Maratona Oscar: The Square: A Arte da Discórdia/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: The Square: A Arte da Discórdia/ Cesar Augusto Mota

A arte proporciona ao observador diversas possibilidades. A imagem ou o objeto retratado pode ter mais de um significado, bem como a capacidade de traçar um panorama positivo ou negativo ou até mesmo uma visão crítica da sociedade contemporânea, muitas vezes reticente e intolerante às manifestações artísticas. ‘The Square-A Arte da Discórdia’, do cineasta sueco Ruben Östlund e agraciado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, traz importantes valores ao público como reporta a ele até onde vão ou deveriam ir os limites da liberdade de expressão, cada vez mais questionados e censurados.

O personagem central da trama é Christian (Claes Bang), curador de um imponente museu de arte moderna e que prepara uma nova exposição, The Square, cujo tema central é a confiabilidade no próximo, premissa importante para a conversão do local em um ambiente sagrado e sinônimo de estabilidade e igualdade de direitos. Além disso, Christian quer trazer ao público um evento que tenha ousadia, provoque desafios e venha a ter bastante popularidade, e contará para isso com especialistas em criar vídeos que se tornem ‘virais’ na internet e artistas com performances ‘ousadas’, para não dizer insanas. Mas o curador se verá em meio a uma série de conflitos após ter seus pertences furtados e se envolver co m a polêmica divulgação de um vídeo promocional do museu, ‘um viral’ que se torna um escândalo e que vem a por em risco a credibilidade do local e de seus organizadores.

O roteiro apresenta uma série de fragmentos e traz diversos panoramas, como a capacidade do público em interpretar os valores transmitidos pelas obras, a definição de arte contemporânea, seus limites, bem como a fragilidade e falência das relações humanas. Na medida em que o filme vai se desenrolando o espectador passa a ter uma série de questionamentos em mente e reflete sobre a importância de se existir um diálogo entre a arte e o público, o museu e o frequentador, além de procurar saber o que é ético e moral em uma manifestação que preza ou deveria prezar pela cultura e busca do conhecimento. São ótimos exercícios que o público faz durante os 139 minutos de duração do longa, mas que poderiam ocorrer em um ritmo e tempo menores e sem tanta exaustão, além de algumas cenas que poderiam ser excluídas, tendo em vista o ridículo que é retratado em algumas ocasiões e o constrangimento causado com certas sequências bizarras. Algumas sequências são prejudicadas e divagações presentes no enredo poderiam ter sido evitadas.

A fotografia é substancial, não só se preocupa em retratar a beleza dos objetos expostos e o significado deles, mas em despertar a curiosidade e aflorar os sentimentos do público, que ficam cada vez mais exaltados e evidentes em uma cena que ilustra um jantar entre ricos doadores do museu que são surpreendidos como uma exposição de um artista corporal que vai até a últimas consequências. A proposta de mostrar a intolerância e de criticar o posicionamento da sociedade europeia para com as manifestações artísticas é atingida de forma satisfatória, além de mostrar que o desequilíbrio pode existir dos dois lados, do público que pode não ser aberto ao que é exposto, como os expositores, com performances extravagantes e que firam a moral e a dignidade humanas.

Pulsante, didático e ousado, ‘The Square’ nos mostra que não basta apenas ilustrar o que é importante ser visto, como também deve existir uma estabilidade entre artistas e público. A arte não é só aquela que seduz e provoca repulsa, mas capaz de tocar no consciente e frisar o papel que cada um tem no seio social, e isso o longa de Ruben Östlund alcança com louvor e leva todos os méritos. A obra vem forte para a temporada de premiações e séria candidata a várias estatuetas, não é apenas um filme que reflete os ideais europeus, ele também se encaixa na atual realidade brasileira, envolta a escândalos, corrupção e intolerância. Um filme que se encaixa como uma luva no momento atual em que vivemos e que será por muito tempo posto em discussão.

Avaliação: 4,5/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota