Poltrona Cabine: Sobreviventes/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Sobreviventes/Cesar Augusto Mota

Fazer um recorte da realidade é sempre um desafio para o realizador, pois necessita equilibrar o que é real e fictício. E como seria se a narrativa fosse praticamente em apenas um ambiente e com personagens tão diferentes? “Sobreviventes”, de José Barahona, traz um filme de época e com bastante imersão, com muitas discussões filosóficas sobre a existência humana e as regras que regem o convívio social. Foi bom o resultado?

Um grupo de náufragos, tanto brancos como negros, ficam isolados em uma ilha no século XIX. Sem estrutura ou leis pré-determinadas, eles se veem em meio a alguns dilemas: reproduzir as hierarquias do passado ou estabelecer uma nova forma de conviver? É possível estabelecer uma sociedade democrática após um regime de escravidão e o uso intenso de violência?

Debates sobre feminismo, costumes e como o ser humano pode ser incoerente ditam o tom da obra, e tudo isso é possível perceber pelos personagens, como um escravo, um aristocrata que deseja amar e duas mulheres, mãe e filha, que exercem importante papel a partir do momento em que desenvolvidas na trama. Julgamentos são feitos pelas ações dos protagonistas e também pelos silêncios deles em momentos mais críticos.

Há um perfeito enquadramento, com uso de cores frias, e todo o cenário faz o espectador acreditar que tudo ali é real. Os comportamentos ali retratados ilustram como o ser humano pode ser cruel e como o caráter pode mudar conforme a conveniência e oportunidade, sobre ser esperto, racional ou justo. Surgem relações improváveis e até mesmo laços de amizade são estabelecidos em um cenário bastante intimidador.

O elenco é coeso, as atuações são fortes e há uma sensação de realismo em tudo o que foi mostrado nos cenários e nas atitudes dos personagens. E retratar a escravidão foi extremamente importante, tendo em vista um período tão obscuro, que deixou sequelas e como as graves consequências a sociedade sente até hoje. Um período que muitos tentaram esconder e que precisava ser relembrado, tendo em vista os preconceitos e as injustiças que ainda persistem no nosso cotidiano.

“Sobreviventes” é envolvente, impactante e filosófico. Um contexto que mexe com as emoções, uma obra necessária.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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