Maratona Oscar: Corra!/Flávia Barbieri

Maratona Oscar: Corra!/Flávia Barbieri

CORRA! (Título Original: Get Out)

Por Flávia Barbieri

 

Corra! É exultante como sátira, e angustiante como terror!

 

 

Primeiro, preciso dizer que quando comecei a assistir Corra! não imaginava que seria um filme para Oscar. O filme não estava nas rodinhas mais comentadas, não tinha atores muito conhecidos ou daqueles que nos fazem crer que o filme será de alguma forma indicado.

Ledo engano. O filme é um mergulho no suspense, no drama, na ansiedade e no medo. E passeia entre o bizarro e o cômico, com uma facilidade que assusta.

Eu não sei se chegaria a interpretá-lo como uma sátira, no entanto, é o que ele realmente é. Aliás, vai além de uma sátira, é uma imersão questionadora sobre o liberalismo branco. Sim, o filme é sobre racismo. Entretanto, desenvolvido de forma tão peculiar e delicada, que apenas no final nos damos conta disso. É uma verdadeiro lembrete sobre racismo e a escravidão. Um soco no estômago entremeado de sustos e cenas bem planejadas.

Inicialmente, você não consegue entender exatamente o que está acontecendo. Há um misto de tensão, de inocência, algo que pode passar facilmente por um enredo familiar intricado e tenso.

O desenvolvimento do filme é quase lento até o ápice, e então, a história é revelada de forma mais elaborada. A cena do afogamento é uma obra-prima do terror, você consegue sentir a falta de ar, o gelado da água, o mergulho profundo no pânico absoluto de uma pessoa que se afoga, paralisada e inerte diante do desconhecido. É uma metáfora aterrorizante.

Corra! é a primeira obra escrita e dirigida por Jordan Peele, que ficou conhecido nos Estados Unidos pelo programa de esquetes cômicos Key & Peele. Ele nunca escondeu seu enorme desejo de dirigir uma obra dedicada ao terror.

A sinopse é simples. Uma mulher branca leva seu namorado negro para um final de semana na casa dos pais. O que poderia ser interpretado como uma comédia simples, ou um filme romântico que cai no lugar comum, vai se tornando intrinsecamente, um enredo assustador e envolvente.

A atuação de Daniel Kaluuya (que interpreta o namorado negro Chris Washington), conhecido por filmes como “Sicario: Terra de Ninguém” e pelo seriado “Babylon”, impressiona pela autenticidade. Você não consegue ver o ator por trás do personagem. Ele se transforma no mocinho pelo qual torcemos que fuja o mais rápido possível daquele lugar intimidante e imprevisível.

Por sua vez, Catherine Keener, como a mãe da namorada, conseguiu encontrar o equilíbrio irreprovável entre o afetuoso e o sinistro, de forma tão profunda, que você não sabe realmente o que sentir por ela.

As atuações impecáveis de Lakeith Stanfield (Andre Logan King) e Betty Gabriel (Georgina) trazem uma autenticidade irreparável para a trama.

É, sem dúvida, uma obra-prima que levanta questionamentos sobre preconceito, através de ironia, momentos de tensão e suspense, de uma forma extraordinária e única, que nenhum filme foi capaz de consubstanciar tão perfeitamente até hoje.

O filme concorre, merecidamente, em 4 (quatro) categorias – Melhor Filme, Melhor Ator (Daniel Kaluuya), Melhor Diretor (Jordan Peele) e Melhor Roteiro Original (Jordan Peele).

Mesmo tendo um veia cômica trabalhada ao longo de sua carreira, Jordan Peele surpreende; e se torna um diretor promitente, com habilidade nata e lucidez no gênero terror.

 

FICHA TÉCNICA

CORRA!

(GET OUT)

ESTADOS UNIDOS , 2017 , 104 MIN

 

Gênero: Terror

Estréia: 18/05/2017

Direção: Jordan Peele

Elenco: Allison Williams, Ashley LeConte Campbell, Betty Gabriel, Bradley Whitford, Caleb Landry Jones, Caren L. Larkey, Catherine Keener, Daniel Kaluuya, Erika Alexander, Geraldine Singer, Ian Casselberry, Jeronimo Spinx, John Wilmot, Julie Ann Doan, Lakeith Stanfield, LilRel Howery, Marcus Henderson, Richard Herd, Rutherford Cravens, Stephen Root, Yasuhiko Oyama

 

 

 

Poltrona Estreia/ Estreias da Semana

Poltrona Estreia/ Estreias da Semana

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A Grande Jogada: Suspense de Aaron Sorkin.

