‘THE HOLDOVERS/OS REJEITADOS’: UM FILME HUMANO E COMOVENTE, QUE PERTENCE A UM OUTRO TEMPO *****
Atenção: você vai entrar numa máquina do tempo. A partir do momento em que o antigo logotipo da Universal Pictures aparece na tela, por pouco mais de duas horas, você será levado para o começo dos anos 1970 e verá um filme como nenhum outro feito hoje em dia. Um filme dedicado aos personagens, com um excelente roteiro e atuações.
‘Os Rejeitados’ (‘The Holdovers’, de Alexander Payne) é um dos melhores filmes que vi recentemente. Fiquei satisfeito da primeira à última cena, da primeira à última fala. Porque os personagens são cativantes e muito bem dimensionados. O filme se passa na virada do ano de 1970 para 1971 (em si, é um filme natalino, de festas) e parece que é realmente uma produção daquela época (até na fotografia granulada), que foi encontrado em algum cofre. Não fosse pela presença de Paul Giamatti, no melhor papel de sua vida (não à toa, está acumulando prêmios por ele, e não será surpresa alguma se também levar o Oscar), não diríamos que ele é de 2023.
Giamatti faz Paul Hunhan, um professor rabugento (mas de boa índole), que passa duas semanas isolado num colégio de garotos ricos. A princípio, seria um grupo maior. Mas, depois, ele fica confinado apenas com um desses, Angus (o estreante Dominic Sessa, que soa bastante promissor aqui) e a cozinheira Mary (Da´Vine Joy Randolph, premiada com Globo de Ouro, ótima). Os três acabam formando uma família improvável.
É uma história humana e comovente, e muito bem escrita, que não usa nenhum truque barato ou agenda forçada, como quase tudo, hoje em dia. E, sutilmente, mostra como os rapazes ricos e de boa família, escaparam de ir para o Vietnã. Parece um filme do Hal Ashby (‘Harold & Maude, ensina-me a viver’), no ritmo, na fotografia (parece película 35mm, mas é digital), na boa mistura de melancolia e humor. No fim, nos apaixonamos pelos personagens e ficamos comovidos. Por mim, seria o premiado com o Oscar principal, sem dúvida alguma. TOM LEÃO