento – Iris Knobloch, com certeza, quer mostrar resultados. Thiérry também. Afinal essa está sendo a sua 25ª seleção. Ninguém durou tanto no cargo como ele nesses 77 anos de Cannes.

Nove entre dez jornalistas de cinema – críticos – dirão que a seleção de 2024 foi mais pop. Outros que Frémaux aposentou seus velhos, com exceções. Apostou numa geração intermediária, autores não tão novos, mas que já integraram a seleção oficial anteriormente. E como a presidência está sendo exercida por uma mulher, Greta Gerwig, diretora de Barbie,  aumentou um pouco (bem pouco) a representatividade de gênero. Quatro diretoras num total de 23 filmes representam cerca de um sexto da concorrência à Palma.

Outro preferido da crítica jovem – o grego Yorgos Lanthimos – volta a Cannes depois de dois triunfos em Veneza, A Favorita e Pobres Criaturas, agora com um filme em episódios, contando três histórias interpretadas pelo mesmo elenco, incluindo dois atores fieis – Emma Stone e Willem Dafoe. Relatos selvagens, variados tipos de aberrações, a primeira história até que é competente, mas depois é a descida da montanha russa.

Mais horror em The Girl With the Needle, de Magnus Van Horn, uma cria da estética neoexpressionista de Lanthimos. Após a 1ª Guerra, uma mulher cujo marido está no front engravida de um aristocrata dominado pela mãe e termina envolvendo-se com outra mulher que mata bebês. O marido que voltou sem rosto – sim! – da guerra é o único dotado de empatia humana nessa história de monstros, e atrocidades.

Francis Ford Coppola empenhou sua vinícola para financiar, do próprio bolso, o filme com que sonhava há 30 anos. Apesar da beleza visual e de algumas inovações estéticas – à O Fundo do Coração -, o filme metaforiza a queda do Império Romano, transformando Nova York em Nova Roma, onde o arquiteto Adam Driver tenta construir a cidade futura, ideal, enredando-se em jogos de poder. É, rapaz, não é todo mundo que nasce Marlon Brando ou Robert De Niro para virar poderoso chefão. Um eventual prêmio para Megalopolis só se explicará em reconhecimento à carreira do grande Coppola, ou como ajuda para que ele continue produzindo seus vinhos.

Coppola dedica Megalopolis à mulher, Eleanor, que morreu em abril. David Cronenberg também perdeu a mulher e tenta expiar o luto em The Shrouds. Vincent Cassel, que não é parecido com ele, mas ficou igual graças ao corte de cabelo, à postura e uma certa perda de massa física, possui o cemitério onde está enterrada sua mulher. Por meio de um dispositivo eletrônico instalado na cova, pode acompanhar a deterioração do cadáver da falecida. Puro Cronenberg, mas a inspiração foi-se.

Vencedor do prêmio de interpretação em Berlim, em fevereiro, Sebastian Stan é uma aposta para repetir o troféu, agora por sua interpretação como o jovem Donald Trump, de Ali Abbasi. Trump virou o que é pela influência de dois pais, o biológico, e seu mentor, Roy Cohn, que surgiu no macarthismo, escondeu a vida toda a homossexualidade e termina vítima da aids, como sabe quem viu Anjos na América. Melhor, até, do que Stan é Jeremy Strong, que faz Cohn. O Trump de Abbasi é o típico homem que não sabe amar, exceto a si mesmo. Como psicanálise, é elementar. Como cinema, médio.

Ben Whishaw é outro aspirante a melhor ator como o dissidente russo de Limonov, de Kirill Serebrennikov. O cara consegue migrar nos EUA, perder-se em Nova York, mas volta ao império fraturado para fundar um partido de extrema-direita que, o filme não mostra, praticou atrocidades na Guerra do Donbass. Tem um plano sequência elaborado, e maravilhoso, só.

Jia Zhangke segue com sua investigação sobre as mudanças na China. Adapta-as para o tempo da pandemia em Caught by Tides. Apesar de belas cenas – uma certa corrida -, parece um tanto cansado, senão repetitivo. Paolo Sorrentino vale-se de uma bela mulher – a jovem Celeste Dalla Porta – para discutir o que é a etnografia em Parthenope. O filme também tem seus momentos, mas, apesar de uma certa grandiosidade, não vai muito além do básico. Uma mulher que não sabe amar.

Até a sexta, e a chegada de Rasoulof, havia uma acirrada disputa entre The Substance e o musical de Jacques Audiard, Emilia Pérez. Questões identitárias atravessam a obra do diretor, mas nunca como aqui. Um poderoso chefão do narcotráfico quer mudar radicalmente de vida. Seria necessário todo o espaço desse texto para dar conta das reviravoltas da trama, e de gêneros, cinematográficos, e não apenas. Emilia Pérez seria – seria – um bom, senão grande vencedor da Palma. Greta e seu júri ainda podem fazer história premiando a espetacular Karla Sofía Gascón, que seria a primeira mulher atriz trans a vencer o Festival de Cannes.

Senão, o troféu caberia muito bem a Mikey Madison, protagonista de Anora, de Sean Baker. É outro dos grandes filmes dessa edição. A história da stripper americana que se envolve com o herdeiro de um oligarca russo. Casam-se, e a família do rapaz vem para estragar a festa. A mais improvável das histórias de amor, não com o herdeiro. Há redenção para os dejetos humanos do capitalismo.

Um dos maiores filmes dessa edição, e talvez o maior – Grand Tour, do português Miguel Gomes -, foge a qualquer parâmetro de narração hollywoodiana. A estrutura romanesca, o ponto de vista do homem e o da mulher, a implosão da temporalidade – o filme de época passa-se em cenários contemporâneos -, tudo em Grand Tour desafia cânones. Seria uma bela surpresa, mas surpresa será se The Seed of the Sacred Fig não levar o prêmio máximo. Para quem queria horror, o filme tem o da realidade. Feminismo? Logo no começo, o casal, marido e mulher, comemora a promoção dele a investigador dos tribunais revolucionários do Irã.

O próximo passo da evolução poderá ser para juiz. Mas logo, num país em processo de convulsão, começam os problemas, e dentro da casa. As filhas estão conectadas no mundo via redes sociais. O pai invoca Deus. Todo o horror – a brutalidade da repressão – é obra dos inimigos de Deus. Rasoulof fez um filme tenso, assustador. Toda a gosma de The Substance não vale a cena na qual a mãe trata a ferida de uma amiga das filhas. Aqui não há fantástico, o horror da realidade supera o da ficção. Há uma subtrama sobre uma arma que desaparece. O pai, sentindo-se ameaçado, enlouquece. As mulheres da família, unidas, jamais serão vencidas. A Semente da Figueira Sagrada levará? A resposta, no sábado à noite.

Mas cabe um acréscimo. Depois de 30 anos de ausência, a Índia voltou à competição de Cannes, e com um filme dirigido por uma mulher. Uma enfermeira e as demais vidas cruzadas num hospital. Payal Kapadia poderá muito bem entrar nas considerações do júri, nem que sejas pelo título de seu filme. All We Imagine is Light. Tudo o que imaginamos é luz. É uma bela definição do cinema.

Fonte: Terra