Sinopse: Após perder a chance de participar dos Jogos Olímpicos, a esquiadora Molly Bloom decide tirar um ano de folga dos estudos e ir trabalhar como garçonete em Los Angeles. Através de circunstâncias curiosas, ela acaba se tornando milionária e famosa por organizar os mais exclusivos jogos de pôquer da região.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2018/02/19/maratona-oscar-a-grande-jogada-cesar-augusto-mota/

 

2917_capa.jpgTrama Fantasma: Drama de Paul Thomas Anderson.

Sinopse: Década de 1950. Reynolds Woodcock é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril, para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma, que vira sua musa e amante.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2018/02/21/maratona-oscar-trama-fantasma-juliana-goes/

 

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Pequena Grande Vida: Drama de Alexander Payne.

Sinopse: Na cidade de Omaha, as pessoas descobrem a possibilidade de reduzir de tamanho para uma versão minúscula, a fim de terem menos gastos vivendo em pequenas comunidades que se espalham pelo mundo. Um homem aceita passar por esse processo.

Por: Vitor Arouca

Maratona Oscar: O Touro Ferdinando/Thiago Simão

Maratona Oscar: O Touro Ferdinando/Thiago Simão

Olá Poltroneiros,

No dia 11 de janeiro de 2018, chegou em nossas terras a animação de 100 milhões de dólares O Touro Ferdinando, ou somente Ferdinand. Que tem como Diretor o já conhecido em nossas terras o querido Carlos Saldanha, dos sucessos a Era do Gelo e Rio.

Sinopse

Ferdinando é um touro com um temperamento calmo e tranquilo, que prefere sentar-se embaixo de uma árvore e relaxar ao invés de correr por aí bufando e batendo cabeça com os outros. A medida que vai crescendo, ele se torna forte e grande, mas com o mesmo pensamento. Quando cinco homens vão até sua fazenda para escolher o melhor animal para touradas em Madri, Ferdinando é selecionado acidentalmente.

Análise

Que filme gostoso!

Acredito que essa é a melhor definição.

Nosso tourinho já estreia sendo lembrado nos principais prêmios do cinema deste ano. Contou com indicações para o Globo de Ouro e o Bafta. Não podendo esquecer que eles está na pré lista de indicados para o Oscar 2018.

Ele é baseado num livro antigo chamado de Ferdinando, o Touro (1936). Que chegou a ter uma animação simples (Vídeo no final do Post).

Com uma crítica social muito forte sobre esteriótipos, temos uma imersão sobre como podemos ser aquilo que queremos dentro do mundo que tenta criar padrões para nós.

Além de ser discutido, com ampla atenção, as touradas e as maldades que são feitas com os animais.

O roteiro é bem redondo e temos uma animação incrível. Os personagens são bem encaixados e nos é mostrado o perfil de cada um.

Esse mix nos garante diversão e uma pitada grande de drama.

A família pode assistir em peso e tem que levar lencinho?

R: Sim para os dois.

P.S – Está concorrendo como melhor animação no Oscar 2018, mas não conseguirá lograr desta vez.

 

Estreias da Semana/ Poltrona Estreia

Estreias da Semana/ Poltrona Estreia

i-tonya.jpgEu, Tonya: Drama de Craig Gillespie. 3 indicações ao Oscar. Melhor Atriz (Margot Robbie), Melhor Atriz Coadjuvante (Allison Janney) e Melhor Montagem.

Sinopse: Cinebiografia da ex-patinadora no gelo Tonya Harding. Durante a década de 1990, ela conseguiu superar sua infância pobre e emergir como campeã do Campeonato de Patinação no gelo do Reino Unido e segunda colocada no campeonato mundial. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois ladrões tentaram incapacitar uma de suas concorrentes quebrando a perna dela durante as Olimpíadas de 1994.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2018/02/05/maratona-oscar-eu-tonya-cesar-augusto-mota/

https://www.youtube.com/watch?v=US_P75dgJ_w

 

2889_capaTrês Anúncios Para um Crime: Drama e Comédia de Martin McDonagh. 7 indicações ao Oscar. Melhor Filme, Melhor Atriz (Frances McDormand), Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell e Woody Harreelson), Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem.

Sinopse: Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby, responsável pela investigação.

 

0839624Lady Bird – A Hora de Voar: Drama de Greta Gerwig. 5 indicações ao Oscar. Melhor Filme, Melhor Atriz (Saoirse Ronan), Melhor Atriz Coadjuvante (Laurie Metcalf), Melhor Diretor (Greta Gerwing) e Melhor Roteiro Original.

Sinopse: Christine McPherson está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por sua mãe. Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2018/02/06/maratona-oscar-lady-bird-a-hora-de-voar-cesar-augusto-mota/

 

2912_capa.jpgMudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi: Drama de Dee Rees. 3 indiações ao Oscar. Melhor Atriz Coadjubvante (Mary Blige), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia.

Sinopse: A tímida Laura acredita ter tirado a sorte grande quando encontra Henry McAllan, um homem um pouco bruto, mas interessado nela. Logo após o casamento, a família se muda para uma fazenda no chuvoso delta do Rio Mississipi. Enquanto Laura enfrenta dificuldades para se adaptar à vida rural, ela é confrontada com uma família negra, os Jackson, responsáveis por ajudar no trabalho pesado com o plantio e a colheita. Duas posições muito distintas se desenham na família: enquanto o pai idoso de Henry, Poppy McAllan, luta para manter os privilégios dos brancos no terreno, o irmão de Henry, Jamie McAllan, desenvolve uma boa amizade com o filho dos caseiros, Ronsell Jackson, pelo fato de ambos compartilharem traumas da guerra. Um violento conflito de etnias, gêneros e classes sociais marca a convivência entre os McAllan e os Jackson.

https://www.youtube.com/watch?v=xucHiOAa8Rs

 

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Pantera Negra: Ação de Ryan Coogler.

Sinopse: Filme da Marvel sobre T´Challa, príncipe do reino de Wakanda, que perde o seu pai e viaja para os Estados Unidos, onde tem contato com os Vingadores. Entre as suas habilidades estão a velocidade, inteligência e os sentidos apurados.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2018/02/12/poltrona-cabine-pantera-negra-cesar-augusto-mota/

Por: Vitor Arouca

Maratona Oscar: Uma Mulher Fantástica/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Uma Mulher Fantástica/ Cesar Augusto Mota

Como tratar de uma maneira terna uma questão que ainda é um tabu na sociedade e bastante carregada de preconceito, a transexualidade? O diretor Sebastián Lelio, nesta grande produção chilena, utiliza recursos precisos e essenciais para ilustrar o que o ser humano tem de melhor e pior.

A história acompanha Marina Vidal (Daniela Vega), uma garçonete e cantora lírica que perde o namorado Orlando (Francisco Reyes) devido a um mal súbito. Após a tragédia, uma série de situações tristes e desagradáveis se desembocam. Recai sobre Marina uma suspeita de envolvimento na morte de Orlando, além de ser negado a ela o direito de se despedir do amado. Já dá para sentir as agruras pelas quais a protagonista irá passar, sem esquecer da discriminação por conta da orientação sexual dela e de como ela lida com tudo isso.

A abordagem das agressões físicas e psicológicas sofridas por Marina são muito bem contornadas, há situações que trazem um certo alívio e impedem que a trama seja sinônimo de calvário para ela: o apoio dado pelos amigos no ambiente de trabalho e fora dele, além das aulas de canto e a relação de amizade e afeto com o professor, que a enxerga como um grande talento e uma mulher forte e de personalidade.

Na medida em que as situações vão se apresentando e as mudanças na vida de Marina vão se configurando, você enxerga tudo sob a perspectiva da protagonista, além de conseguir ter uma empatia por ela e sentir na pele todas as agressões sofridas.  O roteiro consegue apresentar situações que vão ficando mais complexas por conta da falta de aceitação social à identidade de gênero de Marina, e tudo isso interfere negativamente na vida dela, sendo complicado para ela levar sua vida adiante, seja do lado profissional, como pessoal.

A atuação de Daniela Veja é, sem dúvida, o ponto alto do filme. A atriz passa autenticidade com sua personagem, além da sensibilidade evidenciada na luta por respeito e para fazer valer seus direitos como cidadã demonstrada durante a história. Uma importante mensagem fica implícita, além de um teor de denúncia presente, de comportamentos retrógrados e abomináveis que devem sem combatidos.

O uso de recursos como a câmera fechada no rosto da protagonista em boa parte do filme e do uso de efeitos especiais para construir uma metáfora e simbolizar que Marina é forte e inabalável não só enriquecem como também valorizam ainda mais a temática da produção, algo que não é tão explorado no cinema e que aos poucos vai ganhando mais espaço nas telas e mais debatido entre os amantes da sétima arte. Tudo ocorre de forma espontânea e sem forçar a barra, o que valoriza ainda mais o trabalho do diretor Sebastián Lelio.

Apesar do preconceito ainda enraizado numa sociedade intolerante e opressora, os transgêneros estão a cada dia ganhando mais espaço e enfrentando as adversidades de forma mais forte e digna. Um filme que merece todo o respeito e atenção de todos, vale a pena.

Avaliação: 4,5/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota