
Você já se imaginou em vários lugares ao mesmo tempo e várias versões suas nesses espaços e em situações insanas? Já parou para pensar que poderia ter feito algo diferente e consequentemente ter vivenciado uma situação distinta por conta de uma escolha? Pois justamente tudo isso é trazido no filme ‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo’ (Everything Everywhere All at Once), de Dan Kwan e Daniel Scheinert, reforçado por um elenco forte e atuações memoráveis, com destaque para Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão) e Jamie Lee Curtis (Halloween), numa trama que promete prender o público do começo ao fim.
Acompanhamos Evelyn Wang (Yeoh), uma mulher chino-americana que luta diariamente para manter sua família e seu casamento sólidos, mas encontra sérias dificuldades, com um marido infeliz, um pai idoso e com saúde delicada e uma filha rebelde disposta a desistir de tudo e trilhar seu próprio caminho. A ponto de explodir em meio a uma realidade caótica de sua vida, Evelyn descobre que pode acessar diversos multiversos, explorar seus vários “eus” e, consequentemente, salvar o multiverso de um iminente apocalipse.
Na medida em que você acompanha a história, começa a lembrar de alguns filmes como ‘Kill Bill’, ‘Clube da Luta e ‘O Tigre e o Dragão’, e vários elementos dos três filmes são utilizados de forma inovadora e criativa para ilustrar os universos nos quais Evelyn adentra e procura formas de lutar contra seus medos e inimigos. Se as formas de lutar da protagonista são estranhas em uma primeira impressão, o espectador depois passa a aceitá-las posteriormente, tudo graças a boas doses de drama, comédia e terror, com mutilações e sangue, no estilo Tarantino. E ótimos exercícios de metalinguagem, como Spielberg fez em ‘Jogador Número Um’, com cenas relembrando sequências memoráveis do cinema.
O roteiro aborda temas importantes, como o conflito de gerações, a capacidade de tomar decisões em momentos críticos e a maturidade (ou falta dela) para lidar com os problemas do cotidiano. Tudo é feito de forma concisa e com atuação primorosa de Michelle Yeoh. A atriz, acostumada a papéis dramáticos, se mostra muito à vontade na pele de uma personagem próxima a um ataque de nervos e com a necessidade de decidir rápido o que fazer para mudar detalhes nos universos nos quais se insere e mudar sua trajetória de vida. Segura no drama e com ótima expressão corporal nos momentos cômicos e cenas de ação, Yeoh vem forte para a temporada de premiações e com chances reais de levar para casa o Oscar de melhor atriz. E já foi agraciada com o Globo de Ouro, o que a credencia ainda mais.
A direção de arte e os figurinos são primorosos, eles valorizam as artes milenares e cultura chinesa, e de quebra somos brindados com uma alucinante e vibrante trilha sonora, ingredientes que valorizam uma produção e que podem render prêmios técnicos em premiações diversas. E sem esquecer das atuações, o elenco consegue mexer com os sentimentos dos espectadores e cada um se destaca do seu jeito, não existem peças deixadas de lado no tabuleiro. O público passa por uma ótima experiência de entretenimento e exercício de reflexão de forma realista e muito original. A produção é uma das grandes favoritas no Oscar 2023, com 11 indicações e destaque para as categorias de melhor filme, diretor e atriz.
‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo’ tem tudo para surpreender e ficar na mente do público por muito tempo, tendo em vista que retrata um tema que está em voga nos tempos atuais, o multiverso, além de dialogar com públicos de diversas idades. Tudo é trazido para o mesmo espaço, ao mesmo tempo.
Cotação: 4,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota



