Festival do Rio 2018: As Viúvas/ Cesar Augusto Mota

Festival do Rio 2018: As Viúvas/ Cesar Augusto Mota

Imagine um filme complexo, caracterizado como um thriller de ação, com personagens de personalidades fortes e objetivos bem definidos e uma narrativa que faz fortes críticas sociais e que diz muito sobre a cidade que é palco de todas as ações da trama. ‘As Viúvas’ (Widows), novo trabalho do diretor Steve McQueen (12 Anos de Escravidão), traz um longa-metragem sólido e um elenco dotado de grandes astros e que prometem bastante ao longo dos 129 minutos de projeção, dentre eles: Viola Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Colin Farrell, Carrie Coon, Liam Neeson, Daniel Kaluuya, Robert Duvall, Jon Bernthal, entre outros.

Inspirada na obra de Lynda La Plante, a adaptação é levada às telonas por McQueen, que conta a história de três viúvas, Verônica Rawlins (Davis), Linda (Rodriguez) e Alice (Debick) e uma cúmplice, Belle (Cyntia Erivo), que planejam realizar um grande assalto no mesmo local em que seus maridos tentavam roubar e foram mortos em um atentado. Paralelamente, há uma disputa eleitoral na cidade de Chicago ao cargo de vereador, com ambos os candidatos, Jack Mulligan (Colin Farrel) e Jamal (Brian Tyree Henry) tendo alguma ligação com Harry Rawlins (Liam Neeson), marido de Veronica. O grupo de Jamal vai cobrar de Veronica uma dívida que Harry tinha com ele, e, se vendo em um beco sem saída, Veronica terá que se desdobrar com suas companheiras para verem o plano ser bem-sucedido e se livrarem das mais terríveis perseguições que se configuram.

Escrito por Gillian Flynn (Garota Exemplar), o roteiro aborda pontos importantes, como a disputa por poder, dinheiro, avareza e vingança, e alguns desses elementos são atribuídos a Chicago, local em meio a uma onda de criminosos e corrupção, com campanhas políticas que visam mais a apontar quem vai controlar o 18º distrito, já há algum tempo nas mãos da família de Jack Mulligan. Acerca dos dramas pessoais das protagonistas, elas demonstram ter muita sagacidade, ambições diversificadas e muita cumplicidade, apesar da resistência de aderência ao plano proposto por Veronica no início. A líder do grupo, apesar de sua mente um pouco perturbada, consegue envolver todas as suas parceiras e a engajá-las a aderir a seu plano e dar o bote em seus oponentes no momento oportuno.

O ritmo da narrativa é frenético e com pouco espaço para reviravoltas. Há apenas uma, na reta final da história, mas nada que traga prejuízo ao que foi visto pelo espectador, e cada personagem ilustra perfis bem definidos e com intenções nobres por trás, mesmo que as atitudes sejam questionáveis. Os vilões da trama também são convincentes e movimentam a história, sendo todos ameaças reais à vida de Veronica e suas cúmplices, destaque para Jatemme, personagem de Daniel Kaluuya (Corra), braço-direito de Jamal.

Acerca das atuações, sem dúvida o destaque maior vai para Viola Davis, vencedora do Oscar por ‘O Limite entre Nós’ (Fences). Dona de um enorme talento, Davis mostra que está em uma ascendente e fazer papéis mais dramáticos é realmente o seu carro-chefe,  ela sabe transparecer emoção, ser séria no momento que deve ser e derramar lágrimas nas ocasiões mais fortes. No núcleo masculino, Colin Farrel (O Estranho que Nós Amamos) apresenta um personagem com sede de poder e disposto a não largar o osso, e a participação de Robert Duvall (Jack Reacher) é um excelente oponente a Jack Mulligan. Em vez de conselheiro, o pai é o único a querer peitá-lo e fazê-lo desistir de seu propósito, o de continuar a controlar o clã de sua família.

