Maratona Oscar: Io Capitano/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Io Capitano/Cesar Augusto Mota

Apresentar um tema de forte contexto histórico e social com o auxílio da ilustração de uma jornada épica recheada de calvário e sem abusar do sensacionalismo é um verdadeiro desafio para qualquer realizador, mas pode funcionar se forem empregados os elementos adequados. O cineasta italiano Matteo Garrone utiliza essa premissa em seu mais novo filme, ‘Io Capitano’ (Eu, Capitão), premiado com o Leão de Prata no Festival de Veneza e indicado ao Oscar na categoria melhor filme internacional.

Acompanhamos a vida sofrida do jovem Seydou (Seydou Sarr), 16 anos, que divide espaço com a mãe e os irmãos em uma casa em ruínas localizada em Dakar, no Senegal. Disposto a ajudar sua família a mudar de vida, ele resolve partir para a Europa juntamente de seu primo Moussa (Moustapha Fall), mas sem avisar ninguém e após a benção de um líder religioso. Essa jornada se inicia em Dakar, passa pela Líbia e o objetivo é chegar à Itália via Mar Mediterrâneo.

A crise migratória africana que leva deslocados internacionais para o sul da União Europeia é utilizada como pano de fundo na narrativa, mostrando muito desespero e dor dos emigrantes, que enfrentam tortura, trabalhos forçados e até mesmo a prisão em busca do sonho de vida na Europa, retratada como terra prometida. Elementos místicos também ganham espaço, como fé, esperança e ícones que representam a religião do Senegal. Mas o ingrediente principal e que cativa o espectador está no protagonista, Seydou, que precisa passar por várias provações em busca de seu sonho.

O jovem senegalês começa a jornada de maneira tímida, mas com o incentivo de Moussa ele amadurece diante da tela e toma as rédeas da situação arriscada na qual ambos se colocaram, de conseguirem chegar à Sicília, na Itália, em meio ao desespero e à violência. Após passarem pelo deserto de Dakar e chegarem à Líbia, Seydou passa a ser responsável não só por ele e seu primo, mas por dezenas de pessoas, dentre eles mulheres e crianças, ao assumir o comando de um barco, mesmo sem saber nadar e desprovido de experiência.

O amadurecimento e transformação de Seydou, bem como as cenas de terror e violência são pontos altos do longa-metragem, mas sem esquecer os momentos de bondade dos seres humanos, como a ajuda mútua entre os deslocados e a apresentação de paisagens inspiradoras. O ponto negativo está em apontar a Itália como um paraíso e ao mesmo tempo uma solução para a vida das pessoas que se deslocam da África. O país exerce forte influência na crise migratória mencionada anteriormente, faltou um olhar mais crítico para a Itália e toda a comunidade europeia.

‘Io Capitano’, ao ser colocado na balança, pende para o lado positivo e vem forte no Oscar com chance de ser apontado como melhor filme internacional. Vale assistir.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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