Maratona Oscar: Zona de Interesse/Flávia Barbieri

Maratona Oscar: Zona de Interesse/Flávia Barbieri

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Zona de Interesse: Uma Jornada Fotográfica Entre a Beleza e o Horror

Por Flavia Barbieri

“Zona de Interesse” me transportou para um período sombrio da história, onde a beleza e a crueldade coexistiam de forma perturbadora. A fotografia impecável do filme captura a vida cotidiana em Auschwitz, contrastando-a com os horrores que se desenrolam nos campos de concentração.

Ao invés de focar na violência explícita, o diretor Jonathan Glazer nos leva a uma jornada sensorial, onde sons e imagens sutis evocam a brutalidade da época. Senti calafrios ao ouvir os gritos distantes e presenciar a indiferença dos nazistas diante do sofrimento humano.

A história de amor proibida entre um oficial nazista e a esposa de um comandante do campo de concentração adiciona uma camada complexa à narrativa. A paixão deles se desenvolve em meio à atrocidade, criando uma tensão constante e um questionamento sobre a natureza humana.

A fotografia do filme é um espetáculo à parte. A escolha de cores frias e desbotadas, em contraste com a exuberância da natureza e a arquitetura imponente, cria uma atmosfera melancólica e surreal. A câmera se detém em detalhes, como flores brotando em meio à terra árida, ou pássaros cantando em um céu nublado, contrastando com a brutalidade do ambiente.

O uso do som é outro elemento crucial para a experiência sensorial do filme. A trilha sonora minimalista é quase imperceptível em alguns momentos, dando lugar ao som ambiente: o vento soprando nas árvores, o canto dos pássaros, o ranger das botas dos soldados. Essa escolha nos coloca na perspectiva dos personagens, obrigando-nos a sentir o peso do silêncio e a angústia da situação.

O filme não se limita a apresentar uma visão binária do bem e do mal. Os personagens são complexos e multidimensionais, mesmo aqueles que ocupam posições de poder dentro do regime nazista. A história de amor proibida entre o oficial SS e a esposa do comandante do campo é um exemplo dessa ambiguidade moral.

Um dos aspectos mais perturbadores do filme é a indiferença com que os nazistas tratam o sofrimento alheio. Os personagens SS se comportam como se estivessem cumprindo uma tarefa banal, sem qualquer empatia pelas vítimas. Essa indiferença torna-se ainda mais cruel quando contrastada com a beleza da natureza e a inocência das crianças que vivem à sombra do horror.

“Zona de Interesse” nos convida a questionar a natureza humana em suas nuances mais complexas. Como a compaixão pode coexistir com a crueldade? Como o amor pode florescer em meio ao ódio? É possível encontrar beleza em um mundo dilacerado pela guerra?

Este filme não se propõe a ser apenas um entretenimento. É uma obra de arte que provoca reflexões profundas sobre a história, a ética e a natureza humana. É um convite à compaixão, à justiça e à luta contra o ódio e a indiferença.

Não é um filme fácil de assistir, mas é uma obra de arte importante que nos confronta com a crueldade do passado e nos convida a refletir sobre a importância da compaixão e da justiça. Recomendo este filme a todos que desejam ir além do entretenimento e se conectar com a história de forma profunda e significativa.

O filme “Zona de Interesse” está concorrendo a 5 prêmios no Oscar 2024:

  • Melhor Filme
  • Melhor Filme Internacional (representando o Reino Unido)
  • Melhor Direção (Jonathan Glazer)
  • Melhor Roteiro Adaptado (Jonathan Glazer, baseado no livro de Martin Amis)
  • Melhor Som (Tarn Willers, Johnnie Burn)

Outras premiações:

  • Festival de Cannes: Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional (FIPRESCI)
  • Chicago Film Critics Association Awards: Vencedor de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Adaptado e indicado para Melhor Atriz Coadjuvante (Sandra Hüller), Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora Original
  • National Board of Review: Selecionado como um dos dez melhores filmes de 2023.

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