Apesar de um clímax e desfecho frustrantes, ‘As Viúvas’ funciona como thriller de ação, há muitas fortes e críticas bem pesadas à sociedade contemporânea. Quem for assistir certamente vai se surpreender.  É mais um eficiente trabalho de Steve McQueen, com filmes mais diversificados e personagens complexos.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: O Estranho que Nós Amamos/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: O Estranho que Nós Amamos/ Cesar Augusto Mota

As opiniões dos cinéfilos sempre ficam divididas quando é lançado um remake de um  grande sucesso. Alguns aprovam, outros questionam a qualidade do novo título, e o que veremos em breve certamente fará as rodas de debates bombarem. A premiada cineasta Sofia Coppola, de filmes consagrados como ‘Maria Antonieta’, ‘As Virgens Suicidas’ e ‘Encontros e Desencontros’, dirige a nova versão de ‘O Estranho que Nós Amamos’, protagonizado por Clint Eastwood e dirigido por Don Siegel na versão de 1971. Sofia promete dar um novo foco e sob o olhar feminino. Será que ela conseguirá ter êxito em sua abordagem?

A história se passa durante a Guerra Civil americana, no século XIX, entre os anos de 1861 e 1865. John McBurney (Colin Farrel), soldado da União, está gravemente ferido e encontra refúgio em uma escola para moças no sul Confederado, dirigida por Miss Martha (Nicole Kidman). O internato conta com as aulas da professora Edwina (Kirsten Dunst) e possui apenas cinco jovens que restaram por conta da devastação da guerra, e um dos destaques é Alicia (Elle Fanning). A presença do soldado em um local rodeado por mulheres nos faz lembrar de ‘As Virgens Suicidas’, filme no qual várias pessoas presas em um mesmo teto passam a se relacionar e ter um envolvimento emocional com alguém de fora.

Com o passar dos dias, nota-se uma maior aproximação e uma relação ainda mais próxima entre o homem e mulheres das mais diferentes idades e personalidades, e cada uma se sentindo atraída por ele, das mais diversas formas. As paisagens do Sul dos Estados Unidos retratadas no começo da trama passam a dar lugar a um ambiente de delírio, muitas intrigas, desespero e claustrofobia, que farão o espectador ficar impactado e se sentir mais envolvido com a história. Questões como o espírito cristão, a moral e os sentimentos reprimidos são bem trabalhados, e cada uma se acentua em momentos chaves da história.

A fotografia é impressionante, principalmente a retratada no ambiente interno, da escola para moças. No início do filme percebemos tons pasteurizados e suaves, enquanto na casa sentimos um ar mais intimista, com iluminação por velas e um ambiente mais sombrio e pesado. O som e a trilha sonora também se destacam, e contribuem para as mudanças bruscas que ocorrem na narrativa.

O roteiro aborda temas que se fazem ainda mais presentes no cotidiano, como o machismo, o empoderamento feminino e paixões proibidas, mas tudo acontece de maneira muito rápida, não dá tempo de o espectador respirar, pois uma ação já desencadeia outra, além de não trazer muitas surpresas e apresentar um desfecho bem previsível. A duração curta do filme, de pouco mais de uma hora e meia, contribui para tudo isso.

Não poderia esquecer das atuações, todas competentes, mas dou destaque maior para Colin Farrel, que foi a força-motriz da trama, Nicole Kidman, que apresentou uma personagem forte e com o forte desafio de lidar com a perda de um grande amor, miss Marta consegue segurar as pontas e vai ser a chave para os conflitos e a conclusão da história, além de Kirsten Dust, uma moça delicada, mas que foi capaz de amadurecer, porém com a missão de evitar que as jovens internas caiam nas armadilhas feitas pela vida.

Sofia Coppola fez um trabalho elogiável, inclusive o roteiro leva seu nome, ela é capaz de passar importantes mensagens, de que se pode dar importância aos outros, mas antes é necessário se importar consigo mesmo e que existe confiança, mas não de forma plena. O filme ilustrou um grupo forte de mulheres, com suas próprias crenças e regras, além de umas protegendo as outras, mas a questão do empoderamento feminino, como Sofia fez questão de explorar, poderia ter sido de uma forma mais acentuada, uma guerra de sexos, digamos assim, mas a produção é de alto nível e merece ser apreciada. Uma produção eficiente, mas que poderia oferecer e entregar muito mais ao espectador.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota