Poltrona Cabine: Colo/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Colo/ Cesar Augusto Mota

A família é vista como sinônimo de amor, fortaleza, apoio e de refúgio nas situações mais adversas da vida. Mas não é o que acontece com o núcleo familiar de ‘Colo’, filme da cineasta portuguesa Teresa Villaverde, que promete incomodar e mexer com os brios dos espectadores, além de mostrar o atual cenário de crise econômica de Portugal, fator capaz de afetar financeira e psicologicamente milhões de pessoas.

Nos deparamos durante os 136 minutos de projeção com um pai (João Pedro Vaz) desempregado e que se mostra envergonhado por ficar boa parte do tempo no ócio, uma mãe (Beatriz Batarda) sobrecarregada por jornadas em dois empregos e a jovem Marta (Alice Albergaria Borges), a filha negligenciada por ambos e que não pretende permanecer por muito tempo no mesmo teto. O que se pode perceber no filme é que raramente os três dividem a mesma cena, um sempre pergunta pelo outro, que sai de casa sem avisar e sem hora para voltar. E quando o retorno acontece, foi devido a uma frustração e por cada um não ter encontrado alívio ou uma melhor opção na rua para o preenchimento do vazio que os preenchia e atormentava. Um ambiente triste, melancólico e desolador.

O cenário de melancolia, vergonha e abandono é muito bem retratado, com metáforas sugestivas e com boas tomadas dos espaços vazios dos cômodos do apartamento. As expressões faciais dos intérpretes são paralisantes, sem desespero, mas a ponto de instigar quem acompanha a história e causar desconforto, tamanha é a falta de cumplicidade e união. A moradia, que depois vai ser esvaziada durante a história, é palco da maior parte das interações, e torna-se um personagem da trama, senão o principal, um retrato da crise econômica e familiar, e que se torna local preenchido por resignação e culpa.

A fotografia, a cargo de Acácio de Almeida, apresenta um céu nublado e coloração cinzenta em boa parte das cenas, reforçando o clima embaraçoso predominante desde o início da história, além de provocar consternação e tristeza nos espectadores. A falta de dinheiro não só devasta a dignidade dos personagens, como também provoca situações vexatórias e afeta diretamente o seio familiar, o amor não é suficiente para que a relação sobreviva.

Um filme que aborda sistematicamente e com delicadeza os sintomas provocados não só por uma instabilidade econômica, como também por uma crise de identidade familiar. Não há espaço para exageros ou constrangimentos, é uma obra lírica regada de momentos instáveis e depressivos, mas compensados por uma bela construção estética e atuações pulsantes. Um convite para a reflexão.

Avaliação: 4,5/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota