Maratona Oscar: American Fiction/Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: American Fiction/Cesar Augusto Mota

Abordar situações do cotidiano e ser um sucesso de crítica é um cenário desejável para todo escritor, mas e quando não há retorno comercial? O que fazer? Dever se adequar às exigências do mercado ou insistir e não abrir mão de suas convicções? Uma situação como essa será abordada em mais uma produção postulante ao prêmio de melhor filme no Oscar 2024. ‘American Fiction’, escrita e dirigida por Cord Jefferson, é considerada uma dramédia satírica e tem dado o que falar.

Inspirado no romance ‘Erasure’ (apagamento, em tradução livre), de 2001, de Percival Everett, a narrativa se concentra em Thelonius Ellison (Jeffrey Wright), o Monk, um escritor negro inconformado com a rejeição de seus últimos três livros por parte das editoras. Inconformado em como a literatura retrata as pessoas negras, como escravos, criminosos ou vítimas de violência policial, Monk resolve produzir uma sátira sobre esse mercado editorial e o racismo institucional existente, mas não esperava que sua publicação iria ser comprada por uma grande editora.

Jefferson nos apresenta a um personagem que transita pela inteligência, frustração e bom humor, com um professor e escritor disposto a defender seu ponto de vista e ao mesmo tempo ciente de que está nadando contra a maré em um mercado que se acostumou em retratar os negros em situações alarmantes. O roteiro é linear, ilustra um protagonista de arco altamente dramático, em situações de pressão contra parede, com destaque para o momento em que Monk conhece a romancista Sintara Golden (Issa Rae), cujo livro ‘’We´s Lives in Da Ghetto’ reforça os estereótipos dos negros há muito tempo retratados, sempre em posições vulneráveis. Mas Monk também encontra apoio em sua família, principalmente do irmão Cliff (Sterling K. Brown), que funciona como um excelente dinâmico do protagonista e brinda o espectador com ocasiões insanas e cômicas.

O público se revolta e compra a ideia de Monk, tendo em vista se tratar de um protagonista de alta carga intelectual, de personalidade forte e que observa o mundo com certo estranhamento e distância. E na medida em que a história se desenrola, Monk se fortalece ainda mais e percebe que não está sozinho, mas ele sabe que precisa ter cuidado com sua alta sinceridade, que pode não lhe fazer bem, com risco de conflitos com pessoas queridas e altos executivos de empresas grandes. Jeffrey Wright cumpre muito bem o papel que lhe foi dado, de fazer críticas duras e construtivas a um mercado editorial consolidado e ainda altamente preconceituoso, com um protagonista de pulso firme e que não hesitou em chutar o balde.

Cord Jefferson fez um filme oportuno, que cutuca um grande vespeiro e que traz esperanças. Ainda há muito o que se fazer contra o preconceito e o racismo, é preciso ter coragem e nunca desistir, avanços estão aos poucos acontecendo, mas é apenas o começo.

‘American Fiction’ concorre ao Oscar 2024 em cinco categorias, de melhor filme, ator, ator coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora original.

Cotação: 4,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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