As cinebiografias ainda continuam em alta entre os cinéfilos, e a bola da vez é um ícone do início do século XX, que teve que superar os percalços e lutar contra a sociedade da época para mostrar que a mulher tem valor no círculo social e nas artes. Trata-se de Maria de Lourdes Castro Pontes, conhecida como Daisy. Ou melhor, Miss Cyclone. Dirigida por Flávia Castro, “Cyclone” vem não só para relembrar uma figura marcante, como também para ilustrar como a mulher até os dias de hoje ainda é muito negligenciada, principalmente no tocante ao seu corpo.
Na trama, Daise (Luiza Mariani), uma operária que divide o tempo entre o trabalho em uma gráfica e sua paixão pela dramaturgia, ganha uma bolsa de estudos em teatro para Paris, porém tem de enfrentar seu maio desafio: conseguir se afirmar em uma sociedade que nega às mulheres o direito de sonhar e de serem donas do próprio corpo.
De início, a protagonista se sente uma pessoa aprisionada e chega até a duvidar de si mesma sobre ser uma boa escritora. Com a ajuda de pessoas que conheceu no teatro e sua força interior, Daise consegue aos poucos remover as pedras de seu caminho para se fazer percebida no meio artístico. O plano de fundo fechado e a câmera de frente mostra muito bem a personagem- central com seu grande ímpeto em superar burocracias e driblar o machismo predominante nos anos 10, período Modernista.
O nome Cyclone é bem sugestivo e faz jus a Daise, pois ela enfrentou diversos ciclones e tempestades da vida sem baixar a cabeça, e essa vontade foi a mola propulsora da obra. Além da performance de Luiza Mariani, que entrega tudo o que se espera, o trabalho da cineasta Flávia Castro é outro diferencial, como uma linguagem provocativa, um plano visual com imagens granuladas para ilustrar as dificuldades e limitações das produções da época e o destaque para a linguagem corporal de Daise durante a narrativa, que diz muito sobre a artista e o que ela queria transmitir.
O dito popular “A primeira impressão é a que fica” pode ter sido aplicado a outras cinebiografias, o que não é o caso dessa, visto que Daise em sua última cena ilustra o quão vencedora foi e que é possível chegar aonde quiser com o dom que tem. Um filme impactante, convidativo e necessário para a sociedade atual.
Distribuidora sediada em Florianópolis anunciou sete títulos que chegam aos cinemas brasileiros até junho
Léa Drucker estrela o drama policial “Caso 137” (“Dossier 137”) – crédito: Autoral Filmes
Fundada no início do ano, a Autoral Filmes coleciona sucessos nos cinemas brasileiros com títulos do circuito art-house como “Uma Mulher Diferente”, “A Prisioneira de Bordeaux” e “Picasso – Um Rebelde em Paris”. Seu filme mais recente, “Maldito Modigliani” chega às telas de todo o Brasil no dia 13 de novembro. A distribuidora sediada em Florianópolis (SC) acaba de anunciar sua line-up de títulos para os próximos meses e reúne sete lançamentos até junho de 2026.
Estão previstas produções aclamadas pela crítica e exibidas em alguns dos mais importantes festivais do mundo. A seleção começa com “Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras”, de Michele Mally (dezembro), “Eu, Que Te Amei”, de Diane Kurys (janeiro), “Living The Land”, de Huo Meng (fevereiro), “Mother’s Baby”, de Johanna Moder (março), “Caso 137”, de Dominik Moll, “Na Terra de Arto”, de Tamara Stepanyan (abril), e “ARI”, de Léonor Serraille (junho).
O documentário italiano “Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras” (“Munch: Love, Ghosts and Lady Vampires”), de Michele Mally (de “Klimt & Schiele – Eros e Psique”), lança uma nova luz sobre o artista norueguês Edvard Munch (1863-1944). Com previsão de lançamento para o dia 11 de dezembro de 2025, o longa parte em busca das raízes e da identidade do pintor e nos convida a refletir sobre o tema central da obra do artista: sua ideia de tempo. O filme também encerra o Circuito Arte no Cinema, iniciado com “Andy Warhol – Um Sonho Americano” em junho deste ano.
O segundo filme é o drama francês “Eu, Que Te Amei” (“Moi qui t’aimais”), de Diane Kurys. Retrata a turbulenta relação entre os atores Yves Montand e Simone Signoret, marcada por amores, traições e uma parceria que resistiu ao tempo e às adversidades. Diante das câmeras da diretora de “Por uma Mulher”, Roschdy Zem (“Os Filhos dos Outros”) e Marina Foïs (“As Bestas”) personificam essas duas lendas do cinema. O filme chega às salas de exibição no dia 1º de janeiro de 2026.
Vencedor do Urso de Prata de melhor direção em Berlim 2025, “Living The Land” (“Sheng Xi Zhi Di”), de Huo Meng, aborda a tensão entre a tradição e a modernidade. A trama se passa no começo dos anos 1990, quando a China está num momento de profundas transformações. O filme acompanha o pequeno Chuang, de dez anos, que permanece em sua aldeia, enquanto outros membros da família migram para um centro urbano. O longa estreia no dia 5 de fevereiro.
Também exibido em competição no Festival de Berlim, o suspense “Mother’s Baby”, de Johanna Moder, chega aos cinemas no dia 5 de março. O filme acompanha Julia (Marie Leuenberger), uma mulher de 40 anos, cujo sonho de ter sua própria família se transforma em um pesadelo, enquanto ela luta para criar um vínculo com seu filho recém-nascido. Produção entre Áustria, Suíça e Alemanha, também participou do prestigiado Sitges Film Festival, evento espanhol dedicado ao cinema de gênero.
Com lançamento previsto para 2 de abril, “Caso 137” (“Dossier 137”), de Dominik Moll, é um drama policial francês, coescrito e dirigido por Dominik Moll (“A Noite do Dia 12”) e traz Léa Drucker (“Culpa e Desejo”) no papel principal. O filme teve sua estreia mundial na competição principal do último Festival de Cannes. A trama acompanha uma investigação a cargo de uma investigadora do departamento de assuntos internos da polícia nacional francesa. O caso envolve um incidente com um jovem rapaz severamente machucado durante um protesto em Paris que, inesperadamente, toma um rumo muito pessoal para a protagonista.
“Na Terra de Arto” (“Le Pays D’arto”) é um drama franco-armênio coescrito e dirigido por Tamara Stepanyan (“Meus Fantasmas Armênios”), em sua estreia na ficção. O filme, estrelado por Camille Cottin (“House of Gucci”) e Zar Amir Ebrahimi (“Holy Spider”), acompanha Céline, que chega à Armênia para legalizar a morte de seu marido, Arto, mas descobre que ele mentiu sobre sua identidade. O título teve sua estreia mundial como filme de abertura do 78º Festival de Cinema de Locarno. O longa estreia no dia 30 de abril.
“Ari”, escrito e dirigido por Léonor Serraille (“Jovem Mulher”, ganhador do Camera D’or, em 2017), acompanha um jovem professor, vivido por Andranic Manet de “Apenas Alguns Dias”, que é expulso de casa após um colapso nervoso. Em sua jornada, ele encontra em antigos amigos de infância o apoio para atravessar esse delicado momento. A produção foi selecionada na Competição do 75º Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde concorreu ao Urso de Ouro.
A Autoral Filmes, fundada no início de 2025, teve sua origem através dos sócios do Paradigma Cine Arte, Felipe Didoné e sua mãe, Marize Didoné, que desde 2010 mantém a sala de cinema que é uma instituição cultural em Florianópolis (SC).
A Distribuidora vem do desejo dos sócios de ampliar as atividades no mercado do cinema, replicando na distribuição o mesmo conceito de filmes independentes e de arte que formam seu conceito na exibição.
Como seu nome deixa claro, a Autoral Filmes terá seu foco no cinema de autor e em documentários de arte, focando em produções escolhidas a dedo, tanto nacionais como estrangeiras, prezando sempre a alta qualidade dos filmes.
Para Felipe Didoné, diretor da distribuidora, “a Autoral Filmes é a realização de um sonho, de expandir os horizontes para além da distribuição, mantendo a curadoria elegante que sempre foi o diferencial do Paradigma Cine Arte”.
Museu Imperial inaugura exposição que apresenta objetos inéditos e revisita a trajetória de Dom Pedro II a partir dos detalhes da memória
O Museu Imperial e a SAMI – Sociedade de Amigos do Museu Imperial abrem ao público, a partir de 3 de dezembro, a exposição “Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória”
Com inauguração oficial no dia 2 de dezembro de 2025, em cerimônia restrita a convidados, a mostra integra o calendário de comemorações pelos 200 anos de nascimento de Dom Pedro de Alcântara, posteriormente Dom Pedro II, e reúne objetos e documentos inéditos para reconstituir a trajetória do imperador a partir das múltiplas camadas da memória.
A exposição apresenta momentos da vida Dom Pedro de Alcântara, da infância à morte, incluindo a construção de sua imagem nos “lugares de memória” contextualizados na cidade de Petrópolis, em diálogo com debates sobre a (re)construção da memória em seus variados aspectos. Reúne mais de 100 peças pertencentes ao acervo do Museu Imperial, selecionadas nas áreas de guarda do Arquivo Histórico, Biblioteca, Museologia e Casa Geyer. Entre os destaques estão exemplares de diários e documentos relativos às viagens de Dom Pedro II pelo Brasil e pelo mundo — reconhecidos pela Unesco como patrimônio documental da humanidade, incluindo as cadernetas restauradas neste ano e apresentadas pela primeira vez ao público. Além das cadernetas, peças restauradas integram o conjunto exposto: a camisola de bebê em cambraia de linho que pertenceu a Dom Pedro II e o quadro Cascata do Itamarati, de Edoardo De Martino.
A exibição também reúne outros destaques: desenhos produzidos pelo monarca em diferentes fases da vida, estudos de tradução, volumes de sua biblioteca particular e cartas trocadas com seu pai.
“Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória” tem projeto curatorial assinado pela historiadora e especialista em Dom Pedro II, Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, com curadoria conjunta de Flávia Maria Franchini Ribeiro, coordenadora do Setor de Educação do Museu Imperial. A produção é realizada por Claudio Partes na criação e cenografia/expografia e Josiana Oliveiras e Silvana Coelho na produção executiva.
O conteúdo completo, incluindo a palavra das curadoras, do diretor, as imagens e a ficha técnica, está disponível no site do Museu Imperial.
Exposição: Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória Abertura ao público: a partir de 3 de dezembro Local: Sala de Exposições Temporárias – Palácio Imperial Visitação: de terça a domingo, das 10h às 18h Agendamento para grupos escolares: (24) 98142-0030 | (61) 3521-4455 (segunda a sexta, das 8h às 18h)
Festival do Rio anuncia vencedores do Prêmio do Público nas mostras Expectativas e Première Latina em parceria com TV Globo e Telecine
O Festival do Rio 2025 anunciou os dois filmes internacionais vencedores do Prêmio do Público. O longa Um Dia de Sorte em Nova York (Lucky Lu), de Lloyd Lee Choi (Canadá, Estados Unidos), foi o grande vencedor do Prêmio do Público Expectativas e será adquirido pela TV Globo para exibição na TV Aberta. Já o argentino As Correntes (Las Corrientes), de Milagros Mumenthaler (Argentina, Suíça), foi o escolhido para o Prêmio do Público Première Latina e será adquirido pelo Telecine para exibição na TV Paga e no streaming do canal.
A premiação de filmes de mostras internacionais pelo voto popular teve a parceria inédita com a TV Globo, em mais um movimento do Festival do Rio para fortalecer o alcance e o interesse do cinema internacional independente no Brasil, e com o Telecine, parceiro e patrocinador do Festival do Rio e um dos principais serviços de filmes do país.
Um Dia de Sorte em Nova York (Lucky Lu) retrata a vida de um imigrante chinês em Nova York que trabalha como entregador por aplicativo. Ao ter sua bicicleta roubada, ele vai enfrentar a impossibilidade de continuar com seu trabalho e as consequência de um sistema social precário. Um espelho da realidade contemporânea dos imigrantes e do mundo do trabalho, o filme será distribuído nos cinemas pela Synapse Distribution.
As Correntes (Las Corrientes) aborda as consequências de um trauma pessoal na relação de uma mulher com seu casamento e sua filha pequena. Na fronteira entre a realidade e o imaginário, o filme discute o impacto dos eventos passados no presente e será distribuído nos cinemas pela Filmes do Estação.
Sobre o Festival do Rio
O Festival do Rio é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do Rio. Tem patrocínio master da Shell através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio especial da Prefeitura do Rio – por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura. Realização: Cinema do Rio e Ministério da Cultura / Governo Federal
‘Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras’ chega aos cinemas no dia 11 de dezembro
Com distribuição da Autoral Filmes, filme convida a refletir sobre a obra multifacetada do pintor norueguês, autor do quadro ‘O Grito’
“Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras” – crédito: Autoral Filmes
A sociedade moderna tem uma enorme dívida com o pintor Edvard Munch: de Andy Warhol a Ingmar Bergman, de Marina Abramovic a Jasper Johns. Suas pinturas se tornaram símbolos, mas também um sinal das tragédias do século XX.
O documentário italiano “Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras” (“Munch: Love, Ghosts and Lady Vampires”), de Michele Mally (de “Klimt & Schiele – Eros e Psique”), lança uma nova luz sobre o artista norueguês Edvard Munch (1863-1944). Com previsão de lançamento para o dia 11 de dezembro de 2025, o longa parte em busca das raízes e da identidade do pintor e nos convida a refletir sobre o tema central da obra do artista: sua ideia de “tempo”. O filme tem distribuição da Autoral Filmes.
Nenhum artista no mundo é ao mesmo tempo tão famoso e tão desconhecido quanto Edvard Munch. Se o seu “O Grito” se tornou um ícone de nossa época, o restante de sua obra não alcançou a mesma notoriedade. Agora, porém, a capital norueguesa Oslo marca um ponto de virada no conhecimento sobre o artista: o museu MUNCH, inaugurado em outubro de 2021, é um espetacular arranha-céu projetado para abrigar o imenso legado que o artista deixou à sua cidade: 28 mil obras de arte, incluindo pinturas, gravuras, desenhos, cadernos, esboços, fotografias e seus experimentos com cinema.
O documentário “Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras” busca lançar uma nova luz sobre Edvard Munch — um homem profundamente misterioso e fascinante, um precursor e mestre para todos que vieram depois dele. Munch escreveu: “Não pinto o que vejo, mas o que vi.” E, de fato, ele repetia seus temas, pintando e repintando as mesmas imagens e guardando-as em seu ateliê, lançando as bases para a produção dos múltiplos.
Seu conceito pessoal de “tempo” se reflete em um equilíbrio delicado e original entre passado e presente — uma ferramenta para viver a própria existência, uma ponte entre as dimensões do universo, permitindo o contato com o mundo dos fantasmas e espíritos.
“Munch” começa na casa de Edvard Munch em Åsgårdstrand. Numa noite de inverno, diante da lareira, uma jovem — a atriz Ingrid Bolsø Berdal (“A Espiã”), que nos guia nessa jornada — lê para as crianças um conto popular norueguês. É o mundo do Grande Norte, onde os ventos falam, ursos carregam meninas em suas costas e trolls lançam feitiços. As crianças escutam encantadas, enquanto a neve cai e uma música distante aquece o coração.
A produção reúne depoimentos de artistas, curadores e historiadores da arte, como Jon-Ove Steihaug (chefe de exposições e coleções do MUNCH em Oslo), Giulia Bartrum (curadora do British Museum por décadas) e Frode Sandvik (curador do Kode, em Bergen), que analisam os temas, as obsessões, mas também as habilidades técnicas e os diversos meios que o artista utilizou.
A pesquisa de Munch sobre a alma humana, sua tentativa de traduzir emoções em tela ou papel, foi acompanhada por técnicas experimentais — o que torna suas obras, como explica a restauradora Linn Solheim, extremamente frágeis hoje.
Na tela, visitamos os lugares queridos por Munch: as florestas e praias de Åsgårdstrand; Vågå, com as montanhas de seus ancestrais paternos; a casa de pescadores em Warnemünde, na Alemanha; e a propriedade de Ekely, perto de Oslo, onde viveu os últimos trinta anos, sozinho com seu cavalo Rousseau e seus cães, ocasionalmente visitado por jovens modelos. Lá, voltava repetidamente aos mesmos temas, numa espécie de repetição compulsiva.
Nos autorretratos da velhice de Munch, seus olhos refletem a história do início do século XX, as vibrações do éter das novas descobertas científicas eletromagnéticas e as ambíguas relações de amor e dor que marcaram sua vida.
Ainda assim — como sugerem os historiadores da arte Elio Grazioli e Øivind Lorentz Storm Bjerke —, é justamente nessa repetição contínua e nos experimentos visuais com filme e fotografia que encontramos a chave para entrar no Tempo de Munch. O que permanece é uma busca por salvação, uma abertura para os espíritos, para os fantasmas que nos cercam, “com moléculas leves e intangíveis”
Serviço
“Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras” (“Munch: Love, Ghosts and Lady Vampires”), de Michele Mally
Estreia nos cinemas brasileiros dia 11 de dezembro de 2025